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Opinião | Influenciadores promovem desinformação por amadorismo e descuido

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Influenciadores dominam a linguagem das redes, mas a maioria não checa as informações que publica - Foto: Freepik/Creative Commons

Que as redes sociais são o grande vetor da desinformação, não é novidade. Mas em tempos em que o Supremo Tribunal Federal (STF) discute se essas plataformas têm responsabilidade sobre conteúdos nocivos em suas páginas, precisamos entender as motivações que levam alguém a fazer isso. Nesse cenário, os influenciadores digitais desempenham um papel central, pelo seu poder de persuasão de grandes plateias.

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Existem aqueles que conscientemente propagam informações falsas, e esses devem ser combatidos. Mas o estudo "Por Trás das Telas", publicado no dia 26 de novembro pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), mostra que muitos fazem isso sem intenção, por amadorismo ou descuido.

Realizada com 500 influenciadores de 45 países, incluindo o Brasil, a pesquisa indica que apenas 36,9% dos influenciadores verificam a correção das informações que publicam. Além disso, 41,7% deles consideram curtidas e visualizações como o principal critério de credibilidade de suas fontes.

Esses dois números deixam claro que eles podem ser facilmente manipulados pelos criadores de desinformação, agravando o problema. A boa notícia é que 73% demonstraram interesse em serem treinados para melhorarem em sua atividade.

Apesar dos ataques daqueles que se beneficiam da desinformação, a imprensa ainda goza de boa credibilidade com a maior parte da população. Mas há anos ela não está mais sozinha no processo informativo, dividindo esse espaço com os influenciadores.

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Seria ótimo que esses dois grupos trabalhassem juntos, mas parecem viver em mundos distintos. É uma pena, pois o público se informa por ambos, cada um com suas vantagens e desvantagens.


Veja esse artigo em vídeo:


O estudo aponta que apenas 36,9% dos influenciadores digitais se informam pela imprensa, a mesma quantidade dos que fazem isso a partir de fontes online que não sejam da mídia profissional. Sua principal "fonte" é a própria experiência (58,1%), seguido por pesquisas e entrevistas próprias (38,7%).

Para os influenciadores, as já citadas curtidas e visualizações de longe dão mais credibilidade a uma fonte. Depois vem a simples confiança em um amigo ou especialista (20,6%), seguida de perto pela reputação do autor (19,4%). Documentações são usadas apenas por 17,0% dos influenciadores.

Se apenas 4 entre 10 deles checam as informações antes de publicá-las, 33,5% publicam sem checar se confiarem na fonte. Outros 15,8% publicam sem verificar se considerarem o conteúdo divertido ou útil. Por fim 13,2% checam apenas se o que compartilharem for uma notícia.

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Vale dizer que 59,0% desconhecem ou apenas ouviram falar de regras relacionadas às comunicações digitais e 56,4% conhecem treinamentos voltados para eles, mas só 13,9% desses participaram de algum. Isso faz com que saibam pouco sobre seus direitos e deveres como produtores de conteúdo, o que facilita com que 32,3% sofram com discursos de ódio nas redes. Tudo fica mais grave quando se pensa que ganhar dinheiro é a principal motivação de um quarto deles.

O estudo considera que alguém com mais de mil seguidores já pode ser considerado um seguidor, mas 68,0% dos entrevistados tinham até 10 mil seguidores. Desse valor a 100 mil seguidores, eram 25,0%. Apenas 1,6% tinham mais de 1 milhão de seguidores. A rede preferida é o Instagram (34,0%), seguido pelo Facebook (25,0%), o TikTok (16,4%) e YouTube (9%).

A categoria mais popular é de "moda e estio de vida" (39,3%). Na sequência, vêm "beleza" e "viagem e comida" (ambos com 34,0%), "jogos" (29,0%) e "comédia" (27,1%). Os estilos mais populares de publicações são "coisas bonitas" (18,0%), "entretenimento e memes" (15,6%) e "recomendações" (13,8%).

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Ao contrário da imprensa, que, a despeito de imperfeições, segue regras rígidas para produção de conteúdo, esse amadorismo dos influenciadores representa um sério ponto de atenção.

 

"Desordem informacional"

Em 2017, um estudo do Conselho da Europa e da Universidade de Harvard classificou a "desordem informacional" em desinformação (informação deliberadamente errada para causar danos), informação falsa (errada, mas sem intenção de causar danos) e informação maliciosa (correta, mas usada para causar danos). Influenciadores, muitas vezes, se encontram na segunda categoria, quando espalham informações incorretas por confiarem em fontes ruins ou por não saberem como verificar uma informação.

O instituto britânico Alan Turing detalhou em 2021 como uma sociedade pode ameaçar a própria sobrevivência com ataques deliberados à aquisição de conhecimento. Segundo a pesquisa, há quatro ameaças a isso, nenhuma ao acaso. A primeira são pessoas que atrapalham as decisões com desinformação, de maneira consciente ou não. Há também o excesso de informação, que atrapalha as pessoas na separação de verdades e mentiras. Elas também se acostumaram a rejeitar o que desafia suas ideias, particularmente se houver uma forte identidade no grupo. E, por fim, as redes sociais tornaram mais difícil avaliar a confiabilidade das fontes.

A pesquisa conclui que, quando não sabemos em quem acreditar, confiamos naquilo que nos mostra o mundo como queremos. Novamente os influenciadores podem se tornar ferramentas poderosas para a desinformação, mesmo inconscientemente.

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Infelizmente as perspectivas de melhora desse quadro não são animadoras, diante da resistência das redes sociais de sofrerem qualquer tipo de responsabilização e do persistente amadorismo dos influenciadores. A colaboração desses profissionais com jornalistas, atuando de maneira complementar, traria grande benefício à sociedade.

Os influenciadores têm alcance e confiança de seus seguidores, além de dominar a linguagem das plataformas digitais. Já os jornalistas possuem ética e técnica para produzir informações precisas e contextualizadas. Uma parceria efetiva entre essas comunidades poderia não apenas mitigar os impactos da desinformação, como fortalecer a confiança no ecossistema informacional.

Infelizmente isso esbarra em barreiras culturais e estruturais. Influenciadores priorizam sua autonomia criativa, e podem ver jornalistas como representantes de um modelo de comunicação pouco dinâmico e distante da realidade das redes. Jornalistas, por sua vez, frequentemente subestimam a capacidade dos influenciadores de se adaptarem às boas práticas jornalísticas.

A desinformação é um dos maiores desafios dessa geração. Ela sempre existiu, mas as redes sociais transformaram o que antes não passava de fofocas restritas em uma indústria milionária de distorção da realidade. Apesar desse fenômeno digital ter menos de uma década, já provocou danos irreparáveis no mundo.

A solução desse problema depende de todos nós, começando por escolhermos fontes confiáveis de informação. O estudo da Unesco mostra que, se influenciadores e jornalistas conseguissem juntar forças criativamente, poderiam construir ambientes informacionais mais saudáveis, transparentes e comprometido com a verdade.

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A sociedade agradecerá muito se isso acontecer!

 

Opinião por Paulo Silvestre

É jornalista, consultor e palestrante de customer experience, mídia, cultura e transformação digital. É professor da Universidade Mackenzie e da PUC–SP, e articulista do Estadão. Foi executivo na AOL, Editora Abril, Estadão, Saraiva e Samsung. Mestre em Tecnologias da Inteligência e Design Digital pela PUC-SP, é LinkedIn Top Voice desde 2016.

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