Implicâncias

Colunista comenta suas implicâncias com o Dalai Lama e Ingrid Betancourt.

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Por Ivan Lessa

Esse Dalai Lama não me parece lá muito católico. Meu santo não bate com o dele. Entende? Entendje? Para adotar a pronúncia carioca. O mesmo carioca que acrescentaria às duas frases: é uma coisa de pele. Nós, brasileiros, assim como todo mundo, temos muita dessa coisa de pele. Nossas peles não são só eczema, cravo ou espinha. Essa coisa de pele é no sentido de que foge à uma explicação razoável. Ou intelectualmente defensável. Nada tem a ver com uma ponderação serena dos fatos. Fatos não merecem ponderação quanto mais serena. Dita a frase beirando o preconceito, tenta-se um arrazoado por mais simples que seja. A carne, a pele, é fraca. Para continuar com o Dalai Lama. A pessoa que recebeu a sentença no meio da testa, por certo perguntará: - Uai, sô, pruqê? Me esqueci de dizer que eu me dirigi a um mineiro. Gente de que gosto. Coisa de pele. Volto, meio sem graça, à tentativa de explicação. - Uai, sô, não lê os jornais? Nesta altura do campeonato, ou nesta altura dos Jogos Olímpicos de Pequim, o homem recusou-se a aceitar a conclamação de sua gente pedindo um boicote da competição dizendo, e cito-o literalmente, que "o povo chinês precisa se orgulhar dos jogos. A China merece ser o país anfitrião." Já viu? Isso depois de o líder espiritual tibetano amargar - ou será adoçar envolto em rubros mantos? - desde 1959. Sou prolixo. Sou chato. Quem mandou o mineirinho vir me cutucar de vara curta. Não é a primeira vez que vejo o Sr. Lama defender a China. Fogo. *** Outra implicância furiosa recente: Ingrid Betancourt. Num güento. Num güento mesmo. Estou por aqui de ver fotos da senhora em questão com o olhar etéreo voltado para um infinito que só ela distingue e onde todos os anjos se entretêm numa coreografia só para ela de uma dança folclórica franco-colombiana qualquer. Outro dia, foi a Lourdes. Talvez pagando promessa. Ou para provar de suas águas, tidas como superiores às de Barranquilla e de São Lourenço. Seguramente nada a ver com rezar pela libertação das outras centenas de reféns mantidas pelas Farc. Curioso que não vi ninguém nos jornais daqui sequer ameaçar contestar seja lá o que for dessa nova incarnação de Bernadette Soubirou em suave, ou demoníaco, cruzamento com Joanna D´Arc, Simón Bolívar e o Pazuzu, de O Exorcista. Só mesmo um artigo do início de julho do esplêndido Janio de Freitas, na Folha de São Paulo, dava mais que uma pala da história. Depois de estabelecer que nada mais justo que os festejos, Janio de Freitas chamava a atenção dos leitores (que espero tenham sido e continuem sendo muitos) para as "manipulações por intermédio dos chamados meios de comunicação". Janio de Freitas, entre suas inúmeras qualidades, não é homem de escrever "mídia". O articulista, e não repito seu nome porque, tragicamente, assim me ensinaram nas redações, prossegue citando o possível número de reféns ainda mantidos pelas Farc, que oscilariam entre 200 a 800. E prossegue: "Se, nas centenas de reféns, não constam outras duplas nacionalidades francesas, azar o deles." Ingrid, que logo se mandou para Paris, após preocupantes relatos sobre seu estado de saúde, em lá chegando foi logo declarando ainda no aeroporto em francês fluente (estudou e se casou lá, afinal) que estava muito bem e só iria fazer uns exames médicos de rotina. Dava para ver, e se estranhar, que, em seu aspecto físico externo, estava muito bem. No interno, deveria estar flutuando entre anjinhos, santos e santas. Feito o checápi, mandou-se para Lourdes, ou Lurdes, se preferirem. Sempre posando com o olhar doce dos iluminados, ou possessos, para as objetivas que a acompanharam na sagrada peregrinação. Num güento, ocê, Ingrid. Num güento mesmo. Passar bem. Mas longe das páginas de jornais. Tenho outras gentes com que implicar. Não, companheiro blogueador, não precisa apontar para o fato de que eu tive de recorrer a um articulista brasileiro para embasar (arrâm!) minha implicância. Nesse terreno, ou terreiro, vale o coringa e outros caboclos. Embora eu saiba muito bem que não deveria ficar dando satisfação a ninguém. *** Então enumero outras solenes implicâncias sem dar maiores satisfações. Só as mínimas necessárias para não ser indiciado no Brasil. Ou no Reino Unido. O primeiro-ministro Gordon Brown. A falta de carisma chegou lá e armou sua tenda. Bem ao lado do armazém da incompetência. Prosseguindo. Amy Winehouse. É, eu sei, é muita falta do que fazer implicar com essa pobre dessa moça pop. Mas não dá para ver foto, clipe ou qualquer coisa dela. E que o pai da jovem que se diria, se soubesse o que Ingrid sabe de francês, chanteuse não me venha com essa história de enfisema. Falo de cadeira, quase de rodas, pois sofro de enfisema há quase dez anos. Se ela tivesse um tico de enfisema numa quina de seus gentis pulmões não daria para subir a escada que a leva ao palco. Juro. Angelina Jolie. Não acredito que aqueles lábios tenham nascido com ela. Bota um colágeno aí, amizade, deve ter pedido ao cirurgião plástico das estrelas. Botox, nip aqui e tuck ali, sem dúvida. Mesmo assim, grávida de gêmeos milionários e tudo, não dava para disfarçar aquele corpinho sem cintura de garoto, aquela bundinha magra, aqueles palitos de pernas. Como cantarolávamos quando guris: "Josefina da Fonseca, perna fina, bunda seca". Os filmes estão aí. Infelizmente. É só conferir. Brad Pitt? Não tô nem sabendo. Esse é pra fazer paredinha entre ela e a - no caso, vale - mídia. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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