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Lula admite que Brasil ‘não estava 100% preparado’ para combater queimadas

Presidente afirma em reunião que falta aos Estados estrutura de Defesa Civil, bombeiros e brigadistas

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Foto do author Victor Ohana
Foto do author Sofia  Aguiar
Atualização:

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva admitiu que o Brasil “não estava 100% preparado” para combater as queimadas. A declaração ocorreu em reunião com autoridades dos outros Poderes no Palácio do Planalto, nesta terça-feira, 17, quando se discutiu ações sobre os incêndios.

“O dado concreto é que, hoje, no Brasil, a gente não estava 100% preparado para cuidar dessas coisas. As cidades não estão cuidadas; 90% das cidades estão despreparadas para cuidar disso”, afirmou.

Para Lula, questão climática 'está pior do que em qualquer outro momento'. Foto: Ricardo Stuckert/PR

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Lula continuou: “Os Estados são poucos que têm preparação, que têm Defesa Civil, que têm bombeiros. Brigadistas, quase ninguém tem”.

O presidente afirmou ainda que “a natureza resolveu mostrar as suas garras”.

“Ela (a natureza) resolveu nos dar uma lição de dizer o seguinte: ‘olha, ou vocês cuidam corretamente de mim, ou eu não sou obrigada a suportar tanta irresponsabilidade, tanta coisa errada, equivocada, que os humanos estão fazendo’”, declarou.

Lula da Silva pretende levar à próxima Marcha dos Prefeitos uma pauta de reivindicações às administrações municipais com relação à necessidade de estruturas para a segurança ambiental. “Não é um problema do governo federal. Ou seja, quando dá uma dor de barriga em Roraima, quando dá uma dor de barriga no Acre, é um problema que lá tem que ter estrutura para cuidar disso e não precisar ficar se socorrendo no governo federal.”

Como o Estadão mostrou, o governo Lula foi alertado sobre a seca, a maior desde o início da série histórica há 74 anos, e o risco de escalada dos incêndios florestais. Uma série de documentos incluindo ofícios, notas técnicas, atas de reuniões e processos judiciais mostra que a gestão petista tinha ciência do que estava por vir desde o início do ano.

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O Ministério do Meio Ambiente afirmou, após a publicação da reportagem, que o governo se antecipou, mas que ninguém esperava eventos nas proporções atuais. Disse ainda que não é possível controlar a situação se o “povo” continuar provocando incêndios.

Em meio à crise climática, nas últimas semanas o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino deu 15 dias para que a União mobilizasse o maior contingente de agentes das Forças Armadas, da Polícia Federal, da Polícia Rodoviária da Força Nacional e da fiscalização ambiental para conter os incêndios, cobrou informações da Advocacia-Geral da União sobre como o governo conduz o trabalho, mobilizou a convocação de bombeiros de Estados não atingidos com queimadas e autorizou o governo federal a usar crédito extraordinário fora da meta fiscal para combater incêndios.

Leis, decretos e medidas provisórias

O presidente afirmou nesta terça-feira que a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, deve apresentar propostas para o combate aos incêndios, que serão transformadas pelo governo em leis, decretos e medidas provisórias.

“A gente vai querer ouvir outros segmentos da sociedade, porque a gente quer compartilhar, não apenas as dores dos problemas, mas a gente quer compartilhar com a sociedade brasileira, com o Congresso Nacional, com o Judiciário brasileiro, uma solução que seja definitiva para essa questão do clima.”

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Segundo Marina Silva, há 690 incêndios no Brasil atualmente, dos quais aproximadamente 290 incêndios foram extintos. De acordo com a ministra, 179 incêndios foram controlados, 108 incêndios estão sob combate, e cerca de 106 incêndios estão ativos e sem combate. “Esses incêndios não têm combate, ou porque estão em área remota, ou porque os nossos equipamentos têm dificuldade de acesso”, declarou.

Marina ressaltou que o Brasil vive uma das piores secas do mundo e que apenas o Rio Grande do Sul e Santa Catarina não estão nessa situação.

Segundo Marina, mesmo com a proibição do uso do fogo em território nacional, há pessoas que “continuam ateando fogo”. A ministra afirmou que o processo de monitoramento dos incêndios é “de grande complexidade” e que “o governo fez esforços necessários” para executar ações preventivas às queimadas.

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De acordo com o Lula há “indícios fortes” de que muitos incêndios que ocorrem no País são criminosos. “Tivemos, nos últimos dias, um agravamento da situação no Brasil. A gente ainda não pode falar que são criminosas a quantidade de incêndios que estão acontecendo no Brasil. Há indícios fortes”, declarou.

O presidente citou a situação no Distrito Federal, cuja seca já é considerada histórica. “No domingo à tarde, recebo a notícia de que estava pegando fogo no Parque Nacional. Peguei o helicóptero, e a impressão que eu tinha era uma régua que tinha sido traçada e tinha sido tocado fogo”, disse.

Incêndio em área de proteção ambiental do Parque Nacional de Brasília, a poucos quilômetros de distância da Granja do Torto, uma das residências oficiais da Presidência da República.  Foto: Eraldo Peres/AP

Lula afirmou ainda que a reunião desta terça-feira com as autoridades servirá como uma revisão sobre o conceito de “questão climática”. “Ela (a questão climática no Brasil) está pior do que em qualquer outro momento”, afirmou.

Dentre os presentes à reunião no Planalto, foram confirmados o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, os presidentes do Senado e da Câmara, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) e Arthur Lira (PP-AL), e os ministros Rui Costa (Casa Civil), Ricardo Lewandowski (Justiça), Marina Silva (Meio Ambiente), Alexandre Padilha (Relações Institucionais) e Jorge Messias (Advocacia-Geral da União), além do vice-presidente Geraldo Alckmin, a ministra da Saúde, Nísia Trindade, o ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, o ministro da Secretaria de Comunicação Social, Paulo Pimenta, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, o presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Herman Benjamin, e o vice-presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), Vital do Rêgo Filho.

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