PUBLICIDADE

Monumentos de SP sob o fogo cruzado

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

Os monumentos históricos espalhados pela cidade estão sob fogo cruzado. De um lado, um exército de pombos, mendigos e pichadores bombardeiam as obras com fezes, urina e sprays. Do outro, três equipes da Limpeza Urbana (Limpurb), equipadas com seus jatos de água, se revezam para combater a sujeira. Um dos alvos dessa batalha foi o monumento em homenagem ao médico Luiz Pereira Barreto, que fica na Praça Marechal Deodoro, em Santa Cecília, região central. Entregue à cidade em 1929 pela Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, há alguns anos a obra se transformou em dormitório para mendigos e pombas, e não deixou de sofrer com a ação dos pichadores. Resultado: a escultura do médico e das duas deusas gregas ao seu lado, feitas em bronze, estão deterioradas pelas fezes e a urina dos pombos e mendigos. Além disso, o pedestal de granito está coberto por pichações. O trabalho de limpeza não é nada fácil e varia de acordo com o material do qual a obra é feita. "Nesse tipo monumento (do médico Pereira Barreto), utilizamos apenas água quente. O uso de um produto químico poderia estragar a peça", explica Paula Andrade, arquiteta do Departamento do Patrimônio Histórico (DPH) - órgão da Prefeitura responsável pelos monumentos da cidade. Antes de começar a limpeza, Paula conta à equipe de agentes da Limpurb um pouco da história do célebre personagem. "Pereira Barreto foi responsável por descobrir que o mosquito aedes egypti transmite a dengue e os benefícios da terra roxa para o plantio de café. Para que vocês tenham uma idéia do quanto ele foi importante para a medicina e agricultura, existe uma cidade no interior do Estado com o nome dele", explica a arquiteta sob o olhar atento da equipe. "As duas mulheres que estão ao lado do médico são deusas gregas que representam a cura e a fertilidade." Para alcançar a estátua de Pereira Barreto, que fica a quase 5 metros do chão, o agente Edvaldo Inácio da Costa, de 21 anos, precisa da ajuda de um caminhão cesto (uma miniatura do veículo utilizado pelo Corpo de Bombeiros para realizar salvamentos em lugares altos). Em seguida, ele começa a lavar a obra com um forte jato de água a 70° C. Enquanto Edvaldo dá um banho nas estátuas, os outros agentes cuidam do entorno da praça, varrendo os canteiros e cuidando das plantas. Mas na hora de lavar o pedestal de granito, uma triste constatação: só a água não conseguirá limpar as pichações (algumas feitas com sprays, outras com tinta óleo). E o maior problema é que não há dinheiro para comprar os removedores. A verba de R$ 39 mil que o DHP irá receber da Prefeitura tem de ser aplicada na implantação dos monumentos que passaram por restauração. "Os produtos para remover pichações são específicos e, por isso, muito caros. Como não contamos com recursos para limpeza, fica impossível comprá-los", afirma Paula. Além do dinheiro para adquirir os produtos, o DPH também precisa manter ativo um laboratório. É através dele que os técnicos poderão determinar qual removedor será utilizado para limpar as pichações. "Primeiro analisamos a composição da pedra, depois o tipo de tinta e, só então, podemos saber qual produto a ser utilizado", diz a arquiteta. Mesmo com tantas dificuldades para limpar as obras de arte, ela acredita que cercar os monumentos não é melhor alternativa para barrar mendigos e pichadores. "A cerca é apenas mais um desafio para os vândalos", garante Paula. "O cidadão tem que ter consciência de que a cidade é um pouco dele e tudo aquilo que a deixa mais bonita deve ser preservado." A aposentada Marli Moraes, de 69 anos, moradora do bairro de Santa Cecília há 40 anos, concorda com a arquiteta. "Fiquei muito contente com essa limpeza. Agora as pessoas poderão voltar a caminhar por aqui", comemora a aposentada que costumava a trazer o filho mais velho, hoje com 44 anos, para andar de bicicleta na praça. Como não foi possível remover a pichação, a estátua de Pereira Barreto vai entrar para uma extensa lista de esculturas em estado de degradação e esperar que alguma empresa privada resolva adotá-la através do programa Adote uma Obra Artística. "Cerca de 10 obras da cidade já foram adotadas por empresas, mas perto dos 500 monumentos que temos catalogados é muito pouco", explica Paula.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.