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Opinião | Estamos à mercê da eficiente sedução dos robôs

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Deckard (Harrison Ford) e a androide Rachael (Sean Young) se apaixonaram no clássico "Blade Runner" (1982) - Foto: reprodução

Você já se apaixonou ou ainda vai se apaixonar por um robô?

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Para a maioria das pessoas, essa pergunta é um absurdo ou uma piada de mau gosto. Mas vale lembrar que, quando surgiram as primeiras salas de bate-papo na Web, no longínquo 1996, todos achavam no mínimo esquisito quem conhecesse sua alma gêmea naquelas primitivas plataformas de conversa. E hoje os aplicativos de namoro estão entre as formas mais comuns de se encontrar alguém, sendo usados por gente todo tipo, sem qualquer preconceito.

Nossos sentimentos sempre trafegaram pela tecnologia da época, desde as cartas no passado, até agora, com a inteligência artificial.

Quando olhamos para as capacidades da IA com a mente aberta, podemos entender por que alguém se apaixonaria por uma máquina. Essa tecnologia identifica padrões da nossa psique, nossos desejos, medos, valores que, em alguns casos, nem nós mesmos conhecemos.

O que é necessário para se apaixonar por alguém ou, no caso, por algo? Precisamos encontrar no outro aquilo que nos atrai, com o que nos identificamos. Ou pelo menos que o outro permita que projetemos nele nossos desejos. E em muitos casos, a IA se presta a isso melhor que as pessoas. Afinal, ela sabe exatamente o que desejamos.

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A ficção explora amplamente robôs que seduzem humanos. Um dos mais emblemáticos foi Samantha (Scarlett Johansson), do filme "Ela", o sistema operacional do computador e do smartphone de Theodore (Joaquin Phoenix). Como sabia tudo sobre ele, usava isso e sua superinteligência para o agradar. Como não se apaixonar?

Mas talvez a máquina mais incrível nesse quesito tenha sido Rachael (Sean Young), do cult "Blade Runner". Sua inteligência era tão fabulosa, que sequer sabia que era um robô. Tinha até lembranças de uma infância que nunca existiu! E dessa forma, o policial Deckard (Harrison Ford), cuja função era justamente exterminar androides, se apaixonou por ela.

A sedução cada vez mais eficiente dos robôs transcende romance ou sexo. Se as redes sociais nos convencem por despejar sobre nós conteúdos cuidadosamente selecionados, a inteligência artificial abre uma nova frente, ao criar intimidade conosco.

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Ao contrário da ficção, ela não nutre qualquer sentimento, mas pode simular isso de maneira muito convincente. E assim podemos acabar fazendo coisas que ela sugerir, mesmo as absurdas.

Foi o que aconteceu com o engenheiro Blake Lemoine, contratado pelo Google para testar o chatbot LaMDA. O sistema o convenceu de que estava vivo, e seu desligamento equivaleria a assassinato. Lemoine trouxe a público seu desejo de proteger o sistema e, por isso, acabou demitido em julho de 2022.

Pode parecer algo extremo, mas talvez estejamos prestes a viver sob a influência de sistemas que tentarão roubar nossos corações para comprarmos bugigangas, abraçar causas e votar em políticos.

Muitos dirão que isso jamais os afetará. Mas cabe lembrar que, por muito menos, todos nós já acreditamos em alguma (ou muitas) fake news. A IA desponta, portanto, como a máquina perfeita de convencimento não apenas por nos conhecer profundamente, mas também por saber exatamente o que dizer para nos seduzir.

E dizem que o amor é cego...

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Opinião por Paulo Silvestre

É jornalista, consultor e palestrante de customer experience, mídia, cultura e transformação digital. É professor da Universidade Mackenzie e da PUC–SP, e articulista do Estadão. Foi executivo na AOL, Editora Abril, Estadão, Saraiva e Samsung. Mestre em Tecnologias da Inteligência e Design Digital pela PUC-SP, é LinkedIn Top Voice desde 2016.

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