Imagem de rodeio incrimina gangues

Circuito interno ajuda a apurar origem de tumulto que terminou com quatro mortes; Justiça cancelou os shows

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Por Tatiana Favaro e JAGUARIÚNA

A organização do Jaguariúna Rodeo Festival, em Jaguariúna, região Metropolitana de Campinas, informou ontem que imagens gravadas pelo circuito interno de segurança indicam a possibilidade de um confronto entre duas gangues ter provocado a confusão, na qual morreram pisoteadas quatro pessoas e ao menos outras 11 ficaram feridas na madrugada do último sábado. A briga entre os grupos teria começado em um dos corredores que dava acesso à arena do complexo de eventos. O secretário de Comunicação de Jaguariúna, José Orlando Dutra Santos, disse que as imagens foram disponibilizadas para a comissão formada por representantes do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Crea), da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e do Corpo de Bombeiros, que ajudará nas investigações. "Eu tive informação de que realmente foi isso que aconteceu, o enfrentamento de duas gangues. Só não posso garantir, porque não vi as imagens." A comissão esteve no local do acidente anteontem. O prefeito de Jaguariúna, Gustavo Reis, que responde pelo grupo, não foi localizado para comentar o assunto. As imagens foram recolhidas pelas autoridades. A Assessoria de Imprensa do evento informou ontem desconhecer o destino do material. Segundo a Secretaria de Estado da Segurança Pública, o tumulto começou em um dos corredores que dão acesso à arena, próximo do palco, por volta de 2 horas, quando um grupo de pessoas tentava entrar e outro, sair do show. A confusão teria durado aproximadamente dois minutos. Diferentemente do que ocorria nos anos anteriores, a segurança interna do evento foi feita por uma empresa particular. A assessoria do evento não soube informar o número de homens responsáveis pela segurança no local nem o motivo da mudança no sistema. A Polícia Militar - que em anos anteriores trabalhou dentro e fora do evento - ficou responsável somente pela segurança externa nesta edição. A organização informou que havia cinco acessos diferenciados (com entrada e saída) para o público que estava na arena, quatro acessos para a ala VIP e outros quatro para cada um dos camarotes. Além disso, o tamanho das passagens e toda a estrutura do evento estariam de acordo com as exigências do Corpo de Bombeiros e do Crea, segundo a assessoria do evento. A capacidade do complexo era para 30 mil pessoas. No dia do acidente, havia 27,2 mil visitantes. Ontem foi desmontada parte da estrutura. Os shows que estavam programados da dupla Victor e Léo e do cantor Roberto Carlos foram cancelados, por meio de determinação do juiz Fabrício Reali Zia, de Amparo, que acatou pedido do Ministério Público de Águas de Lindoia. A organização do evento afirma que as apresentações serão remarcadas. O departamento jurídico do evento tem hoje uma reunião com os órgãos públicos competentes para definir a nova data e a política de troca de ingressos ou ressarcimento. ENTERRO A família do representante comercial Ariel Toroni Avelar, de 18 anos, uma das quatro pessoas que morreram pisoteadas durante o tumulto, informou após o enterro do rapaz ontem que vai buscar orientação e estudar medidas judiciais cabíveis contra a organização do evento. "Isso não pode ficar impune", disse uma tia do rapaz, a pedagoga Renata Azevedo de Carvalho, de 49 anos, no Cemitério Parque das Aleias. Amigos e parentes de Avelar acompanharam indignados o velório e o enterro. A mãe, Jaqueline, estava muito abalada e não deu entrevistas. "Não conseguimos pensar direito em como vamos fazer para isso não ficar assim", disse Carolina Machado, de 28 anos, prima da vítima. "Ainda temos de ter mais informações sobre o que ocorreu, porque tudo o que ficamos sabendo até agora foi por amigos e pela imprensa", disse. Avelar era filho único e morava com a mãe e a avó em Campinas. "Está todo mundo revoltado. Ele era muito tranquilo, não fumava, não bebia, nunca estava em confusão", disse outra prima, Fernanda Avelar, de 29 anos. A vítima saiu de sua casa em Campinas, na noite de sábado, com outros três amigos. Ele estaria sozinho na hora do tumulto. Os amigos disseram que Avelar teria ido ao banheiro e, na volta, passava perto do local do tumulto. Além dele, as estudantes Vivian Montagner Contrera, de 18 anos, Giovana Peretti, de 28, e Andréa Paola Machado de Carvalho, de 19, morreram, após serem pisoteadas pela multidão. Elas tiveram parada cardiorrespiratória e chegaram a ser socorridas pelas equipes médicas do evento, mas morreram no Hospital Municipal Walter Ferrari, em Jaguariúna. HOMICÍDIO CULPOSO Para o advogado criminalista Tarcísio Germano de Lemos, não é necessário um processo criminal para um futuro pedido de indenização - embora seja possível que a empresa organizadora seja processada por homicídio culposo. "Para caracterizar esse crime é necessário ter havido imprudência, negligência ou imperícia", afirmou Lemos. "Pode ter havido negligência no caso de não haver possibilidade de evacuação rápida, pelo número de pessoas no local. Ou, se houve mesmo uma briga de gangues, pode ser configurada negligência, por não haver fiscalização na entrada desses supostos grupos", afirmou o advogado. REEMBOLSO Detalhes da devolução: A organização do Jaguariúna Rodeo Festival informou que negocia novas datas para as apresentações canceladas, da dupla Victor e Léo e de Roberto Carlos - que já havia sofrido um cancelamento em data anterior. Prazo: A política de devolução dos ingressos será definida hoje, após reunião do departamento jurídico do evento com órgãos competentes. Foi colocado um telefone para esclarecimentos: (19) 3867-7000

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