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Opinião | Abrimos mão de nosso bem mais precioso em troca de migalhas digitais

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Foto do author Paulo Silvestre
Justin Timberlake e Amanda Seyfried em cena do filme "O Preço do Amanhã", em que o tempo de vida se torna moeda - Foto: reprodução

Há alguns dias, conversava com uma amiga que me confidenciou que não tolera olhar para sua agenda e ver um espaço de meia hora vazio. Para ela, "o tempo é muito precioso para ser desperdiçado".

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Vejo uma gritante contradição nesse caso. Ao pensar dessa forma, ela não pode desperdiçar algo que, na verdade, não tem. Pelo contrário, é escravizada por um tempo fragmentado e tomado por demandas ditadas por outras pessoas e por algoritmos tirânicos.

O tempo é a coisa mais valiosa que temos pelo simples fato de que não pode ser comprado. Do bilionário ao miserável, todos têm as mesmas 24 horas no dia, nem um segundo a mais ou a menos.

Apesar disso, ouço a toda hora que "o tempo está correndo mais rapidamente", o que é uma bobagem, pois ele continua exatamente o mesmo. Nós é que temos feito mais coisas do que somos capazes de lidar.

Hoje consumimos, em uma semana, mais informação que uma pessoa culta consumia ao longo de sua vida no século XVIII. O problema é que nem tudo é bom e certamente nem tudo é necessário.

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Como Caetano Veloso cantou já em 1967, "quem lê tanta notícia?" Hoje poderíamos dizer "quem vê tantos memes?"

A aceleração da vida, patrocinada pelas redes sociais, altera nossa percepção do tempo. Cada "rolagem em um feed" gera uma ilusão de que estamos "ganhando tempo" por vermos mais informações. Mas estamos apenas o fragmentando, reduzindo nossa capacidade de aproveitar o momento. Isso se agrava a cada notificação, afetando nossa atenção e criando uma sensação de urgência constante, como se estivéssemos sempre perdendo do relógio.

O filme "O Preço do Amanhã" (2011), dirigido por Andrew Niccol e estrelado por Justin Timberlake e Amanda Seyfried, nos oferece uma metáfora interessante sobre o valor do tempo. Nessa distopia, ele se torna literalmente dinheiro, com as pessoas parando de envelhecer aos 25 anos, e morrendo, a menos que "comprem mais tempo". Por isso, os ricos vivem indefinidamente, enquanto os pobres morrem cedo. Pessoas então trabalham para ganhar minutos.

A história nos leva a refletir sobre como vivemos realizando o máximo de atividades, às vezes sem perceber que sacrificamos nosso bem mais precioso: o próprio tempo de vida. E como no filme, em nossa sociedade, quem tem mais dinheiro têm mais controle de seu tempo, terceirizando tarefas, trabalhando menos e tirando férias mais longas.

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Ao contrário do dinheiro, o tempo é irreversível. Uma vez passado, não há como recuperá-lo! Por isso, é essencial na qualidade de vida, especialmente diante do imediatismo imposto pelas redes sociais.

Precisamos aprender a conscientemente nos desconectar delas! Momentos off line nos ajudam a nos reconectarmos com o presente. Temos que aproveitar o tempo que ganhamos assim com momentos de lazer, descanso e atividades que nos tragam prazer.

As redes sociais naturalmente nos trazem benefícios variados, mas elas não podem roubar nosso bem mais precioso. O tempo perdido nunca mais será recuperado!

Cada segundo é uma oportunidade única e irrepetível. No final, o verdadeiro luxo da vida moderna não é ter mais tempo (o que é impossível), mas podermos decidir como usar o que nos é dado.

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Opinião por Paulo Silvestre

É jornalista, consultor e palestrante de customer experience, mídia, cultura e transformação digital. É professor da Universidade Mackenzie e da PUC–SP, e articulista do Estadão. Foi executivo na AOL, Editora Abril, Estadão, Saraiva e Samsung. Mestre em Tecnologias da Inteligência e Design Digital pela PUC-SP, é LinkedIn Top Voice desde 2016.

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