A obesidade disparou um alerta nas empresas. Além dos sérios malefícios para a saúde das pessoas, o excesso de peso provoca cada vez mais prejuízos aos negócios. E o Brasil se destaca negativamente nisso. Segundo a Organização Mundial da Saúde, 16% da população global é obesa. Por aqui, o Ministério da Saúde indica que 24,3% dos adultos são, chegando a 32,6% entre homens de 45 a 54 anos. Se considerarmos também os adultos com sobrepeso, o índice salta para 61,4%.
"Esse número cresce 2% todo ano no Brasil", alerta Igor Castor, CEO e um dos fundadores do SlimPass, uma empresa curitibana que oferece serviços para combater a obesidade, integrando a atuação de endocrinologistas, psicólogos e nutricionistas.
A obesidade nunca vem sozinha. Ela provoca outros graves problemas de saúde, como diabetes, hipertensão, doenças cardiovasculares, problemas respiratórios, entre outros. O excesso de peso também é associado a distúrbios de saúde mental, como depressão e ansiedade, que afetam o desempenho profissional.
"O bullying pela obesidade existe e não é pequeno", acrescenta Elaine Brégola, médica responsável técnica da Fundação Copel, entidade vinculada à Companhia Paranaense de Energia para cuidar da saúde, previdência complementar e bem-estar dos empregados da empresa. "Há pessoas sendo preteridas para ocupar cargos de chefia por causa do problema de peso", acrescenta.
Essas condições levam a um aumento no número de afastamentos do trabalho, reduzindo a produtividade individual e das equipes. Além disso, pessoas obesas frequentemente apresentam menor aptidão física e cardiovascular, o que dificulta a realização de tarefas que exigem esforço. Isso pode levar à percepção de que o trabalho é excessivamente extenuante.
De acordo com estudo publicado na revista científica BMJ Global Health, a obesidade custou US$ 37,1 bilhões ao Brasil em 2019 (1,98% do PIB), a décima maior cifra entre 161 países analisados. Naquele ano, cerca de 22% dos gastos com doenças crônicas no SUS foram atribuídos ao excesso de peso. Na saúde suplementar, a obesidade representa 18,8% dos gastos, podendo chegar a 50% até 2030.
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O principal motivo para a explosão da obesidade são os maus hábitos alimentares, com um excesso de ingestão de comidas ultraprocessadas ou ricas em carboidratos. Outro grande vilão, que muitas vezes está associada à própria atividade profissional, é o sedentarismo. E há ainda o impacto da ansiedade, outro grave e crescente problema de saúde pública no Brasil, que leva muitas pessoas a desenvolverem uma compulsão alimentar como válvula de escape.
Diante do crescimento de pessoas obesas em seu quadro de beneficiários, muitas delas buscando uma cirurgia bariátrica para resolver o problema, a Fundação Copel resolver se associar a SlimPass, para reeducar seu público. "A gente acredita que emagrecer não é somente parar de comer, mas mudar os hábitos de vida, e a persistência é o caminho do sucesso", explica Brégola.
A parceria rendeu frutos. Em um ano e meio, 218 pessoas aderiram ao programa, das quais 54 que tinham cirurgia bariátrica marcada deixaram de fazer o procedimento, e ainda assim emagreceram. Isso gerou uma economia de R$ 2,16 milhões à fundação, o que representou um ROI (retorno sobre o investimento) de 759%.
O trabalho multidisciplinar de orientação e acompanhamento é essencial. Brégola explica que se observa no Brasil um abuso das cirurgias bariátricas, um procedimento agressivo e com um pós-operatório complicado. Ela explica que pessoas com sobrepeso, ainda não consideradas obesas, vêm buscando o recurso como uma maneira de se emagrecer rapidamente.
A médica adverte que o problema é ainda mais grave, pois muitas pessoas fazem a cirurgia e, por não receberem orientação ou acompanhamento adequados, acabam ganhando peso de novo. "Existe a troca da compulsão, passando de comida para compras, bebidas, jogos", explica.
Além do trabalho multidisciplinar com o paciente, Castor lembra da importância de se envolver a sua família. "É muito difícil em uma família, digamos, de quatro pessoas na mesma casa, apenas uma estar de dieta e as outras não", afirma. "Ou você emagrece a família toda, ou engorda a família toda!"
Para Brégola, não podemos chegar ao quadro de obesidade que se observa nos Estados Unidos, ainda mais grave que o brasileiro. A sociedade americana se ajustou à obesidade. Ela cita como exemplo os bancos dos ônibus, que ficaram mais largos. "Ninguém é contra o obeso, mas lá foi feito um caminho para manter as pessoas na obesidade", afirma. "A gente já tem muitas mazelas, não precisamos ter mais essa!"
Castor lembra que a obesidade é a doença evitável que mais mata no mundo. "Investir em emagrecimento compensa muito", conclui. Além de melhorar imensamente a qualidade de vida das pessoas, os números deixam claro como isso também impacta positivamente as empresas e o próprio sistema de saúde do país.
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