PUBLICIDADE

Foto do(a) blog

Jornalismo, educação, tecnologia e as combinações disso tudo

Opinião|Sem informação, nossa sociedade entraria em colapso

PUBLICIDADE

Foto do author Paulo Silvestre
Rose Sandford (Farrah Mackenzie), filha caçula do casal protagonista do filme "O Mundo Depois de Nós" (2023) - Foto: reprodução

Somos uma sociedade viciada em informação! Começamos a consumir todo tipo de conteúdo quando abrimos os olhos de manhã e só paramos quando os fechamos para dormir. Isso nos serve para tomar todo tipo de decisão: relacionamentos, trabalho, diversão e muito mais. Mas o que aconteceria se subitamente fôssemos privados de todos esses canais?

PUBLICIDADE

Possivelmente nossas vidas entrariam em colapso! Não sabemos mais viver sem estarmos conectados a um duto informativo. Sequer precisamos buscar por elas, que chegam até nós continuamente, especialmente por nossos smartphones.

Infelizmente nem toda informação é positiva ou confiável. E essa avalanche de conteúdo prejudica nossa capacidade de separar o bom do ruim.

Longe de estar estagnado, esse volume cresce exponencialmente. Há alguns anos, li que a informação contida em uma semana no The New York Times superaria tudo que uma pessoa instruída do século XVIII consumia ao longo de toda sua vida!

Não tive como confirmá-la, mas a ideia é razoável. Até mesmo porque hoje todos consumimos e produzimos conteúdo. É o que o consultor de marketing Mark Schaefer chamou em 2014 de "choque de conteúdo": a humanidade produz mais conteúdo que pode consumir.

Publicidade

Isso prejudica nossa capacidade de processar tantos dados. O excesso provoca uma espécie de "pane cognitiva", que faz com que fiquemos apenas na superfície do que consumimos, um cenário perfeito para a proliferação de fake news.

A ficção explora bem o assunto. Um exemplo recente veio do filme "O Mundo Depois de Nós" (2023). Estrelado por Julia Roberts, Mahershala Ali e Ethan Hawke, a história sugere os efeitos sobre a sociedade quando todos os canais de comunicação e informação param de funcionar. No roteiro, em poucos dias, as pessoas se perdem moralmente. E o mais perturbador da obra é que o próprio público começa e termina a história sem saber o que aconteceu.

Lembrei-me também de "Ensaio Sobre a Cegueira" (2008), protagonizado por Julianne Moore, Mark Ruffalo e Gael García Bernal. Baseado no best-seller de José Saramago, a história conta como todos se tornam bestiais quando toda a população (menos uma mulher) perde a visão. Muitas pessoas deixavam os cinemas por não suportarem a crueza das cenas!

No primeiro filme, os personagens continuavam vendo, mas é como se a completa falta de informação os tornasse cegos, desvirtuando sua moral e prioridades. Enquanto o mundo perdia a cabeça, a única pessoa que manteve a sanidade foi Rose, a fila caçula (Farrah Mackenzie), focada em encontrar uma maneira de ver o último episódio da série "Friends".

Publicidade

PUBLICIDADE

Obviamente essas são ficções apocalípticas. Mas existe o risco real de sermos privados de muita informação essencial. Na sexta passada, tivemos uma "amostra grátis" desse caos, graças a uma prosaica falha na atualização de um software de segurança.

Não ficamos sem toda informação, mas aquilo provocou um colapso em milhares de empresas, pois seus computadores subitamente pararam de funcionar. E isso impactou decisivamente milhões de pessoas no mundo, cujo cotidiano foi truncado por não acessarem seus mais diversos serviços.

Nós nos tornamos uma sociedade movida a dados e a informações de toda natureza. Esse é um caminho sem volta, pois os benefícios são inegáveis e imensos! Mas se pretendemos continuar assim, precisamos parar de achar que a rede digital que viabiliza nossas vidas é invulnerável e infalível.

Não é nem uma coisa e nem outra! Empresas, cidadãos, instituições e governos precisam olhar para essas potenciais deficiências e construir contingenciamentos e redundâncias.

Publicidade

Caso contrário, o próximo "apagão cibernético" pode ser muito mais grave que o de sexta. E aí, talvez todos nos sintamos como se estivéssemos cegos.


Vídeo relacionado:

 

Opinião por Paulo Silvestre

É jornalista, consultor e palestrante de customer experience, mídia, cultura e transformação digital. É professor da Universidade Mackenzie e da PUC–SP, e articulista do Estadão. Foi executivo na AOL, Editora Abril, Estadão, Saraiva e Samsung. Mestre em Tecnologias da Inteligência e Design Digital pela PUC-SP, é LinkedIn Top Voice desde 2016.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.