BOA VISTA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) anunciou nesta terça-feira, 7, que foram identificadas 75 pistas clandestinas próximas do território indígena Yanomami, em Roraima. A região possui uma profusão de rotas aéreas clandestinas, com atividade dentro e fora do território nacional, mantida pelo crime organizado para extrair ouro e cassiterita. Desde a semana passada, a Força Aérea Brasileira (FAB) aumentou o controle do espaço aéreo na região, com o objetivo de neutralizar o tráfego de aeronaves relacionadas à mineração ilegal, em um trabalho de estrangulamento logístico do crime que reúne cerca de 25 mil garimpeiros na floresta.
“Temos 840 pistas clandestinas, só perto das terras Yanomami são 75. Não é possível não enxergar isso. Quem permitiu isso tem de ser responsabilizado”, escreveu o presidente no Twitter. Na segunda-feira, a FAB anunciou a abertura parcial do espaço aéreo nas terras indígenas Yanomami, com a criação de três corredores de voo para viabilizar a saída de garimpeiros da região. Os mineradores, que têm pedido ajuda às autoridades para sair do território, terão uma semana para aproveitar a alternativa oferecida pela FAB, uma vez que os corredores vão ficar ativados até a próxima segunda-feira.
Os corredores têm 11 quilômetros de largura. As aeronaves particulares dos garimpeiros têm autorização de voo desde que se mantenham dentro dos limites laterais e verticais estabelecidos pela FAB. “Não vamos permitir garimpo ilegal em terras indígenas. Estamos em um processo de retirada de garimpeiros ilegais em Roraima. A situação em que se encontram os Yanomami perto do garimpo é degradante. Precisamos apurar também a responsabilidade do que aconteceu”, disse Lula.
Segundo o presidente da República, o controle das terras indígenas será reestruturado com a participação de prefeitos e governadores. Nesta terça-feira, o governador de Roraima, Antonio Denarium (PP), anunciou a formação de uma comissão externa para propor alternativas para a retirada de garimpeiros das áreas indígenas no Estado. A ação foi anunciada após reunião com senadores do Estado e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
De acordo com Denarium, a ação conta com a participação de Ministério Público Federal, Ministério da Justiça, governo do Estado e senadores. A ideia é chamar parlamentares para visitar o Estado e propor alternativas para a retirada dos garimpeiros ilegais. Deverão ser criadas áreas de mineração em cooperativas de garimpeiros, além de programas sociais fora das áreas indígenas, para atender trabalhadores de garimpo em áreas de difícil acesso.
Atendimento médico
Cerca de 350 indígenas estão internados nos hospitais de Roraima. Mulheres e crianças são as mais atingidas. “A área Yanomami virou campo de concentração”, disse o secretário de Saúde Indígena do Ministério da Saúde, Ricardo Weibe Tapeba.
O hospital da base Surucucu ainda está em montagem dentro do plano de contingência e a Casai, que é o hospital de atendimento indígena, abriga 281 Yanomamis, sendo mais de 50 crianças em quadro grave de desnutrição. Segundo Tapeba, o polo de referência do Surucucu estava sem água, internet, telefone e energia.
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A capital Boa Vista tem 56 crianças indígenas internadas no Hospital da Criança Santo Antônio, administrado pelo município. O local é a única unidade de saúde em Roraima que atende crianças a partir dos 29 dias de vida até 12 anos. Dessas, 46 são Yanomamis e três delas estão na UTI com diarreia aguda, gastroenterocolite, desnutrição, pneumonia, acidente ofídico e malária. / COLABOROU SOFIA AGUIAR
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