Como não poderia ser diferente, 2025 começa acelerado pela inteligência artificial. Mas esse ano deve trazer algo que empresários desejam desde que começaram a investir pesadamente nessa tecnologia, com o lançamento do ChatGPT: resultados!
Se 2023 foi o ano da curiosidade e 2024 representou a democratização dessa tecnologia, 2025 deve ser aquele em que aplicações realmente transformadoras devem chegar ao mercado. E engana-se quem acredita que isso se dará por uma IA poderosíssima, capaz de resolver qualquer coisa.
Segundo um ditado popular, "os melhores perfumes estão nos pequenos frascos". Talvez isso também seja verdade na inteligência artificial. E, nesse caso, respondem pelo nome de "agentes". Eles são sistemas que usam a IA para realizar tarefas específicas de maneira autônoma, com pouca ou nenhuma dependência de um ser humano. Agem de maneira contínua, monitorando o ambiente e analisando dados para tomar decisões seguindo o que lhes foi pedido.
Especializados em uma tarefa e alimentados por dados controlados, os agentes tendem a ser mais baratos e mais confiáveis que um grande LLM, como o ChatGPT, ainda sujeito a suas "alucinações", quando responde bobagens quando não sabe o que dizer. O desafio agora é tornar a criação desses agentes um processo mais simples.
Claro que continuaremos nos maravilhando com novas aplicações da IA generativa, mas será uma grande notícia vê-la finalmente transformando os negócios.
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Para Adriana Aroulho, presidente da SAP Brasil, "2025 será um ano em que o foco permanecerá na Inteligência Artificial Generativa, mas com o diferencial de transformar expectativas em resultados práticos." Essa percepção é compartilhada por Marco Stefanini, fundador e CEO Global do Grupo Stefanini. Segundo ele, "uma coisa é você implementar IA, outra é você realmente utilizar IA no dia a dia, adotar a solução que realmente fará diferença no seu negócio."
Esse deve ser também o ano em que o hype, a excitação em torno dessa tecnologia dará espaço a aplicações estruturadas, com resultados mais bem planejados. O tempo de usar grandes IAs "genéricas", como o ChatGPT, para se resolver soluções empresariais vai ficando para trás.
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"As empresas vão dizer: 'inteligência artificial é legal, mas eu vou aplicá-la criando agentes muito específicos", afirma Gilson Magalhães, diretor-geral da Red Hat Latin America. Ele explica que esses sistemas, apesar de limitados a uma tarefa, trazem grande ganhos ao negócio. "Ao usar uma quantidade de dados controlada, num ambiente controlado, ele assumirá uma função que era manual e foi automatizada."
É preciso que fique claro que não se trata de mera automação, existente há décadas. De fato, uma das diferenças da inteligência artificial para um programa convencional de computador é tomar decisões como um ser humano, especialmente diante de imprevistos, a partir do que sabe e do que se espera dela. Um software convencional não consegue fazer isso.
Marcelo Flores, gerente-geral da consultoria da IBM Brasil, inventou o verbo "cognitivar" para diferenciar uma coisa da outra. "Os agentes usam uma tecnologia supernova para fazer aquilo que não é só automação ou só repetição", explica. "Isso é algo mais sofisticado, que exige cognição, por isso conseguem essa autonomia."
Tudo isso parece incrível, mas antes de finalmente colher esses resultados, as empresas precisam cuidar de algo que também deve ganhar mais destaque em 2025: "limpar" os seus dados.
"Poluição digital"
Dados de baixa qualidade são um problema histórico nas empresas. Elas guardam em seus arquivos informações erradas, desatualizadas e até conflitantes. Isso pode derivar de migrações descuidadas de sistemas, coletas de informações redundantes por critérios diferentes a cada momento, departamentos que não compartilham suas informações e outros pesadelos de TI.
O problema é que nem a melhor inteligência artificial dá bons resultados se for alimentada com dados ruins. "Se a gente não corrigir os dados que estão 'sujos', desorganizados, perdidos, a gente não vai a lugar nenhum", diz categoricamente Magalhães. "E essa é uma tarefa cara, difícil e demorada", adverte.
Essa não é a única "poluição" ligada à IA. Em 2024, as empresas se deram conta das enormes demandas de recursos dessa tecnologia. Estudo divulgado em novembro pela consultoria Gartner indicou que, nos próximos dois anos, o consumo dos data centers de IA deve crescer até 160%, atingindo 500 terawatts-hora (TWh) por ano. Como comparação, em 2022, a cidade de São Paulo consumiu "apenas" 21,18 TWh.
"Estamos vivendo tempos desafiadores, especialmente com a crise climática nos pressionando a agir", alerta Aroulho. Por isso, ela afirma que a SAP "renovará o compromisso com a inovação aberta e a sustentabilidade."
Dados "sujos" e impactos ambientais demonstram como uma tecnologia tão poderosa como a inteligência artificial custa muito caro. Ninguém quer se preocupar com os gastos de conversar com o ChatGPT, mas eles existem e são altos.
"A tecnologia força as pessoas a se reinventarem", afirma Flores. Para ele, "as empresas têm acesso a tecnologias mais disruptivas, que respondem muitas perguntas, mas, no final, a transformação vem das pessoas".
Stefanini adverte que "2025 e 2026 serão anos de adoção mais massiva da IA nas empresas", que permitirá, como já explicado, que comecem finalmente a colher grandes benefícios dessa tecnologia. E isso é muito bom!
Mas temos que cuidar também das discussões associadas a todos esses benefícios. Os próximos 12 meses abrirão espaço para isso. Resta saber quem aparecerá para conversar sobre uma IA mais sustentável. Mas uma coisa é certa: "não existe almoço grátis".
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