Por Juliana Cunha Lima Neves e André Dominguez do Carmo
"Quando eu era presidente da República eu dizia, eu vou voltar para onde eu vim e eu sei quem são meus amigos eternos e quem são os amigos eventuais [...] Quem estão comigo são aqueles companheiros que eram meus amigos antes de eu ser presidente da República" - Trecho do discurso do ex-presidente Lula em frente ao sindicato dos metalúrgicos do ABC, em 7 de abril de 2018.
O Sindicato dos Metalúrgicos do ABC ocupa um lugar especial no imaginário (e na realidade) do brasileiro.
Foi lá que Luiz Inácio Lula da Silva, retirante nordestino e torneiro mecânico, despontou como líder sindical, orquestrou a famosa greve de 1979, que lotou de trabalhadores o estádio de Vila Euclides, desafiou a ditadura militar com apoio de segmentos de esquerda da igreja católica e fez de São Bernardo o centro político do Brasil. Nos "anos dourados" do ABC, Lula tornou-se o símbolo máximo do sindicalismo para, mais adiante, alcançar o topo da elite política de um país e ocupar a presidência da República.
Lula, que fazia parte de uma leva de migrantes que tinham largado o Nordeste à procura de oportunidades em São Paulo. Em 1966, ele se empregou nas Indústrias Villares. Dois anos depois, inscreveu-se no sindicato. Em 1975, foi eleito presidente deste sindicato com 92% dos votos e na posse, vestiu-se de gravata e colete, o que foi considerado uma afronta na época.
Em 1980, ele fundava o Partido dos Trabalhadores junto com sindicalistas, artistas e católicos ligados à Teologia da Libertação, que faziam oposição à ditadura militar. O partido foi resultado da aproximação entre os movimentos sindicais do ABC, que organizaram as grandes greves, com militantes tradicionais da esquerda brasileira: ex-presos políticos e exilados cujos direitos foram devolvidos pela lei de anistia.
Com a ordem de prisão expedida pelo juiz Sergio Moro, logo após o julgamento do habeas corpus, o ex-presidente faz um desvio de Curitiba e volta "para casa". Entre os dias 5 e 7 de abril, ele se abriga, em ato de resistência e resignação, no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo, onde foi recebido pelo seu atual presidente e amigo Wagner Firmino de Santana.
O rito de passagem do metalúrgico que conquistou a presidência da República e terminou condenado e preso pela justiça de seu país a uma "ideia abstrata" não foi mero retorno às origens, mas uma tentativa desesperada de sobrevivência social por meio de um passado glorioso, o do ABC da greves, do habitus metalúrgico e de um estado de liberdade e sonho de quem tem a vida e a luta pela frente. Nada disso tem mais volta.
O cenário da despedida com a missa, o povo, os companheiros, o palanque em frente ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, onde o ex-presidente discursou para um número bem menor de pessoas, se comparado aos seus tempos áureos de líder sindical, a trilha sonora ao fundo, ironicamente apelidada de Lulapalloza, revelou um mundo em declínio, mas que não sucumbiu ainda por completo. Daí o transe angustiado que o evento promoveu.
Quando Lula decide se entregar à PF de Curitiba e é carregado pelo povo, o êxtase foi convertido de vez em melancolia. Naquele instante, mais do que o desaparecimento de um universo, o que se concretizava, na verdade, era o fim de uma "estrutura de sentimento". Nesse novo mundo, em transição, o movimento sindical em São Bernardo é muito menor, mas ainda existe.
Em meados de 1980, o ABC contava com cerca de 159 mil metalúrgicos, dos quais 45% eram sindicalizados. Eram tempos difíceis, de repressão militar, em que artistas e intelectuais trabalhavam no combate à desigualdade e o bispo de São Bernardo Dom Claudio Hummes rezava em coro, no clima da Internacional, o "Pai Nosso" com metalúrgicos em assembleias. Os sindicalistas daquele momento "eram muito mais coração do que ideologia, muito mais vontade do que racionalidade", lembra Wagner, atual líder sindical do ABC.
