Guerra ao epadu: a coca da Amazônia plantada por caboclos e indígenas cobiçada pelo tráfico

Reportagem de 1983 mostrou como 200 mil pés da planta base para produção de cocaína foram arrancados por operações da Polícia Federal. Leia a íntegra.

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Por Acervo Estadão

Epadu. Esse é o nome da variação da planta de coca encontrada na Amazônia brasileira e cuja substância serve como base para a produção da cocaína.

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No final de 1983, o repórter Valdir Sanches e o fotógrafo Reginaldo Manente viajaram ao interior da Floresta Amazônica para mostrar aos leitores do Jornal da Tarde como o cultivo dessa planta de folhinhas verde-claro por silvícolas brasileiros que a mascavam atraia “homens de fala enrolada”, colombianos e peruanos, em busca da matéria-prima para a produção da valiosa droga comercializada a 25 mil dólares o quilo nos Estados Unidos.

Os dois jornalistas mostraram como foram algumas das operações da Polícia Federal contra o plantio de epadu, acompanhadas por um agente norte-americano e que contavam com uma lancha doada pela agência antidrogas dos Estados Unidos. Leia a íntegra.

Jornal da Tarde - 29 de dezembro de 1983

Reportagem sobre plantação de coca no Jornal da Tarde de 29 de dezembro de 1983. Foto: Acervo Estadão
Reportagem sobre plantação de coca no Jornal da Tarde de 29 de dezembro de 1983. Foto: Acervo Estadão

Ataque à Amazônia da coca

Primeiro resultado: 200 mil pés de coca arrancados. (Eles poderiam virar 16,6 milhões de dólares”)

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Os homens de fala enrolada intensificaram sua ação no Amazonas, nos últimos tempos. Foi isso que mobilizou a Polícia Federal. Se falassem em coca, esses estranhos não se fariam entender pelo caboclo brasileiro, pelo índio, por essa gente primitiva que herdou de seus pais — dos seus avós — o hábito (o vício) de cultivar e mascar a plantinha que chamam epadu.

O epadu do Amazonas é a coca de países andinos como, notoriamente, a Bolívia; ou o Peru, ou a Colômbia com suas refinarias. O processamento completo dessa planta que nasce com muita facilidade — folhinhas verde-claro, aparentemente inofensivas — resulta no , na pura, que envolve negócios de certo risco e grandes fortunas. A cocaína da América do Sul — única parte do mundo que a produz — vale aos traficantes 25 mil dólares o quilo, ao entrar em Miami. E isso porque, nestes dias, o excesso de mercadoria fez os preços baixarem dos habituais 40, 50 mil dólares o quilo.

O estridente canto do japlím, pássaro de penas amarelas e pretas, denunciou a presença dos federais, tão logo a lancha Tubarão tocou um ponto perdido na margem ocidental do imenso lago de Tefé, na semana passada. Isso irritou um pouco o delegado Carlos Alberto Cardoso, chefe das operações que neste momento uma equipe da Polícia Federal empreende no Oeste do Estado do Amazonas. “Esse passarinho é um grande dedo-duro” — queixou-se o delegado. Mas algum tempo depois, sem incidentes, Cardoso e seus dez homens, todos em uniforme de campanha — armas pesadas na mão — viram-se à frente de quase 17 mil pés de epadu/coca. E logo iniciariam o árduo, trabalho de erradicá-los e queimá-los.

Com o comando seguia Mr. Larry Lyons, na condição de observador da Divisão do Repressão a Entorpecentes do Departa-mento de Justiça norte-americano — a Drug Enforcement Administration, DEA. Larry colheu as folhas de um pé inteiro, para estudos. E confirmou as informações das autoridades brasileiras: o Oeste e o Noroeste do Estado do Amazonas estão se transformando no grande produtor da folhinha verde-claro, de aspecto vulgar dentro da imensa variedade de espécies da selva amazônica. Os levantamentos disponíveis, indicam, entretanto, que, aqui, a produção dessa folhinha supera a da Bolívia e do Peru, isoladamente.

Os caboclos e os índios de algumas tribos a estão cultivando para vender aos estranhos que, falando tão enrolado quanto o castelhano possa soar ao nosso homem amazônico, prometem bom pagamento pelo epadu. Muito mais, pelo menos, do que ganhariam na monótona e pobre rotina de produzir farinha de mandioca e vendê-la cem cruzeiros o quilo.

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Para facilitar o entendimento, os compradores costumam usar um apelido que geralmente acaba sendo Jorge. Os Jorge sabem que o epadu tem um potencial tóxico 20 e até 40% menor do que a coca de países andinos, Mas podem ver claramente uma vantagem: os pés de coca daqueles países têm mais ou menos metro e meio de altura; os do Amazonas alcançam quatro e até cinco metros.

