Lá se foi uma semana sem tabloidismos espetaculares. No rescaldo dos distúrbios da outra semana, a mídia insiste em mostrar as mesmas cenas de depredação, as mesmas caras (estão chegando a mais de 2 mil) de baderneiros procurados ou já detidos. As prisões estão botando malandro pelo ladrão, aos menos os que não participaram do evento social. Os policiais estavam, ou ainda estão, na bica de verem suas forças reduzidas por questão de contenção orçamentária. Há, agora, pois assim é que a vida funciona, uma forte tendência a mostrarem as pequenas ou grandes cenas de heroísmo ou sacrifício pessoal e, principalmente, de solidariedade entre membros de uma mesma comunidade (nunca conheci uma comunidade; para mim era só o bairro e suas gentes). A venda reconstruída graças ao pinga-pinga de seus vizinhos, uma senhora enaltecida por ter entregue o próprio (uai, só podia ser próprio) filho às autoridades e um sem fim de pequenas vinhetas que me remetem aos piores dias da revista Seleções do Reader's Digest. Como eles lá na Seleções diriam: rir é o melhor remédio. Ou, indo com mais calma, sorrir é um remédio razoável. Passei, pois, uma semana evitando o tabloidismo desenfreado. Peguei apenas, aqui e ali, uma nota pitoresca, um futrico ou fofoca, leviandades. Embora um jornal brasileiro, em sua versão eletrônica, deixou por algumas horas, talvez minutos, ir ao espaço cibernético a notícia de que 2 brasileiros estavam detidos por terem participados dos riots, um deles em Manchester, a Juiz de Fora britânica. Maiores detalhes não foram adiantados. De qualquer forma, atacou frontalmente minha coluna anterior, onde, segundo um amigo, e só os amigos para darem más notícias, havia um número de, como ele os chamou, coitados, "brazucas" envolvidos no processo ou de averiguação de desordeiros ou já procurados pela polícia. Com os dados de que disponho, mais não pude informar, a não ser passar adiante construtivos ítens fornecidos GBE, um centro que estuda o comportamento de brasileiros no exterior. Pus a mão no fogo de que não acreditava na lenda urbana de brasileiros envoltos no degradante espetáculo que o país assistiu entre fascinado e revoltado, deixando (ele, o país) recolhido todo e qualquer sentimento que beirasse a xenofobia, ou, em bom português, o racismo. Quebrei a cara. Foi como se um policial me tivesse dado uma bastonada na minha cabeça branca e já custando para engatar uma primeira. Continuo achando que eram poloneses os brasileiros que meu companheiro identificou, embora sem denunciar. Sou turrão e cismado. Deixo o local dos crimes, a eles não volto, chega de desordeiros. O único desordeiro que me despertou interesse, na semana que passou, foi o ator francês Gerard Depardieu, de 62 anos, que, num avião prestes a decolar (a imprensa não dá o nome da linha aérea, nessa mania de ocultar dados vitais), urinou em seu corredor. Isso após ter sido severa mas cordialmente admoestado pelas comissárias de bordo que lhe explicaram que era necessário esperar o avião estar em pleno voo e o aviso para desatar os cintos de segurança apagados, para cumprir suas necessidades físicas. Gasto meu escasso francês repetindo o que, segundo tabloides e jornalões (não filmaram, não deu no YouTube) teria dito, ou berrado, aquele que muitos acham charmoso: "Je veux pisser, je veux pisser!" Não tendo acesso às instalaçoes sanitárias do aparelho, Depardieu não teve dúvida: urinou dentro de uma garrafa de cerveja, de pé, em pleno corredor. Nessas horas a imprensa bobeia. O que se quer saber é a marca da cerveja. As dimensões, admito, não precisam ser as de Depardieu, mas ao menos da boca da garrafa, embora o ex-galã, com aquele narigão... Bem é o povão quem espalha essas histórias. Sabe-se, isso a mídia impressa não deixa de futricar, que o astro de Cyrano de Bergerac costuma beber de 5 a 6 garrafas de vinho por dia. 48 horas depois, um representante de Depardieu explicou que ele tinha proplemas de próstata. Tudo bem. Ou tudo mal. Desejo as melhoras. Espero agora notícias de Lady Gaga, Beyoncé e Britney Spears. Em avião ou fora dele, mas - please - com garrafa. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.