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Opinião | A busca pela "beleza perfeita" pode destruir a nossa autoestima

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Foto do author Paulo Silvestre
Essas duas imagens são da mesma mulher: a diferença é que a da direita está maquiada e modificada digitalmente - Foto: reprodução

Pode não parecer, mas as duas mulheres nessa imagem são a mesma pessoa, praticamente no mesmo momento. A diferença entre elas é uma sessão de maquiagem intensa e uma posterior edição digital da fotografia.

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Ela é Stephanie Betts, que estrelou em 2006 a peça "Evolution", da campanha "Real Beleza" da Dove, vencedora de dois Grand Prix no festival Cannes Lions. No filme de 75 segundos (que pode ser visto aqui), a hoje executiva de conteúdo aparece inicialmente sem qualquer produção. Uma filmagem acelerada mostra sua transformação depois de horas de maquiagem e retoques em seu cabelo.

Se já não bastasse, sua foto passa por um programa de edição de imagens, em que seu pescoço é alongado, os ombros ajustados, o cabelo e a pele suavizados e seus olhos e boca ampliados. No final, ela está completamente diferente do que realmente é, porém mais próxima do ideal de beleza imposto pela sociedade.

O objetivo das peças da campanha é conscientizar as pessoas, especialmente mulheres, de que esse ideal de beleza não deve ser perseguido, pois é inatingível. Apesar de bons debates derivados da iniciativa, ainda vemos isso acontecer, especialmente entre meninas.

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As redes sociais, com destaque para Instagram e TikTok, jogam contra esse trabalho. As ferramentas e filtros de edição de imagem fazem hoje, com poucos toques na tela e sem nenhum conhecimento técnico, o que levou horas e exigiu profissionais e muito dinheiro no filme acima.

Com isso, meninas (e em menor escala meninos) têm sua autoestima e confiança abaladas há anos, ao se comparar com as pessoas que seguem nas redes, que parecem mais bonitas e "perfeitas" (note as aspas).

Na verdade, elas não são! O problema é que suas fotos nas redes são tão "aperfeiçoadas", que suas imagens deixam de representar a realidade. Para combater isso, a mesma Dove lançou outro filme há dois anos, chamado "Reverse Selfie". Nele, o processo de uma adolescente criando uma selfie com esses filtros, em busca de aceitação nas redes, é exibido do fim para o começo.

Esses recursos agravam problemas de saúde mental de adolescentes. O mais perverso é que, se antes a dificuldade de aceitação do próprio corpo era ampliada pela comparação com suas amigas online, agora isso se agrava pela comparação com a versão de si mesmas modificada digitalmente.

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As plataformas digitais têm plena consciência do problema, mas não estão muito interessadas em resolvê-lo, pois a prática aumenta sua audiência. Isso ficou claro em 2021, no escândalo dos "Facebook Papers", em que a ex-gerente da equipe de integridade cívica da Meta Frances Haugen veio a público com milhares de documentos indicando que a empresa sabe disso e que não apenas faz pouco para combater esse efeito, como o reforça com seus algoritmos.

Nossos celulares ganham cada vez mais recursos assim. Não nos enganemos: as pessoas os usarão, mesmo estando despreparadas emocionalmente para isso.

O impacto na formação da personalidade de adolescentes pode ser devastador. Como as plataformas digitais não parecer estar dispostas a fazer o que é necessário na medida certa, cabe a pais e a educadores oferecer o apoio e a orientação necessárias a crianças e adolescentes. O problema pode estar acontecendo agora mesmo dentro de casa!


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Opinião por Paulo Silvestre

É jornalista, consultor e palestrante de customer experience, mídia, cultura e transformação digital. É professor da Universidade Mackenzie e da PUC–SP, e articulista do Estadão. Foi executivo na AOL, Editora Abril, Estadão, Saraiva e Samsung. Mestre em Tecnologias da Inteligência e Design Digital pela PUC-SP, é LinkedIn Top Voice desde 2016.

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