Esconderijo fácil

A maior parte dos Jorge vem da Colômbia, onde, dizem informações da Polícia Federal, um grande número de refinarias produz a cocaína. Mas há também peruanos. Usam lanchas voadeiras ou turbinadas, que permitem viagens e fuga em grande velocidade. E também aviões, que podem pousar em campos clandestinos. Ou, com flutuadores adaptados, podem transformar-se em hidroaviões, com pouso garantido em uma infinidade de pontos da maior bacia hidrográfica do mundo.

Nos igarapés menores, chamados paranoás, encontram fácil esconderijo. Nessa trama de cursos aquáticos, é praticamente impossível achá-los. E de dezembro a junho, quando caem as chuvas do inverno amazônico, as lanchas clandestinas precisam apenas rastrear sobre a água, o caminho que em tempos de seca o caboclo vence a pé. Os pés de epadu surgem quase ao alcance da mão, perto da borda do barco.

A cidade de Tefé está a meio caminho entre Manaus e a divisa do Estado do Amazonas com a Colômbia. Situa-se à beira de uma baia da Guanabara de água doce, o lago também chamado Tefé. Dependendo do ponto em que está, um observador verá as águas do lago perderem-se na linha do horizonte. As costas dessa cidade de 15 mil habitantes (21 mil no município, dados do censo de 1980) correm as águas formidáveis do Solimões.

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E foi nessa cidade de Tefé, com seu sonho de vir a ser a Capital de um futuro e Independente Território de Solimões, que o trabalho do comando liderado pelo delegado Cardoso começou, no domingo de há duas semanas. Só nos três primeiros dias de ação, os federais encontraram e eliminaram 33 mil pés de epadu, (números redondos). E indiciaram em inquérito dois plantadores. A última informação é de que o total de pés destruídos beira os 200 mil, até agora.

As contas do delegado Carlos Alberto Cardoso indicam que um pé de dois metros de altura produz meio quilo de folhas. E que são precisos 150 quilos de folhas para se obter um quilo de cocaína. Assim, baseado nesses números, têm-se que os 200 mil pés destruídos poderiam ter resultado em 666 quilos de cocaína. Ou 16,6 milhões de dólares, no mercado de Miami, Esses números, contudo, servem apenas para dar uma idéia, já que havia pés de vários tamanhos.

Neste momento, Cardoso e sua equipe estão atuando em algum ponto Solimões acima. Em seus planos estavam lugares dos municípios ribeirinhos de Santo Antonio do Içá, Amaturá e São Paulo de Otivença — até chegar ao fim da linha, a cidade de Tabatinga, que faz divisa seca com Letícia, na Colômbia. Quanto encontrarão de epadu pode depender apenas de seu próprio limite de tempo e forças para o trabalho. Porque a sensação que as investidas na região de Tefé deixaram, até mesmo a Mr. Larry Lyons, é de que, em questão de epadu, basta procurar para achar.

As pequenas plantações sempre estiveram disseminadas por aqueles lados da Amazônia. Mas até poucos anos atrás, serviam apenas ao caboclo e ao índio, que torram as folhas, amassam-nas num pilão feito com o tronco do pé da fruta pupunha e juntam com o resultado com outra planta, a imbaúba. Depois transformam tudo em cinzas — um pó acinzentado que mascam horas a fio. Esse pó não tem a toxidez da cocaína. Ele elimina a fome e a sede e, enquanto é mascado, dá uma sensação tranqüilizante (como contam pessoas que o usam).

Havia — e há —, ainda, moradores de lugares afastados das cidades que plantam o epadu para negociá-lo, já na forma de pó, com consumidores da região. Os problemas realmente começaram com a chegada dos compradores de língua castelhana. A preocupação da Policia Federal, do DEA de Mr. Lyon (que tem um escritório com vários agentes em Brasília) e dos estudiosos aumentou ainda mais depois de uma descoberta feita por Cardoso, em agosto do ano passado.

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Esse delegado, com curso de especialização no combate a entorpecentes, encontrou a duas horas de caminhada do Igarapé do Mineroá, para os lados da mesma Tefé, objetos e produtos reveladores. Sob uma coberta de palha estavam dois tambores com acetona, rodos (como esses domésticos, de puxar água), vários plásticos, e outrás tantas coisas. No chão, um grande buraco tinha sido cavado. Para Cardoso e seus homens, ficou evidente: ali estava sendo fabricada, ainda que improvisadamente, a pasta básica para a obtenção da cocaína. No buraco recoberto pelo plástico, alguém estava misturando preparados químicos como acetona, éter e bicarbonato com a folha do epadu. Disso resulta a pasta, que vai para o refino, na Colômbia.

Aquela era a segunda missão desse tipo de Cardoso, chefe do Setor de Entorpecentes da Superintência Regional do Departamento de Polícia Federal do Amazonas, com sede em Manaus. Nela e em uma ação anterior, em que 6.000 pés de epadu foram localizados junto ao aeroporto de Tefé, e em duas subseqüentes, já em locais próximos a Manaus, os federais aprenderam 113 mil pés da planta de folhas verde claro; e indiciaram em inquérito 17 pessoas.

