Juros e spreads no Brasil sobem em janeiro e inadimplência não cede

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Por LUCIANA OTONI

O custo do crédito para os consumidores e as empresas subiu em janeiro, interrompendo uma sequência de 10 meses de queda, em meio à expectativa do mercado de aumento em breve da taxa Selic e em um cenário de inadimplência resistente. De acordo com dados divulgados pelo Banco Central nesta terça-feira, a taxa média de juros cobradas no país --englobando crédito livre e direcionado-- subiu para 18,5 por cento ao ano em janeiro, ante 18,0 por cento em dezembro, na primeira alta desde fevereiro de 2012. A taxa de juros média no segmento de recursos livres ficou em 26,1 por cento, acima da taxa de 25,3 por cento em dezembro. No crédito direcionado, o juro médio subiu para 7,2 por cento no mês passado, ante 7,0 por cento em dezembro. "A alta que vemos nos juros ao tomador e no spread em janeiro vai se intensificar em fevereiro, em função das previsões que indicam possibilidade de alta da Selic", afirmou a economista-chefe da Rosemberg Associados, Thaís Zara. No mercado de juros futuros, as apostas de alta da Selic --atualmente no nível mais baixo da história, a 7,25 por cento ao ano -- ainda no primeiro semestre ganharam corpo nas últimas semanas, diante da resistência da inflação, que atingiu o nível mais alto em oito anos em janeiro. O chefe do departamento Econômico do BC, Tulio Maciel, disse que o perfil do tomador foi um dos fatores que fizeram os juros e o spread subirem no mês passado, sem especificar qual seria esse perfil. Ele acredita que ainda é cedo para dizer que o resultado do mês passado constitui uma tendência para os juros cobrados pelas instituições financeiras. "Dentro de uma modalidade de crédito, e mesmo dentro de um segmento de crédito, temos perfis diferentes do tomador e taxas de juros distintas. Isso pode ser um fator que tenha sido observado no início do ano. A composição das modalidades de crédito também têm peso nessa ponderação", disse ele, acrescentando ainda que não vê o movimento de alta nos juros como consequência da inadimplência ainda em níveis historicamente elevados. Em janeiro, a inadimplência --atraso superior a 90 dias -- nos créditos concedidos com recursos livres e direcionados ficou estável, em 3,7 por cento. Levando em consideração apenas os recursos livres, a inadimplência em janeiro foi de 5,6 por cento, também estável em relação a dezembro. Mesmo com os dados mostrando estabilidade na inadimplência, o BC mantém o discurso --usado ao longo do ano passado--, de que a inadimplência cederá. "Essa avaliação se baseia na evolução da massa de salários. O emprego e o rendimento médio real continuam crescendo e isso nos possibilita assinalar o recuo da taxa de inadimplência", afirmou Maciel. "Não vou mencionar o período certo (em que a inadimplência recuará), os fundamentos apontam nessa direção." SPREAD EM ALTA O spread bancário --diferença entre o custo de captação e a taxa efetivamente cobrada pelos bancos ao consumidor final-- também subiu em janeiro, depois de alguns meses em queda. No segmento de recursos livres o spread subiu para 18,3 pontos percentuais no mês passado, ante 17,6 pontos percentuais em dezembro. Nas operações de crédito direcionado, o spread subiu para 3,1 pontos percentuais em janeiro, ante 2,4 pontos do mês anterior, enquanto que o spread total, incluindo os segmentos livre e direcionado, ficou em 12,2 pontos percentuais no mês passado, ante 11,5 pontos em dezembro. Os dados parciais de crédito para fevereiro, até o dia 8, mostraram o spread com recursos livres estável em 18,3 pontos percentuais, e a taxa de juros também com recursos livres em alta a 26,4 por cento, de acordo com dados do BC. O estoque total de crédito no Brasil ficou estável em janeiro ante dezembro, em 2,367 trilhões de reais, ou 53,2 por cento do PIB, com menor procura por empréstimos e financiamentos tanto por parte das empresas, como das pessoas físicas. O BC projeta para este ano expansão moderada do crédito com previsão de crescimento de 14 por cento, após o aumento de 16,2 por cento em 2012. NOVO RELATÓRIO Os indicadores de crédito foram apresentados pelo BC nesta terça-feira em nota técnica reformulada, com apresentação de novos indicadores, como o de spread e taxa de juros para o crédito direcionado, que responde por mais de 40 por cento do total de crédito no país. Também foram incluídas mais nove modalidades de crédito no segmento da pessoa jurídica e mais quatro modalidades de crédito no segmento da pessoa física.

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