BRASÍLIAAos 78 anos, morreu na noite de terça-feira, em Brasília, o físico José Carlos Azevedo, ex-reitor da Universidade de Brasília (UnB). Nascido em Salvador, em 1932, ele se tornou guarda naval na Escola Naval do Rio de Janeiro em 1954. Nos anos seguintes, sem desligar-se da Marinha, dedicou-se completamente a estudos e pesquisas científicas nas áreas de engenharia e arquitetura e, posteriormente, física e energia nuclear. Em 1965 recebeu o título de doutor em física conferido pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts, mais conhecido pela sigla inglesa MIT - uma das mais respeitadas instituições de pesquisa do mundo. De volta ao Brasil, no final da década de 60, tornou-se vice-reitor da UnB. Em 1976 foi designado para assumir a reitoria, onde permaneceu por dois mandatos, durante nove anos, até 1985. Foi substituído pelo atual senador Cristovam Buarque (PDT-DF).Sua passagem pela reitoria foi marcada pela polêmica. Enfrentou forte resistência dos estudantes e de parte do meio acadêmico, que sempre o viram como uma espécie de interventor a serviço da ditadura. Por outro lado, era elogiado pela sua capacidade realizadora e apurada formação técnica.No período em que foi reitor autorizou em três ocasiões a entrada de tropas militares na escola, para conter protestos e greves. Também promoveu o expurgo de professores de esquerda e a expulsão de estudantes. Por outro lado, ampliou o número de cursos de graduação e pós-graduação, contratou professores no exterior, deu mais vigor às atividades de pesquisa na instituição. "Era uma pessoa de temperamento forte, mas, intelectualmente, muito preparado em diferentes campos da engenharia", observou o senador Marco Maciel (DEM-PE), em discurso de homenagem ao ex-reitor, proferido ontem.Membro da Academia Brasiliense de Letras, mesmo após a aposentadoria Azevedo continuou exercendo atividades intelectuais e fomentando polêmicas por meio de seus artigos. Crítico da teoria corrente sobre o aquecimento global, insistia que não existe prova científica de que o dióxido de carbono (CO2), emitido por excesso de atividade econômica, seja responsável pelo aumento da temperatura da terra.Ele sustentava que a adesão ao protocolo de Kioto, além de não surtir efeito sobre o clima, causaria desastres econômicos em diversos países, principalmente os mais pobres. O ex-reitor morreu em decorrência de um infecção pulmonar. Na quarta-feira, durante o enterro de seu corpo, em Brasília, a Marinha prestou homenagens ao capitão de mar e guerra - seu posto oficial. Ele deixa mulher, duas filhas e três netos.
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