Mas o primeiro sinal de alarma soou, contam os federais, em meados de 1979. Deu-se quando ”o delegado regional da Funai pediu ajuda à Polícia Federal, porque índios da região do Alto rio Negro, no Estado do Amazonas, estavam sendo usados por colombianos. Em troca de poucas coisas, os índios plantavam e entregavam epadu aos precursores do Jorge. Com isso —como está acontecendo agora — preferiam cultivar essa planta do que a própria mandioca.

Amostras da planta foram então levadas ao Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (lapa), para análises. E o resultado foi um laudo em que se concluía: aquilo que se chamava epadu era uma das 250 variações da erythroxylum coca catalogadas pela Organização Mundial de Saúde e pela DEA como plantas básicas para fabricação da cocaína. O epadu foi incluído entre os produtos reprimidos pela Polícia Federal.

Cocaína barata

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As vantagens que o Amazonas oferece aos compradores — principalmente os colombianos, com suas refinarias — são claras: a coca brasileira chamada epadu está multo mais perto do que a boliviana, por exemplo. O transporte é fácil, por rios. O policiamento, praticamente inexistente. E os plantadores, ainda ingênuos, negociam um quilo de folhas de epadu por 500 cruzeiros — e multas vezes acabam recebendo apenas algum alimento, em vez do dinheiro. O delegado Cardoso está preocupado com a possibilidade de que essas plantações se alastrem para o Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, por exemplo. E Larry Lyons também vê o problema como “bastante sério”: se não houver combate, acha, os próprios plantadores brasileiros podem evoluir e chegar à fabricação da cocaína.

Outro dado: as tentativas de repressão, bem ou mal-sucedidas, anunciadas ultimamente por governos de países andinos, levam os compradores de coca a voltar as vistas em outra direção. E é assim que o epadu surge como especialmente atraente. E que os Jorges se agitam mais.

João Nambu, nascido e criado em Tefé, hoje com 57 anos e cinco filhos, escutou baterem à porta de sua casa, numa noite de julho passado. Era uma noite amena. João Nambu deixou entrar dois homens que falavam enrolado e logo lhe perguntaram: “Você ainda tem?” “Tenho”, respondeu o de Tefé. “Quer vender?” O que fez a pergunta, homem claro, de bigodes, tinha se apresentado como Jorge; o outro, moreno já velho, dizia chamar-se Contim. Eram colombianos, anunciaram.

O brasileiro pensou um pouco. Oito meses antes, João Rodrigues do Carmo, esse é seu nome verdadeiro, havia sido preso pelo delegado de Tefé, então um sargento da Polícia Militar. Naquela vez, também, dois estranhos que falavam enrolado tinham pretendido comprar o epadu que João plantava perto do igarapé do Bacana. A plantação, diz Nambu, era para fazer o pó que vendia a 500 cruzeiros a lata (de manteiga), em Tefé. A pessoas que, como ele próprio, tinham o vício de mascar.

Mas o caso com os dois compradores acabou mesmo mal, João Nambu colheu três sacos cheios desses de farinha, para trará-los pela “boa recompensa” prometida pelos estranhos. Só que o sargento-delegado prendeu os intermediários brasileiros no negócio e o próprio plantador. Os estrangeiros fugiram.

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Agora estavam em sua casa aqueles dois, o Jorge e seu amigo. João Nambu resolveu arriscar de novo: “Vendo, mas só com dinheiro na hora. E vocês colhem”. No dia seguinte atravessaram o lago, na voadeira dos colombianos. Seguiram na lancha pelos igarapés que levam à plantação de Nambu. Colheram “um tanto” e promete voltar mais tarde. O plantador não foi capaz de cobrar. Passados cinco diais, os homens voltaram com um “rancho” de leite, bolacha, coisas assim. Disseram que aquele epadu não era bom e sumiram. Por que?

Provavelmente, julgam os federais, porque tinham pressentido alguma coisa, já que alguns dias depois o delegado Cardoso chegou àquele mesmo lugar, eliminou todos os pés de epadu e prendeu João Nambu.

Aos 17 anos, João deixou Tefé para “cortar seringa” em outras partes da Amazônia. Conviveu com os índios macu e boá-boá. Aprendeu com eles, conta, o vício de mascar o pó de epadu queimado e misturá-lo com a imbaúba.

— No começo eu achei ruim, mas depois gostei. A gente toma uma colher e deixa ficar no céu da boca. E adormece o céu da boca. É bom para caçar e pescar, tira fome e a sede e deixa a gente calmo. Mal para a saúde? Só para quem toma mais de três colheres por dia.

