SÃO PAULO - Um vídeo que circula nas redes sociais mostra Damares Alves, ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos do governo Jair Bolsonaro (PSL), afirmando que "menino veste azul e menina veste rosa". Aplaudida por apoiadores, ela diz ainda que o País vive uma "nova era".
Damares reagiu à publicação e, ao Estado, disse que seu objetivo foi, de fato, fazer uma declaração contra a “ideologia de gênero”, referindo-se à sexualidade das crianças. “Fiz uma metáfora contra a ideologia de gênero, mas meninos e meninas podem vestir azul, rosa, colorido, enfim, da forma que se sentirem melhores.”
O vídeo, segundo a assessoria de comunicação de Damares Alves, foi gravado logo após o fim de seu discurso de posse, realizado nessa quarta, 2, , em Brasília (DF). Damares recebia um grupo de apoiadores em uma sala no ministério. Ela pede atenção do grupo que a acompanha e diz a frase. Após aplausos e gritos de apoio, a ministra repete: "Atenção, atenção. É uma nova era no Brasil. Menino veste azul e menina veste rosa".
Além de ser compartilhado nas redes sociais, o vídeo foi divulgado em uma página do Twitter que se intitula apoiadora da ministra.
Em sua fala durante a posse, Damares reafirmou que pretende acabar com o “abuso da doutrinação ideológica de crianças e adolescentes no Brasil” e que “a revolução está apenas começando”.
A ministra afirmou que seu governo vai se voltar para políticas públicas “que priorizem a vida desde a concepção”, ou seja, desde a fecundação do óvulo, deixando clara a sua posição contra o aborto. “No que depender do governo, sangue inocente não será derramado neste País. Este é o ministério da vida”, disse, em seu discurso.
Damares tomou posse nesta quarta-feira, 2, e declarou ainda que vai governar com "princípios cristãos", sempre priorizando a família. "O Estado é laico, mas esta ministra é terrivelmente cristã", disse. "Acredito nos desígnios de Deus e propósitos de Deus."
Professora do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de Viçosa, Daniela Rezende afirma que esse tipo de declaração “reforça a divisão entre homens e mulheres” e contribui para aumentar as desigualdades. Esse movimento de defesa da heterossexualidade e da família tradicional, diz ela, tem crescido também nos Estados Unidos e na Europa.
"Por trás disso, está uma defesa da heterossexualidade, do enfrentamento dos direitos da população LGBT e defesa da família tradicional, composta por pai, mãe e filhos. É um bordão que fixa valores tradicionais para o masculino e o feminino."
Princesas
Em dezembro, Damares havia feito comentário semelhante ao defender uma “contrarrevolução cultural”. “No momento em que coloco a menina igual o menino na escola, o menino vai pensar: ela é igual, então pode levar porrada. Não, a menina é diferente do menino. Vamos tratar meninas como princesas e meninos como príncipes.”/COLABOROU PAULA FELIX
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