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Liberdade com ruas fechadas para carros: como foi o primeiro dia do programa na região?

Quatro ruas da região central de São Paulo ficarão fechadas para os carros e aberta aos pedestres aos domingos e feriados, a exemplo do que ocorre na Avenida Paulista

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Foto do author Danilo Casaletti
Atualização:

A chuva constante que caiu pela manhã em São Paulo - entre 10 e 11 horas da manhã foi mais forte - afugentou o público no primeiro domingo do programa municipal Ruas Abertas no bairro da Liberdade, na região central. Quando o tempo chuvoso deu trégua, depois do meio-dia, o movimento aumentou um pouco.

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Planejado pela Prefeitura durante quatro meses, a iniciativa tem como objetivo resolver uma questão que tem incomodado o bairro há algum tempo: muito público e pouco espaço para se caminhar aos domingos, quando a feira gastronômica, as bancas de artesanato, lojas e restaurantes atraem pessoas para a região.

Em dias de maior movimento, quando o bairro recebe cerca de 90 mil pessoas, as ruas no entorno da Praça da Liberdade lembram a Rua 25 de Março, rua popular de comércio no centro.

Ruas abertas para a população no bairro da Liberdade. Com o dia chuvoso, o guarda-chuva foi indispensável Foto: Tiago Queiroz/Estadão

A exemplo do que ocorre na Avenida Paulista aos domingos e feriados desde 2015, o quadrilátero formado pela Rua dos Estudantes (entre a Av. da Liberdade e Rua da Glória), a Rua dos Aflitos, a Rua Américo de Campos (trecho entre a Rua Galvão Bueno e a Rua da Glória) e a Rua Galvão Bueno (trecho entre a Rua Américo de Campos e a Praça da Liberdade) ficará fechado para carros e aberto para pedestres entre 9h e 20h.

A professora de inglês Rafaela Aquino, que estuda no bairro, enfrentou o passeio de guarda-chuva, acompanhada de um amigo. Para ela, a ação é bem-vinda. “Dá mais espaço para as pessoas caminharem pelas ruas. Assim fica melhor para conhecerem a Liberdade. Ultimamente, estava bem ruim para caminhar. O risco de um acidente era grande”, diz ela, sobre a movimentação dos pedestres em meio aos carros.

Ela também espera que a segurança aumente. “Nunca fui assaltada ou roubada aqui, mas já ouvi relatos de pessoas que foram.” O Estadão viu apenas dois policiais parados em um ponto da Rua Galvão Bueno na parte da manhã, horário em que a movimentação ainda era pequena. Mais tarde, uma viatura se posicionou próximo a entrada das barracas de comida. Em nota, a Polícia Militar de São Paulo disse à reportagem que destacou 20 policiais para a área neste domingo. Disse ainda que, se necessário, aumentará o efetivo na região.

Já a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) fazia um trabalho mais ostensivo, sobretudo nos trechos das interdições. Também havia carros da companhia parados na Praça da Liberdade, que neste domingo ganhou novo nome, Praça da Liberdade África-Japão, em referência aos povos que colonizaram e fizeram a história do bairro.

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A inauguração das novas placas foi feita pelo vereador Paulo Reis, do PT, sob forte chuva e para uma plateia pequena. O prefeito Ricardo Nunes (MDB) não compareceu ao local.

A Praça da Liberdade ganhou um novo nome: Praça Liberdade África-Japão Foto: Tiago Queiroz/Estadão

A corretora de imóveis Ana Paula Martinez visitava a Liberdade pela primeira vez. Ela veio de Santos, no litoral de São Paulo, com a filha, fã da cultura oriental. Elas foram atraídas por fotos nas redes sociais que mostram a movimentação do bairro no fim de semana.

Elas aprovaram o passeio, mas não sabiam que a partir deste domingo as ruas seriam exclusivas para pedestres. “Não vimos nenhum anúncio sobre isso, mas acho boa iniciativa. É melhor para andar”, diz Ana Paula.