Wagner foi anfitrião do legado de que é portador. E tem a árdua tarefa de sustentar ou não o ethos de um cosmo que se desfaz. Hoje o ABC tem em torno de 71 mil metalúrgicos. E Wagner toca um sindicato com 40 mil associados inseridos em um mundo que passou pela globalização, o avanço das tecnologias, a revolução da comunicação e o impacto de tudo isso para a indústria automobilística. Para não falar na reforma trabalhista...
Wagner tem um grande desafio pela frente e ele sabe disso. "É hora de repensar e avaliar qual é o papel do movimento sindical na reconstrução desse país", diz.
Fazia uma manhã ensolarada em São Bernardo do Campo quando fui à sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. A quadra em que fica o edifício estava tranquila, com pouco movimento tanto de veículos quanto de pedestres. Não fossem por alguns muros nas imediações em que se liam a frase "Lula Livre" escrita em tinta vermelha ou pelos cartazes em defesa da liberdade do ex-presidente afixados em pontos esparsos da fachada do prédio de quatro andares do Sindicato, creio que ninguém diria que há menos de três semanas aquelas mesmas ruas, que então se achavam abarrotadas de gente, significavam o maior foco de atenção do país.
Wagner tem 56 anos, é casado e pai de três filhos. É metalúrgico desde os anos 1980 na Volkswagen de São Bernardo do Campo, onde foi coordenador do comitê sindical de fábrica. Filho de pai pernambucano e mãe paulista, filiou-se ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em 1985, e foi secretário-geral da entidade antes de ser eleito presidente há menos de um ano. Ele me recebeu na presidência do Sindicato, um cômodo amplo de atmosfera empresarial localizado no segundo andar do edifício - a sala que, soube depois, foi utilizada por Lula na maior parte do tempo em que permaneceu no interior do prédio.
O senhor é amigo do ex-presidente Lula?
Na verdade, a história é a daqui do movimento sindical. Nós nos conhecemos aqui. O Lula nunca deixou de frequentar o sindicato mesmo estando na Presidência da República. O fato de eu ser um militante antigo da categoria fez com que a gente fosse desenvolvendo uma relação de companheirismo e, depois, de amizade. Mas, ao vir para cá, ele está se referindo não só aos amigos. Ele vai no se sentir bem na categoria, com os trabalhadores. Quando ele diz 'voltar ao meu local', com os amigos, ele se refere aos metalúrgicos como um todo. Ele quis dar esse caráter, que é muito mais forte do que a questão pessoal.
Qual é a leitura que o senhor faz daqueles dias?
Ele veio buscar o apoio da casa que sempre viveu, da casa que se construiu enquanto entidade política, porque ele nasceu politicamente para o mundo aqui. Foi no sindicato que ele se formou enquanto pessoa política.
E eu não entendo que ele tenha se colocado aqui para resistir, tanto é que ele não resistiu e decidiu cumprir o mandado. Eu só acho que ele não queria e não devia ser humilhado e, nem merecia, ser escrachado como tantos outros foram pela Operação Lava Jato. Eu acredito na inocência do Lula e que a intenção do processo é tirá-lo das eleições presidenciais.
O que aconteceu dentro do prédio do Sindicado dos Metalúrgicos antes de Lula se entregar para a Polícia Federal? Qual era o ânimo das pessoas?
As pessoas estavam indignadas. Primeiro, porque a ordem de prisão veio quase imediatamente após o julgamento do habeas corpus. Então, o resultado inicial era de indignação com o juiz Sergio Moro, naquela gana frenética de prender o Lula e rápido. Por quê? Para quê? Existe, sim, uma parcialidade em relação à pessoa do Lula na Operação Lava Jato. Portanto, naquele dia, a reação imediata das pessoas foi de extrema indignação.
