Manchas de óleo são detectadas na foz do São Francisco; falta de boia atrasa plano de contenção

Técnicos ambientais encontraram óleo em trecho da foz em município de Alagoas; boias que seriam cedidas pela Petrobrás para tentar impedir contaminação do rio não estão disponíveis

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Por Carlos Nealdo, Deborah Freire e Antonio Carlos Garcia

ARACAJU E MACEIÓ - Técnicos ambientais de Alagoas detectaram na manhã desta quarta-feira, 9, manchas de óleo na foz do Rio São Francisco, no município de Piaçabuçu, litoral sul do Estado, em monitoramento de rotina feito pelo Instituto do Meio Ambiente (IMA), Secretaria Estadual do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos, Capitania dos Portos e Instituto Brasileiro do Meio ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). A detecção ocorre no mesmo dia que o governo do Sergipe descobriu que não poderá realizar de imediato seu plano de instalar boias para impedir que o óleo chegue ao rio pela falta de equipamentos do tipo, que haviam sido prometidos pela Petrobrás.

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A foz do São Francisco, maior rio inteiramente brasileiro, fica na divisa entre Alagoas e Sergipe. O IMA informou que o aparecimento do óleo ficou restrito à foz, não chegando a invadir o rio.

Na terça-feira, 8, o governo sergipano declarou que usaria boias absorventes cedidas pela Petrobrás para conter o avanço do óleo pelo rio. Nesta quarta, porém, o Estado foi informado pela direção da estatal que não havia equipamentos disponíveis, segundo o diretor-presidente da Administração Estadual do Meio Ambiente (Adema), Gilvan Dias. Por isso, o governo terá de comprar 200 metros de boias, estimadas em R$ 90 mil, de uma empresa do Espírito Santo, o que atrasou o plano de contenção.

Vazamento de óleo foi registrado na Praia do Jatobá, litoral norte de Sergipe Foto: Adema/Governo de Sergipe

Dias acionou os Ministérios Públicos Estadual e Federal e a Justiça Federal pedindo ajuda. Ao mesmo tempo, comunicou o governador Belivaldo Chagas (PSD), que o autorizou a comprar imediatamente o equipamento, valendo-se da decretação da situação de emergência. “Vamos ver se as boias chegam de forma urgente. Ou até o fim da tarde de hoje (quarta) ou amanhã (quinta-feira, 10) pela manhã", afirmou Dias, ao acrescentar que manchas de óleo já foram encontradas, em pequenas quantidades na foz do Rio São Francisco, em Brejo Grande e Pacatuba.

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Nesta terça, 8, a Adema havia informado que os equipamentos viriam de Pernambuco e Maranhão, junto com funcionários de uma empresa terceirizada com expertise neste tipo de serviço. “Conversei com uma equipe de Pernambuco e eles disseram que estão com dificuldade deste equipamento, porque não tem em lugar nenhum. Ficamos de mãos atadas para o pior acontecer”, afirmou Dias.

Na Petrobrás em Sergipe, ele disse que a direção informou que não é dona do equipamento e nesse momento as boias estão indisponíveis. “Ele não explicou como as boias estão sendo utilizadas neste momento”, contou Dias. "Não tem uma política que antecipe problemas. Estamos diante de uma tragédia em toda extensão da costa nordestina e não se dá a devida atenção”, criticou.

A Petrobrás em Sergipe foi procurada, mas indicou que a reportagem procurasse o setor de comunicação. Procurada, a assessoria de imprensa ainda não respondeu.

Conforme o coordenador do Instituto do Meio Ambiente de Alagoas, Ricardo César, a chegada de petróleo à foz do Velho Chico, em Piaçabuçu, poderia ter sido evitada com o uso de barreiras de contenção no mar, mas a eficácia desta medida dependeria de o material estar concentrado em uma grande mancha de óleo.

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Mas, segundo ele, o petróleo cru que chegou à foz está fragmentado, o que exigiria uma barreira de contenção "gigantesca". "Depende de correnteza, da altura de onda. É mais eficaz para uma mancha compacta. Com fragmentos de óleo, fica bem difícil (de conter). Até porque o rio tem capacidade de arrasto grande, tanto da maré entrando como saindo. (O óleo) pode passar por cima da barreira, e a extensão da barreira teria de ser gigantesca. Essas ferramentas são mais usadas em rios mais estreitos e com manchas contínuas." 

Na noite desta quarta, o governo alagoano informou que também vai instalar barreiras de contenção na foz do rio. Os órgãos ambientais, de acordo com o Estado, terão apoio da Petrobras Transporte S.A (Transpetro), que irá ceder as barreiras para tentar conter o óleo nas regiões afetadas. 

É preciso evitar contato com o poluente

Ricardo Cesar alertou para a importância de a população evitar o contato direto com o material. "Ao avistar manchas de óleo nas praias, é recomendado informar à prefeitura local imediatamente. Em caso de contato acidental, a indicação é aplicar gelo sobre a área e higienizar, utilizando óleo de cozinha", ressaltou.

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Duas tartarugas da espécia Lepidochelys olivacea - popularmente conhecida como tartaruga oliva - foram encontradas cobertas pelo produto. Com isso, subiu para 16 o número de animais atingidos, segundo levantamento divulgado hoje pelo Ibama. Apenas quatro deles sobreviveram, segundo o último boletim do IMA. 

Desde o dia 02 de setembro, o Ibama vem estabelecendo uma série de ações, juntamente com o Corpo de Bombeiros do Distrito Federal, Marinha e Petrobrás, com o objetivo de investigar as causas e responsabilidades do despejo, no meio ambiente, do petróleo cru que atingiu o litoral nordestino.

A Companhia de Abastecimento de Alagoas, até agora, não foi convocada a participar da força-tarefa de monitoramento das manchas de petróleo. Em nota, a empresa informou que o problema não tem afetado a captação de água no Rio São Francisco, e que a fonte de captação é feita em um ponto distante da foz.

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