As pessoas de Tefé sabem que muitos dos mais velhos têm esse vício. É possível mesmo encontrar, mascando o pó, uma pessoa como lzaura Barbosa, enquanto descansa um pouco de seu trabalho de limpar as ruas de Tefé. Tem 40 anos. Demonstra muito mais. Os dentes se foram. “Sai uma goma verde da boca deles” — dizem, com ar de asco, os mais jovens.

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O problema, afinal, para os policiais federais, não são os velhos mascadores de epadu. Mas os traficantes da folha, que haviam feito de Tefé “a Babel dos estrangeiros”, como diz o delegado Cardoso. Ultimamente, a situação mudou, diz ainda o delegado, depois que vários estrangeiros de língua espanhola, que estavam irregular mente na cidade, foram notificados e tiveram de voltar para sua terra (um deles, peruano, sumiu e foi preso em flagrante 15 dias depois, com cocaína, em Manaus).

O trabalho de combate aos traficantes, como se pode saber, apresenta um outro aspecto em seus problemas: o da falta de homens e recursos contra a imensidão do Amazonas. Na sede da superintendência, em Manaus, trabalham nesse setor dois delegados e 12 agentes. Em Tabatinga, no extremo Oeste, divisa com a Colômbia e, por assim dizer, esquina com o Peru, o efetivo de policiais federais se resume em cinco homens. E isto é tudo, para o Estado do Amazonas.

Vôo pirata

Os federais dispõem de três lanchas, uma das quais — justamente a Tubarão usada neste momento no Solimões deverá ficar em Tabatinga. Essa lancha foi cedida pelo DEA, que este ano doou o equivalente a 250 mil dólares em equipamentos para combate ao tráfico de entorpecentes (ou as matéria-prima deles) na Amazônia.

O governo do Estado do Amazonas simplesmente não tem nenhum tipo de serviço para agir contra os traficantes. Em março de 1979 esboçou-se um convênio entre as polícias estadual e federal, mas que não chegou a ser ativado. Outra grande dificuldade é que o Cindacta, que controla, de Brasília, os aviões em vôo em várias áreas do País, não opera na Amazônia. E por ali os traficantes, assim como os contrabandistas, executam o vôo pirata, uma espécie de aven tura acrobática que consiste em voar a 150, 200 metros do solo — portanto livre da ação de qualquer outro radar.

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E os traficantes, em seus pequenos aviões, operam. Um vôo (dizem os federais especializados) pode começar em Guajará Mirim, na Bolívia, ou em qualquer outra cidade fronteiriça desse pais com o nosso. Da mesmo em Abunã, em Rondônia. A bordo pode ir a cocaína pura, já pronta para o consumo. Ou — e em muitas vezes é isso — pasta que será usada nas refinarias bolivianas, “especialmente nas localizadas ao sul do rio Meta”, que a transformam na cocaína pura.

Mas o percurso mais racional, que corta território brasileiro, ainda assim exige pelo menos uma parada técnica. Os federais assinalam Carauari ou Eirunepé, no Oeste amazonense. Ou uma pista clandestina qualquer. Nesses lugares o avião será reabastecido — ou simplesmente os traficantes trocarão de um com tanque vazio para outra bem abastecido.

E há ainda Tabatinga/Letícia, cidade unidas pela avenida da Amizade. Até há pouco, a cidade propriamente dita ficava em Letícia, Colômbia; e o aeroporto em Tabatinga, Brasil. Agora, com a diferença de câmbio de moedas, uma cidade brotou e se alastra por Tabatinga. Ao passo que um aeroporto foi construído em Letícia.

Os federais descrevem essa área com imensamente facilitada para o tráfico de entorpecentes ou matéria-prima. Explicam. “Está chovendo dólar em Letícia. De uma situação de extrema pobreza, a cidade está passando para um lugar onde a moeda é o dólar. Como acham que isso é possível?”

Mas também se pode perguntar: se a Polícia Federal sabe que pelo menos duas cidades amazonenses — Carauari e Eirunepé — servem de escala para os traficantes, por que não atua ali? Resposta: bastaria um sinal, dado de terra para um pequeno Piper, por exemplo, para que o piloto voasse para longe. E outras escalas seriam usadas.

— Apesar disso, policiais federais do Amazonas prenderam em julho do ano passado um piloto brasileiro e um colombiano, que estavam num mesmo bimotor, escalando Eirunepé. No avião, apreenderam 124 quilos de cocaína, trazida da Bolívia. O destino era La Primavera, na Colômbia. O piloto brasileiro estava brevetado para voar em território nacional; o colombiano, em sua terra. Essa a razão de dois pilotos, de países que seriam sobrevoados.

Mesmo assisto, a prisão dos pilotos e a apreensão da cocaína foi possível porque um traficante colombiano, preso dias antes com cocaína, em Tabatinga, se mostrou um grande e espontâneo falador...

