SÃO PAULO - O derramamento de lama da Samarco destruiu 1,5 mil hectares de terra e contaminou mais de 650 km de rios, incluindo áreas de preservação permanente, segundo um laudo técnico preliminar do Ibama, que vai subsidiar a ação civil pública de R$ 20 bilhões que o governo federal está movendo contra a empresa.
O relatório, ao qual o Estado teve acesso com exclusividade, faz um raio X da destruição ambiental causada pelo colapso da barragem do Fundão em Mariana (MG), no dia 5 de novembro. Segundo o documento, o volume de rejeitos que vazaram foi de 34 milhões de metros cúbicos, de um total de 50 milhões que estavam dentro da barragem.
“É indiscutível que o rompimento da barragem trouxe consequências ambientais e sociais graves e onerosas, em escala regional”, diz o laudo, elaborado pela Diretoria de Proteção Ambiental (DIPRO) e Coordenação Geral de Emergências Ambientais (CGEMA) do órgão.
Lama avança pelo Rio Doce
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Lama avança pelo Rio Doce
Na tarde de terça-feira, 17 de novembro, já é possível ver o avanço da lama pela Usina de Aimorés, na divida de Minas com o Espírito Santo. Foto: Fred Loureiro/Secom-ES
Lama avança pelo Rio Doce
A Defesa Civil monitora o movimento da lama de rejeitos, proveniente das barragens que se romperam em Mariana (MG), no dia 5 de novembro Foto: Fred Loureiro/Secom-ES
Lama avança pelo Rio Doce
Moradores de Baixo Guandu, no Espírito Santo, observam a chegada da lama Foto: GABRIELA BILO / ESTADAO
Lama avança pelo Rio Doce
Lama de barragem chega a Colatina, no Espírito Santo Foto: Fred Loureiro/Secom-ES
Lama avança pelo Rio Doce
Após 11 dias descendo pelas águas do Rio Doce, a lama de rejeitos de minério que vazou das barragens da Samarco, na cidade de Mariana, em Minas Gerais... Foto: SECOM/ESMais
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No município de Baixo Guandu, no Espírito Santo,a captação de água no Rio Doce foi suspensa Foto: Fred Loureiro/Secom-ES
Lama avança pelo Rio Doce
A Defesa Civil monitora o movimento da lama de rejeitos, proveniente das barragens que se romperam em Mariana (MG), no dia 5 de novembro Foto: Fred Loureiro/Secom-ES
Lama avança pelo Rio Doce
Na foto, encontro do Rio Manhuaçu com o Rio Doce, já coberto por lama das barragens. Foto: Fred Loureiro/Secom-ES
Lama avança pelo Rio Doce
Na foto, encontro do Rio Manhuaçu com o Rio Doce, já coberto por lama das barragens. Foto: Fred Loureiro/Secom-ES
Lama avança pelo Rio Doce
Lama de barragem chega a Colatina, no Espírito Santo Foto: Fred Loureiro/Secom-ES
Lama avança pelo Rio Doce
Lama de barragem chega a Colatina, no Espírito Santo Foto: Fred Loureiro/Secom-ES
Lama avança pelo Rio Doce
Lama de barragem chega a Colatina, no Espírito Santo Foto: Fred Loureiro/Secom-ES
O colapso da barragem gerou uma onda de lama que percorreu 55 km do Rio Gualaxo do Norte até atingir o Rio do Carmo, no qual percorreu mais 22 km, e chegar ao Rio Doce, no qual viajou mais algumas centenas de quilômetros até chegar ao mar, 16 dias depois, no norte do Espírito Santo. No total, segundo o Ibama, 663 km de rios foram diretamente impactados.
O relatório não fala dos impactos da lama sobre o ambiente marinho. O foco da análise é sobre os impactos nos rios e seus ecossistemas marginais, considerados Áreas de Preservação Permanente (APPs).
Florestas. O laudo não chega a calcular quanto dos 1.469 hectares diretamente atingidos pela lama (cerca de 15 km2) continhavegetação nativa. A Bacia do Rio Doce está quase que totalmente inserida no bioma Mata Atlântica, mas 95% das suas terras são cobertas de pastos e capoeiras (vegetação secundária), segundo o relatório. Ou seja: a bacia já foi quase que completamente desmatada para atividades agropecuárias, o que contribuiu historicamente para o assoreamento e degradação ambiental de seus rios.
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Ainda assim, por se tratarem de APPs, essas áreas deverão ser obrigatoriamente recuperadas.
