Jornalismo de Reflexão

Olga do Brasil: "Vocês não sabem o que é uma guerra"

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Por Morris Kachani

Em seu canal no YouTube, com mais de 640 mil seguidores, Olga Kovalenko se apresenta como 'a russinha mais brasileira do mundo'.

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Os vídeos são sobre a cultura de seu país e as diferenças em relação ao Brasil, apresentados em uma linguagem bem-humorada de "gringa russa", com um sotaque acentuado de quem começou a aprender a língua portuguesa há três anos, quando aportou por aqui.

Nesta entrevista, Olga conta sobre suas origens, sobre semelhanças e diferenças entre os valores morais e éticos de brasileiros e russos, e a percepção sobre a guerra.

Assista à entrevista: https://youtu.be/-R-DcZF0v3k

"Oi. Meu nome é Olga, moro no Brasil há 3 anos e pouco, tenho um canal no Youtube sobre as diferenças culturais e a visão de uma gringa russa do Brasil. (...) Tem tantas coisas aqui absolutamente, radicalmente, diferentes do meu país, do meu mundo, e eu estou aproveitando isso gravando vídeos sobre viagens aqui, sobre diferentes cidades daqui, sobre diferentes costumes, comidas, várias coisas"

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"Para um russo, vir para a América do Sul é uma coisa grande, séria. No começo tudo era meio alienígena...Não sei se os brasileiros sabem, mas é um lugar com um povo muito diferente, com costumes bem especiais. Um planeta com vários países dentro. Isso não funciona assim na Rússia, lá em todas as regiões todo mundo fala igual, a comida também, as pessoas agem parecido, não tem muita diversidade como no Brasil, entre as regiões, estados"

"O povo russo é muito diferente, mas há alguns aspectos parecidos com os brasileiros. Até os seguidores do canal falam que os russos e os brasileiros são irmãos ou primos distantes, do outro lado do planeta. Até tem esse provérbio de que "a Rússia é uma Paraná europeia".

"As pessoas veem a literatura russa e se surpreendem, "ah, mas os russos são tão sérios?". Você acha que tudo que está nos livros é imaginação? Não é. A literatura representa o povo, as histórias são verdadeiras"

"Vídeos que bombaram mais são do tipo, "10 costumes brasileiros que eu gostaria de levar para a Rússia". Por exemplo, eu gostaria de levar para a Rússia o jeito de não levar tudo tão a sério e aprender a passar os problemas e perrengues da vida de maneira mais leve. Os brasileiros têm a habilidade de aproveitar a vida, não passar sofrendo todas as noites em casa.

Nesse meu vídeo, o comentário mais popular, mais curtido, foi de uma mulher que escreveu que as russas falam, "nossa, falta o homem leve e com bom humor aqui na Rússia" e as brasileiras falam "nossa, falta um homem sério às vezes para mim""

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"É bem complicado entender a guerra, especialmente para quem não tem nenhuma conexão, parentes ou amigos na Rússia ou na Ucrânia. Você não sabe exatamente qual mídia você pode ler, como funciona. No Brasil as pessoas assistem TV, na Rússia não, na Rússia a TV tem que ser permitida pelo governo "

"Sinto dor. Eu não sei se alguém que está assistindo isso sabe o que é guerra - não do cinema ou dos jogos ou dos livros, na vida realmente. Não é você ver na TV, desligar e ir para a rua fazer as suas coisas. Agora eu moro nesse filme de terror"

"Passamos pela primeira guerra mundial, pela segunda guerra mundial. O povo russo é um povo sofrido. As pessoas, os costumes e como as pessoas se comportam, as "regras invisíveis" da vida e tudo mais são sempre baseadas nessa experiência. Esses jeitos são todos explicados porque é um povo que tem medo de permitir erros, de tomar decisões rápidas, porque tem medo do que vai acontecer amanhã, tem medo de não estar preparado, medo do desconhecido - por isso são tão sérios"

"Não sei se podemos chamar de isso de "medo" - mas de desconfiança, sim. São coisas parecidas, mas com algumas diferenças"

"Eu acho que todo mundo sabe o que aconteceu com a última oposição na Rússia. Essa oposição chegou e foi para a prisão direto".

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"Mais da metade dos meus amigos saiu da Rússia. Desde o começo de fevereiro deste ano até agora, cerca de 4 mil jovens já saíram da Rússia"

"Um país que tem o mesmo presidente por mais de 22 anos. O que esperar? Vocês têm eleições de quatro em quatro anos; fico pensando em como conseguem decorar tantos nomes de presidentes. Nós decoramos apenas um há 20 anos".

 

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