Monitorado pela Fundação Nacional do Índio (Funai) há 26 anos, o indígena que vivia sozinho na Terra Indígena (TI) Tanaru, em Rondônia, foi encontrado morto durante uma ronda da Coordenação-Geral de Índios Isolados e de Recente Contato (CGIIRC). O anúncio foi feito pela Funai neste sábado. Ele era o último sobrevivente de sua etnia, cujo nome não é conhecido pela fundação.
Conhecido como “índio Tanaru” ou “índio do buraco”, por causa dos buracos que cavava nos locais que habitava, o indígena foi encontrado em sua rede de dormir. Seus pertences e utensílios foram encontrados nos devidos lugares e duas fogueiras estavam acesas em sua casa. Em nota, a Funai lamentou o falecimento e informou que não foram registrados vestígios de outras pessoas no local, marcações na mata durante o percurso até a TI ou sinais de luta. Segundo o órgão, o local foi examinado pela perícia.
Há 26 anos, o indígena era monitorado pela Frente de Proteção Etnoambiental Guaporé, da Funai, que registrou as habitações de palha ocupadas por ele durante esse tempo. Foram 53 casas, chamadas pela Funai de “palhoças”. Todas seguiam o mesmo padrão arquitetônico: uma única porta de entrada e saída e um buraco cavado no interior da casa.
Há quatro anos, a fundação divulgou imagens do índio isolado. Na época, informou que em algum momento na década de 1980 a colonização desordenada, a instalação de fazendas e a exploração ilegal de madeira em Rondônia provocaram sucessivos ataques aos povos indígenas isolados, em um constante processo de expulsão de suas terras e de morte, conforme também registrado pela Agência Brasil.
Segundo a Funai, após o último ataque de fazendeiros ocorrido no final de 1995, o grupo do “índio do buraco”, que só teria seis pessoas, ficou reduzido a ele. Não foi possível nem posteriormente descobrir algo a respeito e os culpados não foram punidos. Em junho de 1996, o órgão teve o conhecimento da existência e da traumática história. A atual delimitação da Terra Indígena (TI) Tanaru foi estabelecida há sete anos, com seus 8.070 hectares.
Como parte do monitoramento realizado pela Funai, além de realizar rondas, servidores costumavam deixar ferramentas, alimentos e sementes para plantio ao alcance do homem, que tinha cerca de 60 anos. Apesar do isolamento, em 2009, a região habitada por ele foi alvo de ataques com armas de fogo. Funcionários da fundação encontraram cartuchos de espingarda vazios nas proximidades.
A ativista indígena e fundadora do Movimento da Juventude Indígena de Rondônia, Txai Suruí, lamentou a morte do indígena isolado em post nas redes sociais. “Conhecido também por sua solidão, resistiu até seus últimos dias ao contato com não indígenas depois de tantos traumas e violências. Seu território deve continuar representando a resistência e deve ser preservado e cuidado, tornando se uma área de conservação”, escreveu.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.