Lewandowski pede ‘rigorosa apuração’ sobre empresa de laranja que atua em prisão de Mossoró

Ministério toma medida após ‘Estadão’ revelar que companhia contratada em 2022 para manutenção em presídio está em nome de laranja; responsável por obra nega irregularidade

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Atualização:

BRASÍLIA - O Ministério da Justiça informou que vai pedir “rigorosa apuração” sobre a empresa R7 Facilities, que presta serviço de manutenção do presídio federal de Mossoró (RN) de onde fugiram dos presos no último dia 14. A medida foi adotada depois de o Estadão revelar que a companhia está em nome de um laranja que mora na periferia de Brasília e que era beneficiário do auxílio emergencial.

O Ministério da Justiça e Segurança Pública irá acionar os órgãos competentes federais para que seja realizada rigorosa apuração referente à lisura da empresa citada”

Ministério da Justiça, em nota ao Estadão

A pasta chefiada pelo ministro Ricardo Lewandowski desde 1º de fevereiro destacou, ainda, que a Polícia Federal investiga as condições da fuga dos detentos da penitenciária.

Prisão de Mossoró teve fuga de dois detentos no dia 14 Foto: Presídio Federal de Mossoró/Facebook

Uma das suspeitas sob investigação é a de que uma obra dentro do presídio teria facilitado a fuga de dois presos faccionados do Comando Vermelho. Em entrevista coletiva na quinta-feira, 15, Lewandowski afirmou que a fuga foi consequência de uma “série de fatores”. Entre eles, uma reforma que ocorria na unidade prisional.

O presídio estava passando por uma reforma interna, várias instalações estavam sendo reformadas. Havia operários lá dentro da unidade prisional. Ferramentas existiam lá dentro. Infelizmente, pelas informações que temos, não estavam devidamente acondicionadas e trancadas”

Ricardo Lewandowski, em entrevista coletiva em 15 de fevereiro, um dia após a fuga

É a primeira fuga da história dos presídios de segurança máxima no País. Rogério da Silva Mendonça, conhecido como Tatu, e Deibson Cabral Nascimento, o Deisinho, ainda não foram encontrados, e as buscas entraram no oitavo dia. Segundo Lewandowski, eles não eram “hierarcas” dentro da organização criminosa.

Empresa diz ser preconceituoso classificar empresários como laranjas

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A R7 Facilities foi contratada em abril de 2022 para prestar o serviço de manutenção do presídio. O contrato foi renovado em abril de 2023. O custo total é de R$ 1,7 milhão.

A contratação, segundo o objeto do contrato, consiste em “serviços contínuos de operação, de manutenção predial preventiva, corretiva e preditiva, que compreenderá o fornecimento de mão de obra exclusiva”. Também compreende o oferecimento de “todo o material de consumo e insumos necessários e adequados à execução dos serviços, bem como para a realização de serviços especializados sob demanda em todas as instalações da penitenciária”.

O Estadão revelou nesta quarta-feira, 21, que Gildenilson Braz Torres é dono da R7 somente no papel. Ele é um ex-beneficiário do auxílio emergencial que mora na periferia de Brasília e não soube dar informações sobre a operação da companhia com faturamento anual da ordem de R$ 195 milhões.

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Ao Estadão, Gildenilson afirmou ter CEO, diretores e outros empreendimentos, mas que não podia dar informações sobre eles. Ele desligou o telefone logo após a reportagem insistir em mais detalhes.

“Cara, tipo assim, ‘tá’ rolando uns negócio aí do contrato que a gente tem terceirizado de Mossoró. É sobre isso? Tipo assim, tenho de conversar com meu advogado. Não posso falar nada sem conversar com ele. Qualquer coisinha, pego seu número e entro em contato”, afirmou.

Antes, desde janeiro de 2021, a companhia estava em nome de outro “testa de ferro”, o bombeiro civil Wesley Fernandes Camilo. Foi ele quem assinou o contrato, em 2022, com o antigo Departamento Penitenciário Nacional (Depen), atual Senappen.

Hoje, Wesley Camilo trabalha como brigadista em um hospital particular de Brasília e afirmou ter renda mensal de R$ 4 mil. Mesmo assim, alegou estar satisfeito por ter repassado a empresa de balanço milionário da qual aparecia como único dono.

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O bombeiro civil afirmou que comprou a empresa milionária sem desembolsar nada. Segundo ele, a firma foi repassada com créditos não recebidos e ele trabalharia para recuperá-los. O brigadista negou ter sido um laranja.

“Na realidade, irmão, eu comprei do Ricardo e passei para para o Gil. Mas isso aí, bicho, vai além de tudo isso. O meio é fogo, irmão. É só você pesquisar. Para ficar num meio sujo e perverso, melhor sair e passar para a mão dos caras”, disse Wesley, negando-se a detalhar a que se referia.

O fundador da empresa é Ricardo Caiafa, um empresário de Brasília. Ele afirmou que decidiu vender a companhia porque enfrentava dificuldades no mercado e decidiu sair do ramo. Foi procurado por um advogado que intermediou a negociação para Wesley Camilo.

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Caiafa afirma não ter mais ligação com a R7. Diferentemente dos novos donos, ele mora em uma casa no Lago Sul, considerado o bairro com a maior renda per capita do País. A reportagem não encontrou indícios de que ele tenha vínculos com o grupo que controla a empresa atualmente.

Em nota, a empresa R7 Facilities alegou que é “imprudente” e “preconceituoso” se referir a Camilo e Gildenilson como laranjas. “O sr Wesley Camilo foi sócio da empresa R7 Facilities e o sr Gildenilson é o atual sócio, como pode ser verificado em documentos públicos junto à Junta Comercial do Distrito Federal”. A empresa se recusou a comentar sobre a fuga dos dois presos ligados ao Comando Vermelho, não especificou como atua no Rio Grande do Norte e não informou se irá colaborar com as investigações.

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