Por fim, com tão poucos homens para atuar numa área tão grande, Cardoso não acha que o Exército teria mais condições de fazê-lo? O delegado não aceita essa idéia. Diz que o combate à droga é atribuição especifica da Polícia Federal.

Reportagem sobre plantação de coca no Jornal da Tarde de 29 de dezembro de 1983. Foto: Acervo Estadão

“Aqui!” E os policiais encontram mais uma plantação de coca.

Acompanhe a peregrinação de 11 policiais federais e um observador norte-americano pela Amazônia, em busca de plantações de epadu (matéria-prima para produção de cocaína, como mostra o início dessa reportagem, que está na última página). Eles partiram da cidade de Tefé, fortemente armados, e visitaram os povoados da região, destruindo o epadu que seria vendido a traficantes de cocaína.

Companheiros permanentes de viagem: mutucas, piuns, o terrível carapanã (versão amazonense do borrachudo) e abelhas. “Vamos embora, vamos indo”, apressa o delegado que comanda a expedição. O trabalho é difícil, mas necessário: as plantações nunca poderiam ser localizadas por satélite, ao contrário do que se faz com maconha, por exemplo.

Reportagem de Valdir Sanches e fotos de Reginaldo Manente

A metralhadora Browning ponto 30 colocada na proa da lancha Tubarão assusta os inexperientes mesmo vista por trás. Mas os policiais não param. Com seus uniformes de camuflagem, continuam trazendo para bordo um número apreciável de armamentos, metralhadoras 9 milímetros, escopetas calibre 12, caixas de munição. À cintura vão os 38 e até mesmo algemas.

Um arrais, navegador experiente da Marinha, homem que conhece os rios amazônicos como a rua de sua casa (numa cidadezinha amazônica), assume o comando da Tubarão. O motor de 155 hp responde rapidamente. São oito metros de popa a proa, para levar os onze federais em operação, mais o corpulento Mr Lyons e ainda os repórteres.

O exótico mercado de Tefé e o ex-convento da Prelazia, com a sobriedade de seus descorados tijolos à vista, vão ficando para trás, perdendo-se no caudal que o motor da lancha provoca nas águas cinzas —quietas — do lago. São 50 minutos para atravessar o lago nessa embarcação rápida, mas visando alcançar um ponto determinado em sua largura — não em seu comprimento.

A chegada, afinal, atrapalha a paz de um bando de patos e o trabalho de algumas lavadeiras, às margens do lago. Três casas paupérrimas, uma palhoça. Crianças curiosas. A Browning, na proa, perde todo o seu sentido. Mas a Tubarão desliza pelas águas de um igarapé, o do Mineroá. Os passageiros, oficiais ou não, são levados em duas turmas devido ao problema de calado. Por esta época, os rios, os igarapés, mal começaram a encher com as primeiras chuvas do inverno amazonense. À medida que a lancha avança pelo curso d’água cercado de mato, o equipamento de fogo retoma seu sentido. Afinal, além dos policiais, há outro tipo de interessados no epadu percorrendo a mata do Amazonas.

A mutuca, um moscão supernutrido com um ferrão ainda maior, forma o comitê de recepção aos viajantes. Para completar, o incômodo pium, e uma versão amazonense do borrachudo, o terrível carapanã. Mas são as abelhas que primeiro se manifestam E alguns lábios, e mãos, resultarão logo doloridos e inchados.

A caminhada, na selva: o único integrante da expedição realmente preparado para enfrentá-la em termos de logística é Larry Lyons. O senso atávico de precaução do norte-americano dotou-o de todo o equipamento necessário, incluindo víveres e produtos de primeiros socorros. Os federais contam principalmente com uma determinação quase fanática e com bom vigor físico. Guia o grupo o excessivamente eficiente (em termos de rapidez) João Nambu.

Traiçoeiros cipós

O cipó traiçoeiro que laça o pé; o toco camuflado por folhas que faz tropeçar — e às vezes cair — não dificultam a caminhada de Nambu. Tampouco ele parece sentir o calor, o abafado que a floresta guarda, e que faz os não habituados botarem a língua de fora. A caminhada pela floresta é árdua, mesmo nos trechos varados pela trilha dos mateiros ou de gente que tem por ali sua plantação de mandioca.

O claro-escuro propiciado pelos raios do sol que conseguem varar a copa das compridas árvores agrada à vista. Mas não descansa o corpo. Esse tronco de árvore atirado de margem à outra, sobre o riacho cravado de tocos afiados, serve de ponte. Mas o tronco-ponte balança muito; a cada passo, a queda na água — e nos tocos —parece certa. Por fim, todos passam, apesar de alguns sentirem as pernas ainda bambas por boas centenas de metros.

O delegado Cardoso dita ordens. Quer rapidez: “Vamos embora, vamos indo”. E a caravana segue até que um de seus dois agentes especiais, por intuição ou prática, descobre os primeiros galhos de epadu. “Aqui!” E logo centenas de touceiras, cada uma com quatro e até dez galhos, surgem à vista.

