Uma em cada 11 pessoas no mundo enfrentaram a fome no ano passado, proporção que chega a 1 de cada 5 das que vivem na África. É o que mostra o mais recente relatório O Estado da Segurança Alimentar e Nutricional no Mundo, divulgado nesta quarta-feira, 24, pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), em evento realizado no Rio de Janeiro.
Segundo o levantamento, o total de famintos no planeta ficou entre 713 milhões e 757 milhões de pessoas em 2023, considerado estável no triênio compreendido entre 2021 e o ano passado. Mas, o número global esconde diferenças regionais: enquanto a desnutrição crônica diminuiu na América Latina e no Caribe, ela se manteve inalterada na Ásia e voltou a crescer na África.
Com 3,9% da população em desnutrição crônica, o Brasil integra o Mapa da Fome e tem índices próximos aos de Taiwan (3,7%), Geórgia (4%) e Sri Lanka (4,1%). Para a FAO, países livres da fome são aqueles cujo percentual de subnutridos fica abaixo de 2,5%. Na América do Sul, apenas o Chile, a Guiana e o Uruguai estão nesse patamar.
Entre os continentes, o pior índice está na África, onde 19,9% da população passa fome. Considerando os países, a desnutrição atinge seus maiores patamares na Somália, com mais da metade da população (51,3%) subnutrida, Haiti (50,4%), Madagascar (39,7%) e Iêmen (39,5%).
Em 2015, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento estabeleceu como um de seus “Objetivos de Desenvolvimento Sustentável” para 2030 acabar com a fome no mundo e garantir o acesso a alimentos seguros, nutritivos e suficientes durante todo o ano. Agora, a própria ONU reconhece que a meta está distante de ser atingida.
“O mundo ainda está longe de alcançar o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 2, Fome Zero, com a prevalência global de subnutrição persistindo praticamente no mesmo nível por três anos consecutivos, depois de ter aumentado drasticamente na esteira da pandemia da covid-19″, diz a FAO, no relatório divulgado nesta quarta-feira.
Com os resultados atuais, a projeção da FAO é de que 582 milhões de pessoas no mundo todo continuem subnutridas em 2030, mais da metade delas na África.
A agência da ONU também alerta para os altos índices de insegurança alimentar. “O progresso em direção à meta mais ampla de garantir acesso regular a alimentos adequados para todos também estagnou. A prevalência de insegurança alimentar moderada ou grave permaneceu inalterada por três anos consecutivos em nível global, embora seja importante destacar o progresso na América Latina”, diz o texto.
“Em 2023, estima-se que 28,9% da população global - 2,33 bilhões de pessoas - estavam em insegurança alimentar moderada ou grave”, acrescenta.
Segundo a agência da ONU, a insegurança alimentar moderada é aquela em que a pessoa tem dificuldade em ter acesso a uma alimentação adequada, o que faz com que em determinado período acabe comendo menos, ou com menor qualidade. Já a insegurança grave é quando falta efetivamente comida por um dia ou mais.
O relatório também aponta que, em 2022, cerca de 2,8 bilhões de pessoas - o equivalente a 1/3 da população do planeta - não tinham condições financeiras para ter uma alimentação saudável.
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