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Opinião|Com grandes poderes, empresas devem convencer clientes com grandes responsabilidades

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Jeff Bezos em seu escritório na Amazon em 1997: foco total nos clientes para convencê-los a acreditar no e-commerce - Foto: reprodução

Hoje compramos de tudo online, de eletrodomésticos a roupas, de comida a materiais de escritório. Mas nem sempre foi assim: quando o comércio eletrônico surgiu, nos anos 1990, as pessoas desconfiavam muito daquilo. O modelo só deu certo porque as primeiras empresas do setor -especialmente a Amazon- trabalharam duro para convencer os clientes de sua conveniência, confiabilidade e segurança.

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Esse é apenas um exemplo emblemático. Quanto mais inovador for um produto ou tecnologia, mais ceticismo despertará nas pessoas, pela sensação de desconhecimento, falta de controle e impacto em suas vidas.

Passamos agora por outra disrupção tecnológica, com a inteligência artificial, que promete aumentar dramaticamente a nossa eficiência. Mas essa tecnologia, diferente de tudo que já vimos, também desperta desconfiança, pelos seus impactos no desemprego, na privacidade de dados, na vigilância em massa, na falta de transparência, na manipulação pública e no aumento da desigualdade social.

Como dizia nos quadrinhos Bem Parker, tio do Homem-Aranha, "com grandes poderes vêm grandes responsabilidades". Essa é a hora de as big techs, como OpenAI, Microsoft, Google e Meta, convencerem a população de que a IA é tão segura, quanto poderosa.

Há, entretanto, uma diferença fundamental entre aquela abordagem da Amazon e a dessas empresas. Enquanto a primeira ajustava seus processos e fazia um marketing para garantir uma operação centralizada no benefício dos clientes, essas outras preferem minimizar os riscos que a IA pode causar nas pessoas.

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Elas apresentam a inteligência artificial como uma revolução inevitável, e que pessoas, empresas e até países que não a abraçarem serão inexoravelmente ultrapassados pela concorrência. Além disso, trabalham intensamente para que possam desenvolver a IA com regras mínimas ou nulas, argumentando que elas atrasariam decisivamente a inovação.

Não é uma estratégia nova. Durante o crescimento das redes sociais e dos smartphones, essas empresas adotaram uma postura semelhante, resistindo a regulamentações e a assumir responsabilidade pelo conteúdo publicado em suas plataformas. Isso levou a problemas graves, como a explosão de fake news e de discursos de ódio, polarização social e intolerância, manipulação de eleições e prejuízos à saúde mental dos usuários.

Regulamentar setores da economia não impede inovações. Pelo contrário, a segurança jurídica permite investimentos mais assertivos. Basta olhar para a indústria farmacêutica!

No caso específico da IA, seus próprios desenvolvedores admitem que nem sempre entendem os caminhos por onde essa tecnologia evolui. Por isso, grandes pesquisadores da área, como o recém-laureado com o Prêmio Nobel de Física Geoffrey Hinton, da Universidade de Toronto (Canadá), defendem sua regulação.

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O histórico das big techs, especialmente com as redes sociais, mostra que a falta de regras pode ter consequências para a sociedade muito negativas e de difícil correção. Essas empresas precisam convencer o público demonstrando transparência e ações que realmente coloquem os interesses dos clientes em primeiro lugar. Mas insistem em adotar medidas paliativas e apenas quando são pressionadas pelos usuários, pela mídia ou por governos.

O exemplo da Amazon em seus primórdios demonstra que os clientes abraçam um negócio que equilibra inovação com confiança. Dessa forma, ela se tornou uma das empresas mais poderosas do mundo!

Como as big techs demonstram estar mais interessadas em seguir com as mesmas práticas das redes sociais, o necessário cuidado precisará vir de legislações como a europeia AI Act, que se baseia nos potenciais riscos dos diferentes usos da IA.

Poderia ser diferente. Deveria ser! Mas está faltando responsabilidade a muita gente no mercado.

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Opinião por Paulo Silvestre

É jornalista, consultor e palestrante de customer experience, mídia, cultura e transformação digital. É professor da Universidade Mackenzie e da PUC–SP, e articulista do Estadão. Foi executivo na AOL, Editora Abril, Estadão, Saraiva e Samsung. Mestre em Tecnologias da Inteligência e Design Digital pela PUC-SP, é LinkedIn Top Voice desde 2016.

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