SOROCABA – Os 240 taxistas de Jequié, cidade de 156 mil habitantes, no sudoeste da Bahia, circulam pelas ruas de olho no botão de pânico, instalado em um aplicativo de celular. No final do ano passado, um colega foi rendido por assaltantes, agredido e por pouco não morreu na mão dos criminosos. “Quando a corrida é suspeita, a gente vai se comunicando pelo grupo de WhatsApp”, conta o taxista e presidente do sindicato da categoria, Anderson Oliveira Santana.
Com 141 homicídios em 2022, a cidade apresentou a maior taxa de mortes violentas no Brasil, com 88,8 casos por 100 mil habitantes, de acordo com dados divulgados nesta quinta-feira, 20, pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Em um único fim de semana, 12 e 13 de julho do ano passado, cinco pessoas foram assassinadas em diferentes pontos da cidade. Uma das vítimas, Silvanei Santos Bomfim, de 29 anos, foi executado a tiros no interior da casa onde residia, em um núcleo popular do bairro Cachoeirinha.
Sua mulher, Jaine Lima Ribeiro, disse à polícia que duas pessoas quebraram a janela de vidro da frente, entraram na casa, avisaram que eram policiais e mandaram a vítima “colocar a cara para fora”. Em seguida fizeram vários disparos de armas de fogo contra o rosto e o peito da vítima, que morreu na hora. Jaine foi obrigada a ficar “olhando para o chão” durante a execução para não morrer também. Conforme a Polícia Civil, a investigação apontou que Bomfim foi morto por traficantes de drogas.
De acordo com o presidente dos taxistas, não é preciso ser especialista para saber que a violência de Jequié está ligada ao tráfico de entorpecentes. “A criminalidade é alta por causa do tráfico. Tem muita disputa por território e pelos pontos de droga. É lamentável, pois a cidade vem crescendo muito, inclusive no turismo, tem grandes festas juninas e agora está na rota da ferrovia leste oeste.” Além do colega agredido durante um assalto, outro teve o carro levado por bandidos. “Graças à nossa rede de comunicação, recuperamos o carro em uma hora.”
Segundo Santana, o sindicato e os próprios moradores já se mobilizaram para pedir mais segurança. “Jequié tem uma influência política muito forte, dois deputados estaduais e é a terra do atual governador. Vamos ver o que eles irão fazer para reverter essa situação”, disse. O governador Jerônimo Rodrigues (PT) nasceu em Aiquara, localidade vizinha, mas se mudou para Jequié aos nove anos, onde completou os estudos básicos.
O administrador de empresas Manoel Andrade, 58 anos, diz que que não somente os homicídios provocados pelas disputas travadas entre traficantes tem deixado os moradores de Jequié assustados, como também os pequenos furtos, que começam a crescer.
“Isso vai mudando a rotina da cidade. É perceptível. Eu não diria que vivemos um clima de terror, de fechar escolas, impedir a entrada de ônibus em alguns lugares, não é isso, mas essa situação vai impondo uma maior cautela, as pessoas vão aumentando a atenção e a preocupação ao andar pelas ruas, principalmente à noite. Às famílias, pouco a pouco, vão deixando de lado o velho hábito das cadeiras na porta para uma prosa à noite”, conta.
De acordo com o secretário de Segurança Pública da Bahia, Marcelo Werner, os indicadores de Jequié contrastam com o restante do Estado, onde os índices de violência estão em queda. No primeiro semestre, o número de crimes violentos no Estado caiu 4,5% em comparação com o ano passado, de 2.643 para 2.522. “Fechar ainda mais o cerco contra as facções envolvidas com o tráfico de drogas é o caminho que seguiremos adotando. Segurança não é só polícia, mas a nossa parte é feita com muita dedicação”, disse.
Ele disse que os crimes estão relacionados à disputa entre traficantes e que o combate a essas organizações criminosas foi intensificado. “Fizemos três operações neste primeiro semestre (em Jequié) que alcançaram cinco criminosos, desmontaram um laboratório de refino de cocaína e apreenderam submetralhadoras, espingarda, pistolas e revólver”, detalhou. A cidade também passou a contar com o sistema de reconhecimento facial, o que resultou na prisão de um foragido da Justiça.
A prefeitura de Jequié foi procurada para se manifestar sobre o aumento na criminalidade. A reportagem ainda aguarda o retorno. / COLABOROU HELIANA FRAZÃO
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