Intelectual e sacerdote dos bairros mais desfavorecidos de Lima, no Peru, Gustavo Gutiérrez, considerado pai da Teologia da Libertação, corrente de pensamento cristã focada na dignidade dos pobres que teve importante repercussão política na América Latina, faleceu nesta terça-feira, 23, aos 96 anos.
O religioso, que se tornou dominicano aos 76 anos, usou a expressão pela primeira vez em 1968, numa reunião da Conferência Episcopal Latino-Americana em Medellín, Colômbia, para aplicar os princípios reformadores do Vaticano II. Conselho.
Foi também um dos primeiros párocos a denunciar as injustiças e desigualdades que devoram a América Latina. Segundo a sua visão, a Igreja deve voltar a colocar os desfavorecidos no centro da sua ação e ajudá-los a libertarem-se das suas condições de vida.
Gutiérrez escreveu o primeiro grande tratado sobre o assunto, intitulado “Teologia da Libertação: Perspectivas”, publicado em 1971 e traduzido em todo o mundo.
A obra oferece uma nova espiritualidade baseada na solidariedade com os mais necessitados e exorta a Igreja Católica a participar na mudança das instituições sociais e económicas para promover uma maior justiça social. Seguindo seus passos, muitos católicos latino-americanos escreveram sobre o assunto.
Alguns foram criticados pelo Vaticano – e em particular por João Paulo II – por adotarem uma interpretação marxista e revolucionária do tema da libertação cristã. No entanto, Padre Gutiérrez nunca rompeu com a Igreja.
Foi justamente a ordem dominicana do Peru, à qual pertencia desde 2001, que comunicou a morte e anunciou missas e uma homenagem na Basílica de Santo Domingo, em Lima, nos próximos dias. Os restos mortais do padre serão sepultados a partir da noite de quarta-feira. /AFP
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