Os outros dois dias foram de negociação com a Polícia Federal no sentido da forma com que ele cumpriria o mandado de prisão, da necessidade que ele tinha de se preservar e do comprometimento do Poder Judiciário com a pessoa que estava sendo presa. Porque não era um preso comum - era um ex-presidente da República. E quando ele anunciou no caminhão de som [que cumpriria a ordem de prisão], houve uma reação de indignação do próprio povo que estava do lado de fora do Sindicato, porque o povo não queria deixar o Lula sair. Então, a negociação com os militantes foi muito mais complicada do que com a própria Polícia Federal. Não foi fácil. Foram momentos muito tensos com aqueles que não queriam permitir que o Lula se entregasse.
O que levou a essa reação?
Foi o conteúdo emocional de tudo isso e muito mais pela indignação das pessoas, pela injustiça que estava sendo cometida. A decisão dele não foi baseada em uma estratégia política e eleitoral. A decisão dele tinha uma motivação muito mais humana. Ele estava preocupado com o que poderia acontecer com as pessoas que estavam em volta desse sindicato. Com a segurança. Isso foi definitivo naquela decisão dele de cumprir o mandado.
O senhor permaneceu com o Lula dentro da sede do Sindicato dos Metalúrgicos?
O tempo inteiro. E durante as nossas conversas, a gente evitava falar da prisão, do processo, porque não havia motivo de ter mais desgaste psicológico. Você vai conversar sobre outras coisas: relembrar o passado, contar histórias, falar de futebol. Você tenta evitar o assunto. Havia momentos em que ele se preservava para ficar com a família, e então você respeita.
Lula é e sempre foi um homem de esquerda? Li uma matéria em que o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos diz que há muito tempo o PT já não é mais o partido dos trabalhadores, mas dos banqueiros, dos empresários, dos latifundiários.
O Lula é um homem de esquerda, mas ele é um homem com uma capacidade extremamente negociadora. Se me perguntar: o Lula é um homem revolucionário capaz de pegar em armas ou liderar uma revolução armada? Não. Mas ele tem propostas que revolucionaram esse país. Ele é um negociador que aprendeu a negociar nesse sindicato. E esse é o papel do sindicato: conciliar os interesses entre patrão e empregado. O Lula aprendeu isso e é o que ele faz na política.
Qual o apoio que o Lula recebe dentro do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC? Ele é uma unanimidade?
O Sindicato dos Metalúrgicos não apoia ninguém. O Wagner Firmino de Santana apoia. A gente pede para que cada trabalhadora e trabalhador metalúrgico tenha as suas posições políticas e que as defendam. A instituição, não.
O que levou o senhor a se filiar ao sindicato em 1985?
Minha filiação aconteceu naturalmente porque eu já tinha contato com o movimento sindical, antes de entrar nos metalúrgicos do ABC. Já tinha afinidade com o Partido dos Trabalhadores desde a sua criação. Para nós, moradores do ABC, o contato com o partido, com o movimento sindical, era natural. Não existia uma família que não houvesse metade dela ligada à história dos metalúrgicos, a aquelas greves.
Eu não participei da greve de 1979, mas tenho tios, parentes, pai. A minha família é basicamente metalúrgica e qualquer um naquele instante tinha relação com essa categoria.
Quem era o Lula, nos anos 1980?
Naquele período era alguém que ousava falar contra a ditadura, ousava desafiar os patrões, era alguém que tinha essa coragem. Era dessa forma que ele era visto. Esse ímpeto. Ele tinha no sangue o DNA, essa indignação contra a exploração dos trabalhadores.
O que era ser um líder sindical?
Eles eram muito mais coração, muito mais coração do que ideologia, muito mais vontade do que racionalidade. Era a característica daquele momento.
Quem é o Wagner hoje?
O Wagner é a mistura de tudo isso. Da vontade, da racionalidade, da emoção e da experiência que essa geração teve na construção dessa nossa história.
E o líder sindical de nossos tempos?
São períodos incomparáveis. Hoje é preciso se capacitar, estudar o mundo do trabalho, discutir as inovações tecnológicas. Além de estar presente no chão de fábrica, tem que prever o futuro, se atualizar, conhecer a indústria, métodos do trabalho. Existe uma diferença grande, que é própria da evolução do trabalho, da indústria, de cada um de nós.
As greves estão menos frequentes?
