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Opinião | Uber transporta as causas do sucesso e do fracasso da economia compartilhada

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Uma nevasca em Paris foi a semente para a criação da Uber - Foto: David Henry/Creative Commons

No último dia de 2008, os amigos Travis Kalanick e Garret Camp estavam em Paris e não encontravam um táxi para voltar ao hotel, em uma noite debaixo de neve. Com a ajuda de um concierge, conseguiram um motorista executivo, que pediu US$ 800 pelo serviço!

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Era aquilo ou passar o Ano Novo onde estavam. Pagaram!

Para quase todo mundo, aquele valor poderia parecer uma extorsão. Mas para dois criadores de startups (Kalanick havia lançado o Red Swoosh e Camp o StumbleUpon), foi a semente de uma ideia que revolucionaria a mobilidade urbana.

Eles perceberam que, assim como aconteceu com eles naquela ocasião, deveria haver, a todo momento, pessoas precisando de um transporte de qualidade e alguém disposto a oferecê-lo. O que não havia era um meio de unir ambos.

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Essa foi a gênese da Uber. A plataforma entrou em testes em 2009 e foi oficialmente lançada em San Francisco, em julho de 2010. No começo, oferecia apenas transporte com carros de luxo, mas rapidamente expandiu suas atividades para veículos mais simples, para entrega de comida, de encomendas e muito mais.

A Uber funciona dentro dos princípios da economia compartilhada, em que vendedores ou prestadores de serviço se conectam a possíveis clientes graças a usos criativos da tecnologia. Quem tem um produto ou um serviço encontra quem está disposto a pagar por aquilo, uma prática considerada sustentável.

No caso da Uber, ela encontrou cidades ao redor do mundo com sistemas de transporte público precários. Ao oferecer um serviço de qualidade e relativamente barato a passageiros e uma oportunidade a motoristas de ganhar um bom dinheiro com o próprio carro, caiu nas graças do povo. Muitas pessoas chegaram a vender seu veículo para passar a se deslocar assim.

Essa é a "economia compartilhada que dá certo", em que todas as partes envolvidas se beneficiam.

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Então veio a pandemia, que trancou muita gente em casa por meses. Isso "quebrou o esquema" da Uber, que vinha, na verdade, "queimando caixa" havia anos para se estabelecer no mercado, além de enfrentar outros problemas, como desrespeito a leis em diversos países e até casos de assédio sexual envolvendo executivos.

Com o fim da pandemia, o preço da gasolina estava enlouquecido e muitos motoristas haviam abandonado a plataforma. Além disso, a empresa já vinha ficando com gordas fatias de cada viagem de seus motoristas.

A empresa finalmente começou a ter lucro, mas a situação dos motoristas ficou insustentável. Como resultado, a qualidade do serviço desabou. E essa é a "economia compartilhada que dá errado".

Esse sistema econômico está totalmente consolidado em nosso cotidiano. Outras empresas funcionam assim, como o iFood, o Airbnb, o Mercado Livre, o Rappi, entre incontáveis outras, nos mais diferentes setores.

A trajetória da Uber é bastante ilustrativa do que se deve fazer e evitar na economia compartilhada. Uma ideia só pode ser verdadeiramente genial se for sustentável. E isso implica construir um relacionamento transparente, ético, respeitoso e benéfico para todos.

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Agora a Justiça do Trabalho de São Paulo multou a empresa em R$ 1 bilhão por danos morais coletivos e determinou que contrate todos seus motoristas no país pela CLT. Ela já disse que não cumprirá nada.

Vamos ver como termina essa "corrida".


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Opinião por Paulo Silvestre

É jornalista, consultor e palestrante de customer experience, mídia, cultura e transformação digital. É professor da Universidade Mackenzie e da PUC–SP, e articulista do Estadão. Foi executivo na AOL, Editora Abril, Estadão, Saraiva e Samsung. Mestre em Tecnologias da Inteligência e Design Digital pela PUC-SP, é LinkedIn Top Voice desde 2016.

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