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Montanhista brasileiro desaparecido no Peru teria caído em fenda no gelo; entenda

Marcelo Delvaux começou a escalar o vulcão Coropuna no dia 25 de junho, sozinho. Desde o dia 30 ele está desaparecido, com o sinal de seu GPS estabilizado; família acredita que ele esteja morto

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Foto do author Giovanna Castro

Uma equipe de montanhistas encontrou neste sábado, 6, indícios de que o montanhista brasileiro Marcelo Delvaux, de 55 anos, desaparecido desde 30 de junho em um dos cumes do vulcão Nevado Coropuna, o quarto mais alto do Peru, teria caído em uma fenda no gelo e, muito provavelmente, está morto. O corpo do montanhista, no entanto, ainda não foi encontrado.

De acordo com um amigo de Delvaux, com quem o Estadão conversou, a fenda onde equipamentos do montanhista foram encontrados na borda é muito grande e as condições climáticas não permitem o acesso do resgate ao local neste momento. “Nosso amigo, que tanto amava as montanhas e que vivia para escalá-las e apreciá-las, por lá ficou.”

O montanhista Marcelo Delvaux tem certificação para escalada de montanhas. Ele subia um vulcão peruano sozinho quando desapareceu. Foto: Reprodução/Instagram: marcelo.mottadelvaux

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Pedro Hauck, que também é montanhista, conhece Delvaux há cerca de 15 anos. “O Marcelo era um dos montanhistas mais experientes do Brasil. Ele era formado como guia de montanha pela EPGAMT, que é uma escola de guias de montanhas em Mendoza, na Argentina”, diz. “Ele vinha com bastante frequência ao Peru, todos os anos.”

“Ele era famoso por seguir seus próprios passos”, disse o amigo. “Marcelo apenas escalava montanhas e para ele quanto mais desconhecida, melhor.”

De acordo com Hauck, Delvaux estava na Bolívia com a namorada, a também montanhista Julieta Ferreri, antes de viajar para o Peru. A moça, que é argentina, voltou ao seu país natal porque faria uma mudança de casa. Delvaux seguiu então para a Bolívia para subir um dos subcumes do Nevado Coropuna sozinho, algo que já estava acostumado a fazer.

No dia 25 de junho, ele chegou à base do vulcão e começou a subida por uma rota que fica a sudoeste, em um local com glaciares. Ele atingiu uma altitude de 4.880 metros e montou um acampamento. Ficou lá durante dois dias, 26 e 27 de junho, conforme dados de um GPS que ele utilizava.

No dia 28, o montanhista subiu até a altitude de 6.800 metros e, em seguida, retornou ao acampamento. “A gente acha que, como essa altitude foi a mesma em que ele desapareceu, ele encontrou um grande obstáculo alí”, afirma Hauck.

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Sinal do GPS estagnado acendeu alerta à família e amigos

No dia 30 de junho, Delvaux deixou novamente seu acampamento e começou a subir a montanha às 3h da madrugada. Ele chegou ao topo às 14h57 e, logo em seguida, começou a descer. “Pelo GPS, a gente viu que, mais ou menos uns 30 ou 40 minutos depois, o sinal estagnou. Ele não se movimentou mais desde então”, conta o amigo.

O GPS carregado por Delvaux contava com um botão de S.O.S. que, acionado, emitia um alerta para uma central que decidia por um pedido de resgate. O aparelho também permitia enviar mensagens para essa central, via sinal de satélite. Mas, em nenhum momento, o montanhista acionou o botão ou pediu qualquer tipo de ajuda.

No dia 3 de julho, a família de Delvaux acionou o resgate. No entanto, a equipe de policiais peruanos teve dificuldade de subir a montanha. “A polícia não estava aclimatada para subir a montanha. Em uma montanha de grande altitude, como o Coropuna, você precisa subir lentamente para fazer com que o seu corpo se acostume com as condições de baixa pressão e de ar rarefeito”, explica Hauck.

“Também não é possível um helicóptero pousar em uma altitude tão elevada, porque o ar é tão rarefeito que ele não se sustenta”, diz o amigo. Ele sugeriu à família, então, que contratasse uma equipe de montanhistas que já estava na região e, por isso, já aclimatada. Dessa forma, conseguiriam subir mais rapidamente.

Acampamento vazio e equipamentos na frente da fenda

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O grupo de guias começou a subir o Coropuna à procura de Delvaux na sexta-feira, 5. No mesmo dia, à tarde, eles encontraram o acampamento, vazio. “A gente já foi se preparando para o pior. Porque isso significava que ele não havia retornado”, conta Hauck.

No sábado, o grupo continuou a subida até os 6.800 metros e encontrou dois trackings (equipamento similar a um bastão, utilizado para se apoiar durante caminhada na neve) fincados no gelo, em frente a uma fenda de gelo muito profunda, na altitude em que o GPS de Marcelo ficou estabilizado desde o dia 30.

“Essa greta (nome técnico para fenda) estava encoberta em quase sua totalidade. Somente na frente dos bastões do Marcelo havia uma abertura bem grande, com todos os sinais de que o Marcelo havia caído lá dentro”, diz o amigo. “A greta era tão profunda que não era possível observar o corpo do Marcelo lá dentro.”

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A teoria da família e dos amigos é de que, na subida do vulcão, o montanhista teria encontrado a fenda no gelo e fincou seus trackings ao lado para sinalizar o local seguro de se passar. Na descida, ele pode ter tentado pular a fenda e, neste momento, a borda cedeu, o fazendo cair dentro do buraco.

Os resgatistas não conseguiram entrar na fenda porque as condições de neve são muito perigosas neste momento. “Há uma neve em pó na parte exterior da greta, sem sustentação para que eles pudessem fazer uma ancoragem e rapelar (adentrar utilizando rapel) no interior dessa greta”, diz Hauck.

A família e o amigo acreditam que Delvaux esteja morto, dado o tempo em que ele está desaparecido, o tamanho da queda que ele teria sofrido e as condições climáticas do local. “Não há chances de que Marcelo tenha sobrevivido. Inclusive, pelo fato dele não ter pedido socorro, a gente acredita que a queda já tenha sido fatal”, afirma o amigo.

“Nosso amigo, que tanto amava as montanhas e que vivia para escalá-las e apreciá-las, por lá ficou”, finaliza Hauck sobre a suposta morte de Delvaux.

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