Quadrilhas de assaltantes agem livremente no condomínio Porta do Sol, em Mairinque, a 62 quilômetros de São Paulo. Os ladrões arrombam as casas, levam tudo o que pode ser transformado em dinheiro - aparelhos de som, televisores, eletrodomésticos, CDs, ferramentas, móveis - e vendem muita coisa dentro do próprio condomínio. Uma TV nova, de 20 polegadas, por exemplo, é repassada por apenas R$ 70,00. Em algumas residências, os assaltantes fazem a festa literalmente, banqueteando-se com bebidas e alimentos. A polícia raramente aparece. Os moradores que, no conjunto, pagam R$ 100 mil por mês para uma empresa de segurança, estão apavorados. Muitos eram moradores de São Paulo e tinham se mudado para o interior em busca de segurança e tranqüilidade. As casas, agora, estão à venda. O Porta do Sol é considerado o maior condomínio residencial do interior, com 12 milhões de metros quadrados e quase duas mil casas. Grande parte dos moradores trabalha em São Paulo e passa apenas os fins de semana e feriados no local. A maioria dos imóveis fica sob os cuidados de caseiros. Um deles é suspeito de comandar uma das quadrilhas. A empresa de vigilância Dacala dispõe de seis viaturas para patrulhar as 70 ruas e 60 travessas. Os ladrões não se sentem incomodados. Há ruas, como a Bernardo Guimarães, onde quase todas as casas já foram assaltadas. Nos últimos 15 dias, entraram em mais três na mesma rua. Numa quarta residência, colocaram veneno e mataram um cachorro de grande porte. De pouco adiantam as placas colocadas pelos proprietários alertando sobre os cães bravos. Os ladrões geralmente fogem a pé pelo mato. As trilhas são bem visíveis e muitas seguem em direção a chácaras, fora do condomínio, que podem servir como depósito de objetos roubados. São poucos os moradores que registram queixa. Além do medo de represálias, têm a impressão de que a polícia local nada faz. O condomínio fica a 22 quilômetros da sede urbana, e a ligação é de terra. As denúncias são feitas à empresa de segurança, com todos os detalhes e informações sobre os suspeitos, mas sem resultados. Os vigilantes não têm poder de polícia e temem o confronto com os bandidos. A administração não encaminha os casos à Delegacia de polícia, pois a repercussão desvaloriza os imóveis. "A queixa tem de ser feita pessoalmente pela vítima", alega o vice-presidente jurídico e de segurança do condomínio, Edson Pinto Barbosa. Segundo ele, a Polícia Militar é acionada nos casos mais graves. "Mas a gente precisa pedir pelo amor de Deus para os policiais virem." Barbosa conta que o condomínio doa 200 litros de combustível por mês à Polícia Civil de Mairinque, mas a doação não está condicionada ao policiamento do núcleo. "A polícia pouco faz, embora seja informada sobre os prováveis autores dos furtos." Segundo ele, a extensão do condomínio dificulta o fechamento completo do entorno. "Mas instalamos câmeras nas portarias e alambrados nos pontos mais críticos." Barbosa diz que há dois anos os condôminos ofereceram imóvel, cota de combustível e estrutura para a instalação de uma base comunitária da Polícia Militar, mas o comando da PM indeferiu o pedido. Ele culpa os próprios moradores pela falta de cuidados na contratação de caseiros e prestadores de serviços. "Teve casos de caseiros que eram bandidos com uma folha corrida imensa." O delegado de Mairinque, Luís Antonio Lara, reconheceu que o índice de roubos no Porta do Sol é maior que no restante do município. "É praticamente uma cidade, com casas de alto padrão que ficam vazias à noite." Até 1998 funcionava um distrito policial na região, mas foi desativado por decreto assinado pelo ex-governador Mário Covas. A polícia prendeu em flagrante, na semana passada, no condomínio, o pedreiro Wellington Luís Pereira, acusado de furtar materiais de construção em uma residência. Também foram presos A. H. e E.A. S., moradores de Itapevi, suspeitos de roubar moradias no Porta do Sol. Com eles foram apreendidos várias armas e capuzes. Outros dois suspeitos de integrar a quadrilha estão sendo procurados. Segundo Lara, a polícia investiga um caseiro suspeito de furtar moradias. "Falamos com o patrão, mas ele o protege." Segundo a prefeitura, o condomínio possui 3 mil lotes, dos quais 1.700 têm construções. Os moradores pagam IPTU em Mairinque, mas não dispõem de iluminação pública nas ruas. A prefeitura está sem recursos para a melhoria. O prefeito Antonio Alexandre Gemente (PSDB) disse que a pavimentação da estrada que dá acesso à região do Porta do Sol facilitará a integração do núcleo à cidade e melhorará a segurança. A obra foi pedida ao Governo do Estado. Gemente vai aumentar de 22 para 54 o número de guardas municipais para auxiliar no policiamento. A Câmara de Mairinque enviou ofício à Secretaria da Segurança Pública pedindo que seja aumentado o efetivo das polícias no município.
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