Uma certa euforia e um monte de mosquitos de nomes amazônicos tomam conta da expedição. Então, aqui está! São pés bem altos, cheios, plantados junto a outros espécimes da mata. De nenhuma forma seria possível detectá-los (pelo menos neste caso), por satélite. Mas Cardoso e Lyons logo fazem outras descobertas significativas: uma fileira de 30 pés plantados em correto alinhamento, demonstração de boa técnica. Ainda estão pequenos, mas viçosos.

E essa praga, retoma Cardoso sua peroração favorita, dá mais que mandioca. Uma vez plantada, em poucos meses floresce. Com menos de um ano já há muito epadu para colher. E depois, quatro vezes no ano, vem nova produção. Para plantar — o delegado arremata — basta pegar um galhinho e fincar no solo. E João Nambu, animado em mostrar como é, planta um pé em flagrante. Mas só como demonstração, claro.

Mister Lyons está remexendo em sua mochila. Dela extrai um metro e parte para um pé de epadu recém-derrubado. Mais tarde, em seu relatório oral, ditado para um gravador dificilmente comprado na Zona Franca de Manaus, registra: o pé mediu quatro metros e meio. Começa então o rude trabalho de oito ‘abnegados agentes e dois escrivães: arrancar as touceiras de epadu.

Cardoso põe-se vigilante. Se a raiz não for completamente extraída, a planta volta a brotar. Essa coca amazônica, de pés incrivelmente altos, é dura de arrancar. Mas cada pé é cuidadosamente contado. E ao cabo de bom tempo de trabalho já os montes estão prontos para serem incinerados — tarefa que se decide deixar para o dia seguinte.

Onças? Por aí.

E a floresta amazônica, ora com trilhas, ora mais ou menos bruta (porque o homem vive aqui há tempos), oferece-se para a volta. O jacaré e a marreca estão nas partes inundadas, as terríveis cobras bico de jaca e coral, nas áreas secas, junto com a aranha Caiárara, que tem pelo crescido como o de certos macacos. No ar, podem estar muitas araras e periquitos, e o gracioso beija-flor.

Onças? Sim elas estão por aí, dirão os homens da terra. Mas isso tudo não é problema. As metralhadoras 9 milímetros dos policiais — e o Magnum 45 que Mr. Lyons traz à cintura — oferecem uma confortável sensação de confiança.

No meio da tarde uma abençoada chuva cai sobre os homens cansados. Mas a copa das árvores e o calor dos corpos reduzem a um mínimo o proveito que se pode tirar dela contra o calor. Perto das quatro horas da tarde, quase seis depois de penetrar na mata, Cardoso e seus homens e o observador norte-americano e os fatigados repórteres voltam a embarcar na Tubarão. Contentes, Por um dia proveitoso.

Em Tefé, os federais investigam. É preciso fazer contatos, buscar nomes, para saber onde está — do outro lado do lago, geralmente — o epadu. Para os que acompanham os policiais, acaba não sendo segredo o que, de resto, é fácil supor. Informantes são pagos, quando uma informação vale a pena. Pessoas da cidade, ou até mesmo barqueiros, podem dar um bom serviço.

Que o epadu existe em muitas partes, na verdade todos sabem. Até mesmo os padres da Prelazia de Tefé, que era um seminário menor mas perdeu essa condição, devido à “crise de vocações”. O holandês Antonio Jeansen, com muitos anos de sacerdócio em Tefé, fala do hábito dos índios e dos moradores antigos de mascar o epadu. Ali mesmo em Nogueira, o lugarejo que se vê do outro lado do lago (destaca-se, bem ao longe, a pequena igreja) há epadu para uso dos mais antigos — sabe contar o padre, assim como qualquer morador da cidade.

Ao longo do lago, perdida à beira de pequenas praias ou mata a dentro, há uma infinidade de lugarejos, pertencentes ao município de Tefé. Esse povo vive da pesca, da extração da borracha, mas, principalmente, de fabricar farinha de mandioca. Os regatões, barqueiros que mascateiam por essas bandas, fazem qualquer negócio. Trocam tecidos, açúcar, sal, cachaça, por farinha, borracha, castanha, juta e o peixe pirarucu seco.

A dois dias da cidade de Tefé, Solimões acima, está a Cidade Fonte Boa, com sete mil habitantes, escolas, hospital. E alguém pode duvidar de que, nesses lugares todos, haja multo epadu? O homem que dois dias depois levaria o delegado Cardoso e sua equipe a uma boa plantação contaria, com naturalidade: “O pessoal vendia o epadu para os regatões; ou trocava por mercadorias”.

