A primeira noite de desfiles das principais escolas de samba do Rio de Janeiro, que começou às 22h de domingo, 11, e terminou às 5h50 desta segunda-feira, 12, teve sustos, acidente, luxo, tecnologia e animação. A única exibição praticamente irretocável foi da atual campeã, Imperatriz Leopoldinense, que é candidata ao bicampeonato. No outro extremo, a Porto da Pedra teve problemas com dois carros alegóricos e é séria candidata a ser rebaixada. Confira os principais destaques desta primeira noite na Sapucaí.
Porto da Pedra
A primeira escola a se apresentar foi a Porto da Pedra, agremiação de São Gonçalo (município da região metropolitana do Rio) que, depois de 12 anos na segunda divisão, voltou à elite com o enredo “O Lunário Perpétuo: a Profética do Saber Popular”, em que discorreu sobre o livro “Lunário Perpétuo”, escrito em 1594 pelo matemático espanhol Jerónimo Cortés (1560-1610).
Trata-se de um almanaque que reúne conselhos e orientações sobre os mais variados aspectos da vida, incluindo tabelas das fases da lua, dos eclipses do sol e das festas populares, previsão do tempo, horóscopo, dicas de direito, navegação, teologia, saúde, agricultura, maneiras de interpretar o comportamento dos animais, biografias de santos e papas e outros dados de interesse geral. Publicado pela primeira vez em língua portuguesa em 1703, foi um dos livros mais populares no Brasil, principalmente no Nordeste, durante muitas décadas.
A escola apresentou fantasias e alegorias muito luxuosas e fazia um desfile bastante animado, mas problemas com dois carros alegóricos – o primeiro e o sexto e último – comprometeram completamente a exibição. O abre-alas quebrou bem em frente a uma das cabines de jurados – depois conseguiu seguir pela pista e encerrar o desfile, mas provavelmente o episódio vai causar perda de pontos.
O último carro alegórico era tão grande que não estava conseguindo fazer a curva necessária para entrar na pista de desfile. Durante a tentativa de manobra, a lateral direita do carro bateu numa grade que separa a pista da área destinada à imprensa e a outros profissionais que trabalham no evento. Uma mulher foi atingida pelo carro e sofreu escoriações. Levada ao posto médico do sambódromo, recebeu atendimento e foi liberada. Segundo integrantes da Porto da Pedra, a mulher – cujo nome não foi divulgado – ficou com hematoma numa das pernas e dores nas costas, mas passa bem.
A dificuldade para manobrar o carro alegórico causou um buraco de mais de 100 metros no desfile da Porto da Pedra, o que certamente também vai gerar perda de pontos. Para que a alegoria entrasse na pista, foi preciso arrancar elementos que estavam na lateral direita. Também foi necessário desconectar a alegoria, inicialmente composta por três partes. Só a primeira foi para a avenida – as duas outras ficaram na concentração e não desfilaram. Com tantos problemas, a escola corre sério risco de voltar à segunda divisão.
Beija-Flor
A segunda escola a desfilar foi a Beija-Flor, que apresentou o enredo “Um Delírio de Carnaval na Maceió de Rás Gonguila”. A escola de Nilópolis (Baixada Fluminense) partiu da história de Benedito dos Santos, engraxate que criou um bloco de carnaval em Maceió e se dizia descendente de um príncipe etíope. A escola fez um desfile luxuoso e animado, mas não chegou a empolgar o público.
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Salgueiro
A terceira agremiação a se exibir foi o Salgueiro, que discorreu sobre o povo indígena yanomami. A escola fez um desfile correto, mas o samba, que despontava como um dos melhores do ano, não empolgou o público.
Grande Rio
A quarta escola a se apresentar foi a Grande Rio, de Duque de Caxias (Baixada Fluminense), que expôs o enredo “Meu destino é ser onça!”, que discorre sobre o animal a partir de um livro homônimo do escritor Alberto Mussa.
A agremiação distribuiu pulseiras de led para o público e manipulou a iluminação do sambódromo para destacar alegorias e fantasias da primeira parte do desfile, quando o preto e a luz negra predominaram. A estética da escola impressionou, mas o samba não empolgou nem mesmo os componentes da escola – a reportagem flagrou foliões de várias alas que não cantavam.
Unidos da Tijuca
A quinta agremiação a se exibir foi a Unidos da Tijuca, escola da Tijuca (zona norte do Rio) que contou a história de Portugal com o enredo “Conto de Fados”. Foi um desfile correto, mas monótono – a mesma história já foi contada em vários outros desfiles, inclusive da própria Tijuca em 1990 – , e o público não se empolgou.
Imperatriz Leopoldinense
A última escola a se exibir foi a Imperatriz Leopoldinense, atual campeã. Com o enredo “Com a sorte virada pra lua segundo o testamento da cigana Esmeralda”, a escola de Ramos (bairro da zona norte do Rio) partiu da obra de um cordelista, Leandro Gomes de Barros, para falar sobre previsões, sorte, azar e o futuro da própria Imperatriz.
O samba, que resultou da junção de duas composições concorrentes, empolgou o público. Fantasias e alegorias foram de fácil compreensão, como é habitual na obra do carnavalesco Leandro Vieira. Com vestimentas leves, os integrantes puderam cantar e dançar com liberdade.
Houve um único problema numa alegoria, que foi levemente danificada pelo movimento incorreto dela própria. Apesar disso, a escola foi muito superior às demais que desfilaram na primeira noite de exibições.
A partir das 22h desta segunda-feira vão se exibir as outras seis escolas do Grupo Especial: Mocidade Independente de Padre Miguel, Portela, Unidos de Vila Isabel, Mangueira, Paraíso do Tuiuti e Unidos do Viradouro. Veja os enredos e a programação aqui.
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