Maninho: marcas no crime, no bicho, no samba e no Rio

Amigos: corpo é velado no Salgueiro

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Por Agencia Estado
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Waldemir Paes Garcia, o Maninho, de calça jeans e camiseta, se tornou um dos bicheiros mais poderosos do Rio aos 26 anos e não chegou a ter o perfil de cinqüentão dominante entre os chefões do jogo. Morreu nesta terça-feira, aos 42 anos, assassinado a tiros, quando deixava a academia, em Jacarepaguá. Estava em uma Kawasaki ninja vermelha e branca (as cores do Salgueiro), com o filho. O bicheiro, que gostava da praia, do samba, de esportes e de ostentar roupas da moda e motos importadas, tinha fama de brigão. Era muito ligado à família e chegou a aplicar o dinheiro do bicho em projetos sociais ? uma escola agrícola na fazenda de seu pai, em Magé. O legado O legado do jogo, ele herdou de seu padrinho Angelo Maria Longa, o Tio Patinhas, e de seu pai, Waldemir Garcia, o Miro. Não sem antes passar por todas as etapas dessa contravenção tolerada e mostrar que tinha talento para a coisa: trabalhou conferindo jogos, escreveu talões, fechou apostas. Foi então que ganhou os primeiros pontos em Copacabana e daí por diante multiplicou seu poder. A ligação com a Acadêmicos do Salgueiro também vem do pai. Miro é o presidente de honra da escola de samba. Atualmente, Maninho era o presidente do Conselho Fiscal, mas, com o pai doente, comandava na prática a agremiação. Crimes e condenações Em 1993, foi condenado a seis anos de prisão por formação de quadrilha pela juíza Denise Frossard, em processo que levou para a cadeia outros bicheiros, entre eles seu pai. Maninho foi solto três anos e meio depois. Ele já havia sido indiciado por contrabando em 1988, quando a Polícia Federal encontrou um arsenal (nove espingardas e rifles, duas escopetas, nove pistolas e sete revólveres) em seu apartamento de cobertura na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio. Na época, disse que um advogado assassinado em 1986 havia lhe vendido as armas. Gênio explosivo A fama de brigão não veio das aulas de judô e karatê, que freqüentou em academias. Foi estampada em jornais pela primeira vez em 1986, quando Maninho se envolveu em uma confusão com o ator Tarcísio Meira Filho. O bicheiro estava na Cantina Fiorentina, no Leme, zona sul do Rio, quando o ator chegou com mais dois amigos. Maninho teria ficado com ciúmes de sua mulher por supostos olhares lançados por algum dos rapazes e decidiu acertar as contas na saída. Em uma perseguição de carro, José Carlos Reis, o Josef, que acompanhava Maninho, deu três tiros contra o veículo ocupado pelo ator. Um dos disparos atingiu Carlos Gustavo Pinto Moreira, o Grelha, que ficou paralítico. Acusado de ser o mandante do crime, Maninho foi absolvido no II Tribunal do Júri, em 1992. Mas foi condenado posteriormente pelo Superior Tribunal de Justiça a pagar R$ 3 milhões de indenização e pensão vitalícia a Grelha - decisão que ainda não foi cumprida. Voltou aos jornais por mais uma briga, no mês seguinte. Foi quando, no restaurante Buffalo Grill, no Leblon, seu acompanhante agrediu a socos um dos fregueses que fez comentários sobre a presença do bicheiro no local. No Rio, mesmo quem não joga no bicho, não gosta de carnaval e mora longe da quadra do Salgueiro ? e pensa não ter nenhum contato com a vida do bicheiro ? já pode ter esbarrado com algum de seus ?projetos? pela cidade. Maninho foi, por exemplo, um dos patrocinadores da instalação de redes de vôlei na praia de Copacabana.

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