Não, as greves são menos intensas e foram esquecidas pela mídia. Naquela conjuntura, existia um consenso em torno da redemocratização do país e a mídia teve um papel importante. Hoje a greve deixou de ser uma pauta importante para a mídia, o que faz parecer que houve uma redução no número de greves.
O que houve foi uma redução na quantidade dos dias da greve. Avançamos nesse sentido. Conseguimos impor pautas e estabelecer um processo de negociação que, muitas vezes, evita um processo de greve. Os patrões não têm mais dúvida de que somos capazes de fazer a greve. Essa é a questão principal. Naquele tempo duvidavam e contavam com o estado ditatorial, que os apoiava. Eles estavam mais tranquilos em não negociar. Hoje, não. São mundos diferentes.
Para que serve um sindicato, hoje em dia?
O sindicato tem que estar preparado para discutir o mundo todo, não só o local de trabalho. O sindicato tem que discutir onde o cidadão mora, as necessidades que ele tem de saúde, educação, tem que estar pronto pra discutir as alterações do mundo do trabalho, tem que avaliar o que acontece mundo lá fora, indústria 4.0, internet das coisas, e não ficar só focado na máquina e no trabalhador.
O que o sindicato tem defendido, ultimamente?
Queremos um país democrático, justo, igual, que não submeta as pessoas às condições da desnacionalização de nossa produção, da venda do que é nosso, do que é público, da entrega desse patrimônio para multinacionais. Defendemos um controle do sistema financeiro. Não dá para um país, que se diz em crise, ter um sistema financeiro que é o mais rentável do mundo. São questões que estão na nossa pauta.
O que é o peleguismo?
Peleguismo é o sindicalismo que assume a defesa da pauta patronal. É isso. Eu não considero peleguismo o sindicato que é mais ou menos atuante. Peleguismo, para mim, é aquele que assume depravadamente uma pauta contra os interesses dos trabalhadores.
Isso existe ainda?
Existe, mas não vou dizer quem. (Risos)
O senhor assumiu a presidência do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC em julho de 2017, poucos dias depois de o Senado aprovar a reforma trabalhista. Qual é o balanço de sua administração até o momento?
É um processo de resistência. A primeira ação forte na minha administração foi construir um acordo, que conseguimos incluir uma cláusula nas nossas convenções para que qualquer alteração à luz da reforma trabalhista só possa ser feita mediante negociação com o sindicato. Então, se uma empresa quiser implementar o que foi aprovado pela reforma trabalhista é necessário passar pela negociação com o sindicato. Nós recolocamos o sindicato no lugar de onde a nova legislação o tirou. Essa foi uma vitória enorme.
O senhor é a favor da contribuição sindical? Por que?
Nós nunca fomos favoráveis a contribuição sindical. Você está falando do antigo imposto sindical. Tanto é que nós mandamos uma carta para todas as empresas para que não efetuassem o desconto da contribuição sindical. Isso não quer dizer que a gente concorde com a forma com que a reforma trabalhista colocou em xeque o financiamento do movimento sindical. A reforma tinha dois pilares: primeiro acabar com os direitos dos trabalhadores, cortar a sua fonte de resistência que são os sindicatos. Isso ela faz de forma a acabar com a contribuição de arrecadação. Com isso, nós não concordamos. Nós somos contra a contribuição sindical, mas acreditamos que os trabalhadores têm o direito de decidir em assembleia a forma de sustentar os sindicatos. E aqueles trabalhadores que não quiserem fazer parte de uma entidade sindical, como não terão contribuição obrigatória, também não terão direito aos benefícios conquistados pela entidade sindical. É isso que defendemos.
Na disputa eleitoral de 2016, o famoso cinturão vermelho do ABC paulista foi rompido pela "onda azul" tucana. Orlando Morando foi eleito prefeito de São Bernardo do Campo e Paulo Serra, de Santo André, ambos pelo PSDB. O que mudou?
