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Mais de 150 pessoas em situação análoga à escravidão que atuavam em vinícolas do RS são resgatadas

Empresa terceirizada foi alvo da operação; preso em Bento Gonçalves, empresário de 45 anos foi solto após pagar fiança de quase R$ 40 mil

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Por Luciano Nagel
Atualização:

Agentes da Polícia Federal e da Polícia Rodoviária Federal prenderam um empresário suspeito de manter mais de 150 trabalhadores que atuavam em vinícolas de Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha, em condições análogas à escravidão. A detenção do homem, de 45 anos, que presta serviços para as vinícolas, ocorreu na noite desta quarta-feira, 22, quando os policiais deram o flagrante em uma pousada do município. Logo em seguida, o suspeito, que é natural de Valente, na Bahia, pagou fiança no valor de R$ 39.060 e foi liberado. Servidores do Ministério do Trabalho e Emprego acompanharam as diligências. A pousada está interditada.

Segundo trabalhadores, eles eram mantidos em alojamento contra a própria vontade, Foto: Polícia Rodoviária Federal-RS/Divulgação

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Conforme relatos da PRF, três trabalhadores procuraram os agentes policiais na Unidade Operacional da instituição de Caxias do Sul e informaram que tinham acabado de fugir de um alojamento em que eram mantidos contra a vontade própria. Após a denúncia, as equipes foram até o local indicado e os auditores do ministério constataram que havia em torno de 150 homens em situação análoga à escravidão.

Os trabalhadores não eram diretamente ligados às vinícolas, mas recrutados pela empresa terceirizada Oliveira & Santana, relataram à polícia as diversas situações que passavam, tais como atrasos nos pagamentos dos salários, violência física, assédio moral, longas jornadas de trabalho e alimentos estragados. Esses homens, a maioria da Bahia, eram selecionados nos Estados de origem para trabalhar no Rio Grande do Sul. Ao chegar, encontravam uma situação diferente das prometidas pelos recrutadores.

Homens em situação análoga à escravidão são acolhidos em ginásio da prefeitura de Bento Gonçalves (RS) após serem resgatados de vinícolas. Foto: Polícia Rodoviária Federal-RS/Divulgação

Os trabalhadores foram acolhidos pela prefeitura de Bento Gonçalves no ginásio municipal Darcy Pozza, onde recebem abrigo, local para dormir, acesso à higiene, alimentação e assistência médica. “Assim que fomos informados da ação, nos colocamos à inteira disposição das autoridades para ajudar no que for possível. Nós, enquanto administração, estamos honrando a trajetória de nossa cidade e cuidando do atendimento, da alimentação e da saúde dos trabalhadores resgatados, enquanto as forças federais se ocupam do trabalho de investigação”, disse o prefeito Diogo Segabinazzi Siqueira .

O que dizem as vinícolas

Leia as notas na íntegra.

Vinícola Aurora

“A Vinícola Aurora se solidariza com os trabalhadores contratados pela empresa terceirizada e reforça que não compactua com qualquer espécie de atividade considerada, legalmente, como análoga à escravidão. No período sazonal, como a safra da uva, a empresa contrata trabalhadores terceirizados, devido à escassez de mão de obra na região.

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Com isso, cabe destacar que Aurora repassa à empresa terceirizada um valor acima de R$ 6,5 mil/mês por trabalhador, acrescidos de eventuais horas extras prestadas. Além disso, todo e qualquer prestador de serviço recebe alimentação de qualidade durante o turno de trabalho, como café da manhã, almoço e jantar.

A empresa ainda informa que todos os prestadores de serviço recebem treinamentos previstos na legislação trabalhista e que não há distinção de tratamento entre os funcionários da empresa e trabalhadores contratados. A Vinícola Aurora reforça que exige das empresas contratadas toda documentação prevista na legislação trabalhista. A Aurora se coloca à disposição das autoridades para quaisquer esclarecimentos.”

Vinícola Salton

“Em respeito a seus clientes, colaboradores, acionistas e demais fornecedores, a Salton manifesta seu repúdio a qualquer ato de violação dos direitos humanos e trabalho sob condições precárias e análogas à escravidão. A empresa e seus representantes estão à disposição de todos os trabalhadores e suas famílias, que foram tratados de forma desumana e cruel pela empresa Oliveira e Santana e se coloca à disposição dos órgãos competentes para colaborar com o processo e amenizar os danos causados pela prestadora de serviços.

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

Embora a Salton tenha atendido a exigência legal na contratação do fornecedor, reconhecemos o erro em não averiguarmos in loco as condições de moradia oferecidas por este prestador de serviço aos seus trabalhadores. Trata-se de um incidente isolado na trajetória centenária da empresa, e já estamos tomando as medidas cabíveis frente ao tema, com toda a seriedade e respeito que a situação exige. A empresa trabalhará prontamente não apenas para coibir novos acontecimentos, mas também para promover a conscientização das melhores práticas sociais e trabalhistas em parceria com órgãos e entidades do setor

Com um legado de 112 anos, a Salton acredita na sustentabilidade como premissa de negócio. Signatária do Pacto Global, realiza diversos projetos para reforçar a responsabilidade social da empresa e seu compromisso como empresa cidadã. Externamos o nosso compromisso em fazer cada vez melhor.”

Cooperativa Garibaldi

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“Diante das recentes denúncias que foram reveladas com relação às práticas da empresa Oliveira & Santana no tratamento destinado aos trabalhadores a ela vinculados, a Cooperativa Vinícola Garibaldi esclarece que desconhecia a situação relatada. Informa, ainda, que mantinha contrato com empresa diversa desta citada pela mídia.

Com relação à empresa denunciada, o contrato era de prestação de serviço de descarregamento dos caminhões e seguia todas as exigências contidas na legislação vigente. O mesmo foi encerrado. A Cooperativa aguarda a apuração dos fatos, com os devidos esclarecimentos, para que sejam tomadas as providências cabíveis, deles decorrentes.

Somente após a elucidação desse detalhamento poderá manifestar-se a respeito. Desde já, no entanto, reitera seu compromisso com o respeito aos direitos – tanto humanos quanto trabalhistas – e repudia qualquer conduta que possa ferir esses preceitos.”

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