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Opinião|Na tecnologia educacional, o professor vale mais que as máquinas

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Alunos em Quigali, capital de Ruanda, usam computadores do projeto One Laptop Per Child - Foto: Cellanr/Creative Commons

Quando eu era head de conteúdo didático digital da Editora Saraiva, há cerca de 15 anos, pude me aprofundar em uma área ainda incipiente no país então: a da tecnologia educacional. E muito mais que equipamentos e programas, aprendi que o aspecto humano é fundamental para o sucesso de qualquer digitalização de escolas. Passados esses anos, isso continua valendo.

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O Congresso Nacional deve votar, até o fim do ano, se smartphones devem ter seu uso restrito em salas de aula. O projeto de lei determina que esses equipamentos sejam permitidos apenas em atividades pedagógicas e sob orientação do professor.

Esse ponto merece mais atenção da sociedade do que vem recebendo. Os professores estão prontos para desempenhar essa tarefa? Naturalmente todos usam smartphones em seu cotidiano, mas incluir criativamente esses equipamentos em seus planos de aula é outra história!

Um dos episódios mais marcantes daquela minha experiência profissional foi uma reunião com professores de algumas das melhores escolas de São Paulo para avaliar um novo produto que estávamos desenvolvendo. Nela, uma professora ainda jovem desabafou, aos prantos, dizendo que não conseguia usar a tecnologia digital em suas aulas e que se sentia muito ameaçada por ela.

Em outra ocasião, conversando com a coordenadora pedagógica de outra grande escola da cidade, ela me contou como os alunos chegavam às aulas com grandes demandas multimidiáticas criadas pela sua interação com o mundo digital, e que a escola não conseguia lidar com aquilo. Nas suas palavras, as aulas eram "um saco" para os estudantes, e os professores tinham dificuldade de captar e de reter a atenção das crianças e dos adolescentes.

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Alguém pode dizer que, depois de tanto tempo, esse cenário evoluiu. Pode ser verdade para algumas ilhas de excelência, mas receio que não seja o caso para a maioria dos docentes.

A necessidade de se dar aulas remotas pelo confinamento imposto pela Covid-19 foi emblemático nisso. Observamos professores heroicamente tentando encontrar maneiras de ensinar online, na maioria das vezes sem qualquer apoio ou preparação, usando seus próprios equipamentos. E foi um processo sofrido!

Outro exemplo importante foi o projeto One Laptop Per Child, lançado em 2005 por Nicholas Negroponte, fundador do Media Lab, do Massachusetts Institute of Technology (MIT). Ele propunha o uso de notebooks de US$ 100 para crianças estudarem melhor com o apoio da tecnologia.

Essas máquinas chegaram a ser criadas e pude conhecer alguns modelos. Eram pequenas maravilhas tecnológicas! O projeto foi implantado em alguns países, mas em muitos casos (inclusive no Brasil) não evoluiu, não pela tecnologia, mas porque os professores não sabiam o que fazer com ela.

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De volta ao projeto de lei em debate, não resta dúvidas de que o acesso livre aos próprios celulares prejudica profundamente a compreensão e a memorização dos conteúdos pelos alunos. Por outro lado, há uma demanda por uma educação mais digital.

Novamente esse trabalho recai sobre o professor, já sobrecarregado de atividades, que as realiza com pouco apoio e com reconhecimento social baixíssimo. Mas é ele o fio condutor do processo educacional!

Diante disso, o projeto de lei acerta ao restringir o acesso livre aos smartphones em sala de aula. Mas não deve se prestar ao simples banimento da tecnologia das escolas, pois vivemos em um mundo profundamente digital, e as crianças precisam aprender a usar a tecnologia de forma produtiva e responsável.

Para isso, governos, escolas e famílias devem se unir e apoiar os professores, para que realizem adequadamente mais essa tarefa. Por mais tecnológica que seja, ela só será bem-sucedida com a humanidade dos mestres, capazes de ensinar, mas também de engajar e acolher seus alunos usando os recursos disponíveis.

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Opinião por Paulo Silvestre

É jornalista, consultor e palestrante de customer experience, mídia, cultura e transformação digital. É professor da Universidade Mackenzie e da PUC–SP, e articulista do Estadão. Foi executivo na AOL, Editora Abril, Estadão, Saraiva e Samsung. Mestre em Tecnologias da Inteligência e Design Digital pela PUC-SP, é LinkedIn Top Voice desde 2016.

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