Foi conjuntural. O Brasil inteiro passou por essa onda, que foi uma onda produzida. As pessoas, desde 2013, foram levadas a esse instante e hoje começam a repensar. O resultado está aí. Quem embarcou nessa de abraçar o pato na Paulista deve estar arrependido porque o Brasil não está melhor. O patrimônio do Brasil está sendo entregue para as grandes multinacionais por meio do pré-sal, agora a discussão da Eletrobrás, a reforma trabalhista, que tira direito dos trabalhadores, a liberação da terceirização, a tentativa e insistência da reforma previdenciária. Eu acho que quem fez referência ao pato estava trabalhando contra si mesmo.
O sonho acabou? Aquele ABC das greves, retratado no documentário de Leon Hirszman, não existe mais?
Não. A resistência que houve em relação ao dia da prisão do Lula demostra que não. O ABC é extremamente ativo do ponto de vista econômico e político. A demonstração dada naqueles dias comprova isso.
E qual é o sonho do ABC?
Nós queremos uma sociedade justa. É isso. Uma sociedade igual, com direitos. O que as pessoas querem é poder trabalhar, sustentar suas famílias, ter uma perspectiva de vida melhor do que aquela que se aponta nesse instante.
O país passou por uma das maiores recessões econômicas de sua história cujo saldo foram 13 milhões de desempregados. O senhor poderia comentar os impactos da crise para os trabalhadores do ABC? As condições de trabalho, o poder aquisitivo, melhoraram ou pioraram, em relação às conquistas que vocês alcançaram, nos anos 1980/1990?
A comparação não é anos 1980, nem 1990. Eu prefiro comparar com o período de FHC e Lula. Nós tínhamos 78 mil trabalhadores quando o Lula assumiu a presidência da República. Quando FHC entrou, nos éramos mais de 100 mil e passamos a ser 78 mil no fim de seu governo de oito anos. Lula assumiu com 78 mil trabalhadores e nós chegamos a 109 mil. Só essa quantidade de trabalhadores a mais, na nossa categoria, já significa o que foi o boom econômico desse governo. Hoje nós somos 71 mil. Perdemos quase 15 mil trabalhadores, entre 2015 e 2016, em uma crise gerada por aqueles que não aceitaram a regra do jogo e impuseram o processo de impeachment.
E paralisou o país provocando não apenas recessão, com demissões, redução de salários. A indústria naval foi dizimada, a miséria na região metropolitana de São Paulo aumentou e temos 35% de pessoas que voltaram à condição de miseráveis. Essa é a consequência de não terem aceitado o resultado eleitoral. De uma direita que pouco se preocupa com o povo. Vai se preocupar agora. Vai levar "álcoolzinho gel" no bolso, para dar mão pra pobre, pra pedir voto. É isso que eles vão fazer.
A globalização e a revolução tecnológica e da comunicação promoveram grandes transformações nas sociedades de todo o mundo. A indústria automobilística teve um baque com essas mudanças. Como ficou o ABC nessa situação?
Para quem não tem indústria nacional é difícil comparar com quem tem. EUA têm, Europa têm, China têm, o Brasil não tem indústria automobilística nacional. A preocupação com o emprego em período de crise, com uma política industrial, sempre foi muito mais uma preocupação dos trabalhadores do que do governo e setor empresarial.
De 1959 a 2017, o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC teve 13 presidentes homens. O sindicalismo é machista?
O sindicalismo é machista, assim como a nossa sociedade. Quando Lula assumiu a direção do sindicato em 1973, a nossa categoria tinha 14% de mulheres, número que continua igual ainda hoje. É mais difícil você mobilizar companheiras para que elas se tornem dirigentes, porque o nosso mundo é machista, o nosso Brasil é machista. Elas têm mais dificuldades, porque os companheiros impedem. E a gente só vai conseguir avançar reconhecendo esse machismo e, a partir desse reconhecimento, criar as condições para a participação das companheiras.
Qual o futuro do movimento sindical?
O movimento tem que se reinventar, se organizar a partir do local de trabalho e, nessa plataforma, ganhar condições para se autofinanciar. Eu não vejo uma sociedade sem um interlocutor coletivo dos trabalhadores. E esse interlocutor é o sindicato. Eu não consigo ver o substituto para isso.
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