No dia seguinte ao da primeira descoberta, logo cedo, os federais voltaram ao ponto onde haviam deixado os pés erradicados de epadu. Com alguma dificuldade, já que as plantas estavam molhadas de chuva, mas usando querosene, conseguiram queimá-las. Isso consumiu muito tempo. Mesmo assim, puseram-se a procurar o dono da plantação. Numa batida em casas de caboclos mais ou menos próximas, nada conseguiram. Embarcaram então na Tubarão e seguiram para Nogueira.

Aqui, ocorreu um pequeno incidente. Uma lavadeira, assustada pela chegada dos policiais, saiu correndo. “Vai avisar alguém” — deduziram Cardoso e seus homens. Os agentes se lançaram à água, armados, no rastro da mulher. Mas logo foi possível encontrá-los conversando com a lavadeira, procurando acalmá-la. De qualquer forma, na Nogueira de sete ou oito famílias, poucos casebres e a igreja, a ação causou alvoroço. Entretanto Cardoso dava novas ordens: e dois de seus homens sumiram na mata durante bom tempo, até voltar trazendo o homem conhecido por Zé Fofo.

Horas depois, na sede do Instituto Brasileiro de Defesa Florestal, o IBDF, que os federais usaram como sede em Tefé, o plantador do epadu queimado daria seu nome verdadeiro: José de Oliveira, 59 anos, nove filhos, plantador de mandioca nascido em Nogueira. “Quando eu me entendi neste mundo, já existiam essas coisas ali” — contava Zé, falando do epadu. Esse homem simples (mas não bobo) contou sobre os estranhos que chegavam a Nogueira “de avião e barco”, à procura do epadu. “Mas isso eu só ouvi dizer. Também fiquei sabendo que um bocado de gente vendeu para eles. Comigo eles não falaram.”

Sabia que é proibido plantar epadu? “Não, desde o tempo do meu avó o povo planta.” E Zé Fofo tenta explicar que o seu epadu era só para vizinhos, que pediam... Mas seis mil pés — pergunta-se, Afinal, entre revoltado e assustado ele protesta’ “Por todos os cantos aí tem, as capoeiras por aí estão cheias, por que eu ia tirar os meus?”

Entra o fotógrafo de um estúdio da cidade para fotografar o indiciado. (Artigo 12, parágrafo 1º, item II, da lei antitóxico de 1978: quem “semeia, cultiva ou faz colheita de plantas destinadas à preparação de entorpecentes ou de susbstância que determina dependência física ou psíquica” está sujeito a reclusão de três a 15 anos.)

Mas como distinguir entre os que plantam o epadu como fizeram a vida toda e os que o fazem para ganhar dinheiro? E, mesmo assim, quantos destes saberão que as folhinhas verdes-claro resultarão num entorpecente que vale 22 mil dólares o quilo em Letícia, 23 mil em Manaus, 25 mil em certa cidade dos Estados Unidos chamada Miami? É um problema difícil, admite Cardoso. Mas diz que a ele compete investigar e prender, e à Justiça, julgar.

A mãe do lavrador Secundino plantava, usava e vendia o epadu. Isso ele mesmo conta. E ainda hoje um arruinado forno de barro, que a velha usava para torrar as folhinhas, pode ser visto junto à roça de mandioca desse homem, adiante das margens do Igarapé Açu — no outro lado do lago. Secundino também fala em peruanos com lanchas voadeiras, negócio de 500 quilos de folha, levaram e nunca mais voltaram. A Polícia Federal esteve lá e queimou tudo.

No terceiro dia de operação, a visita a Secundino foi mais para ver se um novo epadu não tinha sido plantado no lugar do erradicado. Depois disso, a Tubarão aproou para o leste do lago. Sob uma chuva intensa, que encrespava as águas, a lancha navegaria por mais de uma hora. Mas, logo de saída, o delegado Cardoso apanhou o microfone do equipamento de rádio:

— Manaus, Manaus, Manaus. Tubarão chamando.

O chamado que partia de um ponto da selva, no meio da tempestade, repetiu-se várias vezes, sem êxito. Chegou a ser captado por uma delegacia federal de algum outro lugar remoto, que confundiu o Tubarão: “Estamos na escuta, fale Cubatão”. Foi muito difícil, com a recepção chegando mal, explicar as coisas (e Cardoso impaciente). Até que Tubarão conseguiu contato com Manaus e o delegado pôde apresentar à Superintendência do Departamento de Polícia Federal um balanço das atividades da equipe.

Mas quando, olhando pela popa, não se via mais o começo do lago de Tefé, o arrais-piloto reduziu a marcha da lancha. Logo, os homens desciam numa pequena brecha aberta na mata e caminhavam até uma casa típica do caboclo da região, que vive da pesca e da venda de farinha. Sem paredes, coberta por folhas da palmeira-caranã, redes de dormir, pranchas de madeira para simplesmente colocar panelas e coisas do tipo. Em volta, a criação, algumas galinhas e uns porcos.