Nem todos ficaram satisfeitos

Logo cedo, o representante da Secretaria Municipal de Urbanismo e Licenciamento, o arquiteto Pedro Martin Fernandes, acompanhou o primeiro dia do Ruas Abertas na Liberdade.

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Em conversa com o Estadão, Fernandes, que acompanhou todo o processo de implementação do projeto no bairro, disse que a Prefeitura levou em conta, em seu estudo sobre quais ruas ficarão abertas ao público, o comércio, a gastronomia e as atrações culturais do bairro.

Em junho, a Prefeitura abriu consulta pública para entender como a população do bairro receberia o programa. A pasta diz ter recebido mais de quatro mil contribuições, com 89% de aprovação da proposta de fechar as vias. Uma audiência pública presencial ocorreu em julho. Nela, moradores e comerciantes apresentaram seus questionamentos, que foram revistos em um segundo encontro com os representantes da gestão municipal.

“Acolhemos as solicitações. Os comerciantes, em um primeiro momento, tinham a impressão de que o fechamento das ruas traria problemas de logística. O ajuste que fizemos foi tirar a Rua Tomaz Gonzaga dessa operação para garantir quatro estacionamentos importantes da região”, afirma Fernandes. Ele diz que, segundo pesquisa feita pela Prefeitura, os visitantes preferem chegar ao local utilizando o transporte público.

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O programa terá outro grande teste no dia 12 de outubro, feriado de Nossa Senhora Aparecida, numa quinta-feira. “A expectativa é alta. Precisamos garantir espaço de permanência aqui no centro”, diz Fernandes. “Nossa ideia não é aumentar o número de visitantes, mas sim qualificar a experiência de quem visita o bairro.”

Depois da fase de implementação, que deve durar cerca de três meses, o próximo passo prevê obras, com ampliação de calçadas e áreas verdes - a licitação está prevista para ser lançada até o fim do ano. Há ainda um projeto para a construção do Memorial dos Aflitos, em um terreno que fica entre as ruas Galvão Bueno e a dos Aflitos, importante espaço da presença da cultura negra e indígena na Liberdade.

Na Rua Galvão Bueno, que concentra o número maior de pessoas aos domingos e feriados, a ideia é que tenha cada vez menos espaço para carros, mesmo durante a semana. Quem não aprova a iniciativa é o ambulante Mauricio de Souza, que trabalha no local desde 1995, de terça a domingo, desde que chegou de Natal.

Ambulantes se concentram na Rua Galvão Bueno Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Souza diz que espera que a experiência seja boa para os comerciantes da região. Mas, por enquanto, é cético quanto a isso. “Fica uma interrogação. Aqui vem muita gente de poder aquisitivo, de carro. Com as ruas fechadas, não sei se vão querer estacionar lá embaixo e subir a pé”, diz.

O ambulante vende bonecos de anime e funko pop. O valor de sua mercadoria varia entre R$ 50 e R$400. “Quem gasta mais aqui na Liberdade são os turistas. Uma coisa é aumentar o público, outra é aumentar o público com poder aquisitivo de compra”, diz.

Outra vendedora ambulante que não quis se identificar, disse que a fiscalização aumentou nesse primeiro dia de ruas fechadas. Ela aguardava para colocar sua mercadoria no chão na mesma Galvão Bueno. “Antes passava (a fiscalização) só às 10h30. Agora, já passou várias vezes. Somos trabalhadores, não criminosos”, ela diz.

Diferentemente do que ocorre na Avenida Paulista em domingos e feriados, as ruas da Liberdade não receberam artistas de rua neste primeiro dia do programa Ruas Abertas.

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Sobre obras inacabadas na Praça da Liberdade, a Prefeitura disse que a “a Praça da Liberdade recebeu na última semana diversos serviços de zeladoria, entre eles a reforma de sarjeta”. Segundo a nota, o local está interditado devido à “cura do concreto” e deverá ser liberado nesta semana. “A cura do concreto exige que ele fique intocável por alguns dias, então os restos da antiga sarjeta ficam provisoriamente sobre o concreto novo para que não haja o risco de que carros ou pessoas trafeguem nele”, diz.

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