Referindo-se ao novo carro do mercado como “o Brasília”, e não no feminino “a Brasília”, como se consagraria, o Jornal da Tarde apresentou aos seus leitores em de 12 de maio de 1973 uma novidade flagrada na estrada Caminho do Mar.
Quase um mês antes da Brasília ser apresentado oficialmente à imprensa, o repórter Luís Carlos Secco e o fotógrafo Oswaldo Luís Palermo surpreenderam um passeio que alguns funcionários executivos da Volkswagem resolveram fazer, da fábrica em São Bernardo do Campo à baixada santista.
A reportagem contou que os funcionários tentaram despistar o fotógrafo e usou os detalhes da fuga para falar sobre as características e o desempenho da Brasília.
“Esse bom desempenho do Brasília foi demonstrado na tentativa de fuga dos funcionários da Volkswagen, tentando evitar as fotografias de Oswaldo Luis Palermo. Na subida da serra velha de Santos, mostrou ser um carrinho ágil nas curvas fechadas e com um bom torque. E na parte plana da estrada demonstrou também a sua performance, atingindo 140 quilômetros por horas com relativa facilidade.”
Leia a íntegra e veja também a capa publicada.
Jornal da Tarde - 12 maio de 1973
VW Brasília
Ele deverá ser lançado no mercado no próximo dia oito, e seu preço ainda não foi definido. O repórter Luís Carlos Secco e o fotógrafo Oswaldo Luís Palermo o descobriram.
Com o nome de Brasília, a bossa do famoso carrinho inglês Mini Cooper e estilo muito semelhante ao da Variant, este carro é um novo Volkswagen, que será lançado à venda a partir do dia 8 de junho. Para alguns é simplesmente uma Variant de dimensões reduzidas, mas para a Volkswagen trata-se de um novo veículo brasileiro, projetado especialmente para oferecer uma opção a mais à faixa de público que compra carros pequenos.
Ele começou a surgir nas pranchetas dos estilistas da Volkswagen logo depois que a General Motors do Brasil anunciou a produção de um pequeno veículo, projetado para concorrer com o modelo mais vendido no País, o besouro Volkswagen. Isso foi há cerca de dois anos. Agoram pronto para ser lançado, o Brasília, foi surpreendido no Caminho do Mar, durante um passeio que alguns funcionários executivos da Volkswagen resolveram fazer, da fábrica à baixada santista.
Visto de frente, o Brasília mantem a mesma aparência dos veículos equipados com motor 1.600, principalmente da Variant da qual os estilistas da Volks tiraram inspiração para seu projeto. Logo à primeira vista nota-se que o Brasília tem dimensões menores que a variant, e os vinco laterais (o superior, na linha de cintura do automóvel, e o inferior, entre os contornos dos pára-lamas) também mostram as diferenças do novo carro.
Visto de lado, o Brasília lembra em suo parte central o Range Rober inglês, mas as linhas superiores da carroçaria são multo semelhantes às do BMW Touring TII. Por trás nota-se que o Brasília mantém todo o estilo da Variant, mas com vidros mais amplos, lanternas de novo desenho e uma estilização na carroçaria para acentuar o objetivo da Volkswagen: tornar o Brasília bem diferente da Variant.
Para a Wolkswagen, o Brasília é uma espécie de carro ideal para a cidade, um CIty-Car, pelas suas dimensões reduzidas. Um automóvel que pode ser estacionado em uma vaga menor que a exigida para um sedan 1.300 ou 1.500, de fáceis manobras e conforto interno para cinco pessoas.
No momento em que a General Motors anunciou que iria produzir um veículo para brigar na faixa do Volkswagen (o Chevette, a Volkswagen sentiu que precisaria dar-lhe uma resposta urgente. E como não possui nenhum modelo em condições de ser produzido rapidamente, de uma forma econômica, decidiu projetar um veículo com base na Variant, mas que fosse um automóvel e não um utilitário.
Além das providências de estilo, adotando muito bem a bossa do Mini-Cooper inglês, a Volkswagen manteve as linhas básicas da Variant, projetou um veículo 36 centímetros mais curto, tirando 20 centímetros da parte dianteira e 16 centímetros da traseira.
Apesar dessa redução de comprimento, os estilistas tiveram a preocupação de estudar um melhor aproveitamento do interior da carroçaria. Para isso adotaram o motor 1.600 de ventoinha vertical, o que permitirá o recuo do banco traseiro em 5 centímetros.
Com essa preocupação, e também em consequência da redução do comprimento, houve um sacrifício parcial do compartimento traseiro para bagagens, mas um espaço maior para os passageiros do banco de trás.
Nos demais detalhes técnicos o Brasília apresenta a tradição da Volkswagen do Brasil: a mesma plataforma, o mesmo tipo de suspensão dos seus modelos atuais e, naturalmente, a mesma mecânica. Único ponto diferente: a adoção do motor de 1.600 cm3 de cilindrada, com ventoinha vertical, lançado no primeiro Volkswagen de 4 portas.
Com a redução do comprimento e com alguns recursos de estilo, a Volkswagen conseguiu projetar um carro mais leve e mais aerodinâmico que a Variant. E também um automóvel mais ágil que toda a atual linha 1.600. Isso permitiu ao Brasília ser um carro com melhor performance que o Volkswagen TL 1.600 ou a Variant, tanto em aceleração quanto em velocidade máxima, além de proporcionar maior economia em consumo de gasolina.
Esse bom desempenho do Brasília foi demonstrado na tentativa de fuga dos funcionários da Volkswagen, tentando evitar as fotografias de Osvaldo Luiz Palermo. Na subida da serra velha de Santos, mostrou ser um carrinho ágil nas curvas fechadas e com um bom torque. E na parte plana da estrada demostrou também a sua performance, atingindo 140 quilômetros por hora com relativa facilidade.
Pelo menos nessa demonstração inicial, o Brasília pode ser equiparado ao Chevette e ao Dodge 1.800, em desempenho. E com seu estilo novo para o mercado brasileiro, as dimensões reduzidas, próprias para o trânsito de cidades congestionadas e o conforto interno para cinco pessoas, poderão dar a ele os recursos necessários para concorrer com o Chevette, o anti-Volks criado pela General Mootors.
A apresentação do Brasília já está marcada para o próximo dia 8, no Guarujá. Durante essa apresentação, a Volkswage, anunciará o seu preço, que deverá ser inferior ao do Chevette. Por enquanto existem apenas comentários não confirmados de que o Brasília custará entre 20.000 e 21.000 cruzeiros.
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