Periquitos, o japiim “dedo-duro”, bandos de aves faziam ressoar pela mata o seu alarido. Uma mulher, moradora da casa, foi chamar o Alfredo, seu parente. Alfredo prontificou-se; e nova caminhada pela mata, recoberta de variedades de samambaia, de avencas, folhagens de formas e cores variadas, levou os viajantes até uma bela plantação de epadu: 17 mil pés, pelas contas dos agentes. Mr. Lyons fez muitas fotos e recorreu de novo a seu gravador.

Mas em certo momento a informação do delegado Cardoso sobre a facilidade com que o epadu rebrota materializou-se. De um tronco caído e abandonado haviam nascido cinco ou seis novos pés. Estes também, contudo, foram para a pilha que seria queimada.

“Chegar e apanhar”

Uma refeição de queijo, pão e laranja, lambuzados pelo repelente contra insetos passados nas mãos, refez um pouco as forças dos policiais que durante bom tempo desbastaram os pés de epadu. Alguns, preferiram comer castanhas-do-pará, apanhando no chão os cocos — caídos das majestosas castanheiras — que contêm as castanhas.

Mais tarde, trilhando o caminho da volta, encontraram mais epadu. Nesse momento, pareceu claríssima a afirmação que Carlos Alberto Cardoso fizera ainda em Manaus: “É só chegar e apanhar”. Mas, para aquele dia, já tinham eliminado um número satisfatório de pés (no dia seguinte eliminaram a segunda plantação, de 9.207 pés. E indiciaram em inquérito a dona da plantação, Helena Sales).

Mister Larry Lyons, e seu trabalho? O obervador norte-amerricano contou que procurou registrar o porte da planta, tamanho e tipo das folhas e todos os dados que permitam ao DEA uma comparação com a coca de outros países. Colheu muitas folhas, para análise no laboratório do escritório do organismo, em Brasília. O que o DEA pretende é saber o potencial tóxico das folhas, mesmo que seja preciso fazer exames na sede do organismo, em Washington.

Outro detalhe de que se ocupou Lyons foi determinar a localização dos pés de epadu. Seu informe vai orientar os especialistas que se baseiam no uso de satélite para detectar plantações tóxicas. Essa técnica tem dado bons resultados com relação à maconha, plantada no Nordeste. Mas Lyons acha que se o epadu estiver disfarçado entre outras plantas do Amazonas, o uso do satélite não será viável.

De qualquer forma, Lyons concluiu o seu trabalho com pelo menos duas certezas: o epadu achado foi plantado deliberadamente, e com boa técnica; e “se andarmo por aí vamos pegar carradas de pés”.

Finalmente, pode-se perguntar: há organizações maiores, por trás dos colombianos com suas refinarias, ou dos traficantes de outros países sul-americanos? Como se ligam a Miami? O delegado Cardoso diz acreditar na existência de grupos organizados, e Lyons admite que o DEA está investigando alguns grupos (mas, alegando sigilo, é tudo o que diz). Parece ficar claro, entretanto, que ambos acreditam no trabalho intenso de pessoas em condições de oferecer serviço (pilotos, por exemplo), que atuam para quem precisar deles.

De qualquer forma, a atividade dessas pessoas — começando pelos compradores de epadu — preocupa cada vez mais as autoridades brasileiras. Uma prova disso é a idéia ainda não divulgada oficialmente, de a Polícia Federal criar um grupo de operações especiais, com delegados e agentes altamente especializados no combate ao tráfico de drogas. Esse grupo atuaria onde o problema se manifestasse mais grave. Como no Amazonas, por exemplo.

Ou como aconteceu em Tefé, com o colombianos e peruanos em suas lanchas voadeiras. Essa cidade, que no princípio do mês começou a receber imagem direta da televisão, tem 129 anos, teve em 1983 um receita de 150 milhões de cruzeiros e situa-se “no final do Brasil” — no dizer do prefeito pedessista Francisco Hélio Bessa.

E num lugar destes de poucas ruas e um mercado onde se compra uma cambada de 12 peixes por 200 cruzeiros (mas o tomate, vindo de Manaus, custa mil o quilo), e de onde só se sai de avião ou barco (dois dias e meio até Manaus), existe muita pobreza — embora não necessariamente fome. Nos lugarejos da área rural, a situação ainda é mais grave. Por isso tudo, o prefeito acha que é a pobreza que leva alguns lavradores a plantar e vender o epadu.

— Não que sonhem com qualquer riqueza — conclui. — Porque muitos deles provavelmente nem sabem o que é isso.

Jornal da Tarde

Por 46 anos [de 4 de janeiro de 1966 a 31 de outubro de 2012] o Jornal da Tarde deixou sua marca na imprensa brasileira.

Neste blog são mostradas algumas das capas e páginas marcantes dessa publicação do Grupo Estado que protagonizou uma história de inovações gráficas e de linguagem no jornalismo.

Um exemplo é a histórica capa do menino chorando após a derrota da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1982, na Espanha.

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