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'Meu nome já está na lista de cardeais'

Secretário do conclave foi primeiro cardeal nomeado pelo papa Francisco, que retomou uma tradição quebrada com Paulo VI

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Por Filipe Domingues e VATICANO

O primeiro cardeal nomeado pelo papa Francisco é o ex-núncio apostólico no Brasil e arcebispo italiano d. Lorenzo Baldisseri, conforme revelou ontem o portal estadao.com.br. A nomeação ocorreu ao fim do conclave, retomando uma antiga tradição católica.

O papa Paulo VI havia quebrado o costume de elevar imediatamente ao cardinalato o bispo que atuava como secretário do conclave e que tem como dever, por exemplo, queimar as cédulas após cada votação.

Imagens da primeira missa do papa Francisco mostram d. Lorenzo usando o chapéu vermelho de cardeal (solidéu) junto aos eleitores, o que, formalmente, fez com que a nomeação deixasse de ser sigilosa.

Ontem, cardeais presentes em Roma confirmaram ao Estado a indicação de Baldisseri, mas o porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi, declarou à imprensa que "ninguém foi tornado cardeal durante o conclave".

Isso porque a nomeação deve ser oficializada em um consistório, cerimônia pública do papa na qual Baldisseri receberá o anel de cardeal, o barrete (outro tipo de chapéu vermelho) e o título de uma igreja em Roma. Ele mesmo esclareceu: "Meu nome já está na lista".

Ele foi o embaixador da Santa Sé no Brasil entre 2002 e 2012. Confira, a seguir, a entrevista exclusiva de Baldisseri.

Foi uma surpresa ver na TV o senhor usando solidéu vermelho. Agora o senhor já é cardeal?

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Ainda não, mas meu nome já está na lista do próximo consistório. Porque é necessária a realização de um consistório para oficializar o anúncio. Por enquanto, fico como estou, no mesmo cargo de secretário da Congregação para os Bispos e continuo usando a minha veste normal de arcebispo (preta e rosa fúcsia). Mas já estou na lista. Participei com todos os cardeais dos eventos do conclave, por causa do meu cargo de secretário do colégio cardinalício.

O que representa essa decisão do papa Francisco de nomeá-lo cardeal logo após a eleição?

É um gesto histórico, mas ao mesmo tempo muito novo para nós. O último a fazê-lo havia sido o papa João XXIII, há mais de 50 anos. Na época da eleição do papa Ratzinger, ele prometeu a nomeação ao secretário (do conclave), mas o gesto concreto de pôr o solidéu vermelho na cabeça dele não ocorreu. Agora, foi renovada a tradição.

Como foi esse momento?

O papa Francisco, após eleito, foi a uma sala para vestir o hábito branco. Tirou seu solidéu vermelho e o colocou em um prato. Um cerimoniário que o acompanhava saiu com o papa da sala com esse pratinho que tinha o solidéu vermelho em cima. Todos os cardeais fizeram fila para se ajoelhar e prestar obediência ao novo papa, como está previsto, e, ao final, eu também. Quando eu estava de joelhos, ele tomou o solidéu que estava no pratinho e colocou na minha cabeça. Alguns cardeais aplaudiram, outros não reagiram. Esse é o fato.

Como o senhor se sentiu?

Muito confuso e comovido. Ele me abraçou. Eu o agradeci por sua confiança.

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O senhor conhecia bem o cardeal Jorge Mario Bergoglio?

Não muito, mas em 2007 ele foi ao Brasil para a conferência da América Latina, quando eu era núncio no País. Ele me conhecia por isso. Portanto, soube de todo o processo para realização do acordo entre Brasil e a Santa Sé e acompanhou meu livro sobre o assunto.

A decisão de ir à primeira missa de Francisco com o solidéu vermelho foi sua ou do papa?

Eu pedi ao santo padre para poder concelebrar a missa com os outros cardeais e ele me disse que sim. O solidéu que eu usei é exatamente o mesmo que ele me deu. Agora vou guardá-lo de lembrança.

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