Apenas 11,6% das florestas originais da região continuam de pé, segundo o relatório (baseado em dados da Fundação SOS Mata Atlântica e INPE), e isso graças a algumas poucas unidades de conservação que existem ali - em especial o Parque Estadual do Rio Doce, de 35 mil hectares, a maior área de Mata Atlântica preservada em Minas Gerais. E também a Reserva Biológica de Sooretama, de 27,8 mil hectares, no Espírito Santo.
“Considerando o porcentual de reserva legal de 20%, há um passivo de cobertura florestal (na Bacia do Rio Doce) da ordem de 760 mil hectares”, diz o relatório.
Lama de barragem polui cursos d'água e ameaça subsistência
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Lama de barragem polui cursos d'água e ameaça subsistência
O serralheiro Gilson Felipe de Rezende, de 42 anos, cuida de cerca de 15 cabeças de gado em um pequeno pasto na margem do Rio do Carmo, na cidade mine... Foto: MÁRCIO FERNANDES/ESTADÃOMais
Lama de barragem polui cursos d'água e ameaça subsistência
Guiando um barco com motor de popa, o pescador Eli da Silva Soares, o Paco, de 38 anos, percorre com cautela parte da região afetada e tem olhos aguça... Foto: GABRIELA BILÓ/ESTADÃOMais
Lama de barragem polui cursos d'água e ameaça subsistência
De cima, a água laranja do Rio Doce parece estática. A lama de rejeitos vinda de Mariana se move a cerca de 1,2 quilômetro por hora desde a quinta-fei... Foto: GABRIELA BILÓ/ESTADÃOMais
Lama de barragem polui cursos d'água e ameaça subsistência
De perto, é mal cheirosa e, mesmo distante mais de 230 quilômetros do ponto do rompimento das barragens, carrega pedaços de árvore e detritos arrancad... Foto: GABRIELA BILÓ/ESTADÃOMais
Lama de barragem polui cursos d'água e ameaça subsistência
No passeio pelo cenário sem vida, não é preciso perguntar nada para ouvir de Paco e de suas irmãs Elaine, de 36, e Eliane da Silva, de 39 anos, os rel... Foto: GABRIELA BILÓ/ESTADÃOMais
Lama de barragem polui cursos d'água e ameaça subsistência
"Isso não vai recuperar nem daqui a cinco anos. Quem falar isso está mentindo", diz o pescado endossado pelas irmãs. "A gente vive disso daqui e agora... Foto: GABRIELA BILÓ/ESTADÃOMais
Lama de barragem polui cursos d'água e ameaça subsistência
Está a exatos 71 quilômetros de distância do ponto em que as barragens da mineradora Samarco romperam. E está encoberto de barro. Foto: MÁRCIO FERNANDES/ESTADÃO
Lama de barragem polui cursos d'água e ameaça subsistência
Mesmo a essa distância, a lama foi capaz de formar, ali, uma "casca" nas margens e no fundo do rio, que chega a 1 metro de espessura tanto no lado do ... Foto: MÁRCIO FERNANDES/ESTADÃOMais
Lama de barragem polui cursos d'água e ameaça subsistência
O curso d'água em que, antes, era possível navegar de canoa, virou um rio raso. Dá para caminhar de uma margem à outra com água na altura dos joelhos,... Foto: MÁRCIO FERNANDES/ESTADÃOMais
Lama de barragem polui cursos d'água e ameaça subsistência
Nesta crosta de lama ao redor do rio, os peixes aparecem aos montes, grudados no chão de lama, como se fossem fósseis encontrados por arqueólogos. Foto: MÁRCIO FERNANDES/ESTADÃO
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Biodiversidade. Com relação à biodiversidade de peixes da Bacia do Rio Doce, os técnicos do Ibama estimam haver mais de 80 espécies nativas, das quais 11 são classificadas como ameaçadas de extinção e 12 são endêmicas do Rio Doce - ou seja, não existem em nenhum outro lugar. O documento destaca que a “mortalidade instantânea” de peixes “é apenas um dos impactos” do desastre. “Muito mais do que os organismos em si, os processos ecológicos responsáveis por produzir e sustentar a riqueza e a diversidade do Rio Doce foram afetados”, diz o laudo.
“Cabe ressaltar que os impactos ambientais não se limitam aos danos diretos, devendo ser considerado que o meio ambiente é um sistema complexo, no qual diversas variáveis se interrelacionam, especialmente no contexto de uma bacia hidrográfica”, diz o relatório. “As medidas de reparação dos danos, tangíveis e intangíveis, quando viáveis, terão execução a médio e longo prazo, compreendendo neste caso pelo menos dez anos.”