Março sinaliza com vendas recordes

Último mês com redução do IPI deve superar marca de 308 mil veículos

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As montadoras se preparam, a partir de amanhã, para o melhor mês da história do setor, com projeções de superar a marca de 308 mil veículos vendidos em setembro, até agora o recorde mensal. Haverá feirões durante o mês todo nas fábricas, revendas e em espaços nobres utilizados para esses eventos. O fim da redução da alíquota do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), em vigor há um ano e dois meses, será o principal motor dos negócios em março, confiam as empresas.A previsão de montadoras e concessionárias é de vendas próximas a 320 mil veículos em março, incluindo caminhões e ônibus. Em fevereiro, mês curto em relação aos demais e com o feriado de carnaval no meio, foram vendidas cerca de 215 mil unidades, quase 2 mil a mais do que no mês anterior. Quinta-feira, os licenciamentos já atingiam 201,6 mil unidades. O balanço final deve sair amanhã.Desta vez, as montadoras não estão "chorando" o fim de um benefício, como é de costume, embora alguns representantes do setor achem que não é o momento ideal para sua retirada. Em abril, os carros voltam a ser taxados com o IPI integral, o que deve resultar em aumento dos preços dos carros novos em 3,5% a 4%.O setor foi contemplado com o subsídio em meados de dezembro de 2008, no auge da crise financeira internacional. A redução do imposto ajudou a indústria a obter vendas recordes em 2009, de 3,1 milhões de veículos, enquanto em quase todo o mundo os negócios despencaram por causa da crise.Inicialmente previsto para durar três meses, o benefício foi renovado três vezes (ver quadro). "Agora não há nenhuma chance de prorrogação", informa um integrante do Ministério do Desenvolvimento."Em nossas projeções para o ano, trabalhamos com o fim do corte do IPI em março", diz o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Jackson Schneider.Com promoções e apelo publicitário voltado ao fim do IPI, o consumo deve ser mais forte em março, com antecipações de compras, e em abril ocorrerá um freio nos negócios, avaliam empresas e consultores. Mas não o suficiente para atrapalhar as projeções da Anfavea de crescimento de quase 10% nas vendas até o fim do ano, atingindo novo recorde de 3,4 milhões de unidades."Há outros fatores que devem compensar a volta do IPI, como a continuidade da expansão do crédito, prazos de financiamento longos, confiança do consumidor e o mundo do trabalho com desempenho positivo", diz Douglas Uemura, economista da LCA Consultores. Mesmo que os juros aumentem nos próximos meses, como preveem alguns analistas, as vendas de carros devem ser suportadas pelo crediário de longo prazo, aposta Thaís Marzola Zara, economista-chefe da Rosenberg & Associados."Ainda que em abril as vendas caiam, no conjunto do ano o resultado será bom", diz ela, que projeta aumento de 6% para as vendas de automóveis e comerciais leves.MAIS SEIS MESESO diretor comercial da Fiat, Lélio Ramos, prevê vendas de 300 mil a 320 mil veículos em março, mas não arrisca uma projeção para abril. "Não sabemos a reação dos consumidores diante do aumento de preços que ocorrerá com o repasse do IPI", afirma. Em sua opinião, o benefício deveria ser prorrogado por mais seis meses, mas os dirigentes da Anfavea garantem que não levaram nenhum pedido ao governo nesse sentido.De acordo com Ramos, países que suspenderam incentivos no início do ano, como Alemanha, Itália e Estados Unidos, tiveram significativa queda de vendas. "Em minha opinião, não é o momento para retirar o benefício, até porque já foi retirado parcialmente a partir de outubro."Numa projeção que considera "realista", o executivo trabalha com um mercado total de 3 milhões de automóveis e comerciais leves para este ano, podendo chegar a 3,2 milhões numa visão "mais otimista". O setor de autopeças compartilha as projeções e já recebeu as encomendas para a produção de março, que deve superar a de fevereiro. Flavio Del Soldato, conselheiro do Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças), avalia que o corte do IPI funcionou como "querosene na fogueira para fazer frente à crise".Ele não sabe distinguir os efeitos da medida, mas ressalta que um dos indicadores, o de nível de emprego, poderia ter sido pior sem a ajuda. As autopeças iniciaram 2009 com 203,4 mil funcionários, quadro que foi reduzido a 196 mil em maio e subiu para 204,9 mil em dezembro - ainda assim, abaixo dos 207,5 mil de dezembro de 2008.

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