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Morre taxista que recolocou cruzes em protesto contra gestão da pandemia em Copacabana

Márcio Antônio do Nascimento Silva tinha perdido o filho Hugo, aos 25 anos, para a doença; segundo fundador de ONG, familiares relataram que, antes pacato, profissional passou a se mostrar revoltado

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Atualização:

RIO - Quando a pandemia de covid-19 já registrava 40 mil mortes, em junho de 2020, o taxista e coordenador censitário Márcio Antônio do Nascimento Silva se tornou conhecido nacionalmente porque recolocou, na areia da praia de Copacabana, na zona sul do Rio, cruzes que homenageavam as vítimas e tinham sido arrancadas.

Símbolos das mortes pela doença que se espalhavam pelo País, elas tinham sido fincadas em ato da ONG Rio de Paz para criticar o combate à epidemia pelo governo do presidente Jair Bolsonaro. Dois meses antes, Márcio tinha perdido um filho para a covid-19 e por isso “reconstruiu” o protesto desfeito. Na segunda-feira, 3, ele morreu, vítima de problemas cardíacos, aos 58 anos.

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As cruzes haviam sido arrancadas da areia pelo aposentado Hequel da Cunha Osório, então com 78 anos. Ele supostamente discordava das críticas a Bolsonaro. O filho de Márcio, Hugo Dutra do Nascimento, de 25 anos, embora saudável e não integrante de grupos de risco, morreu de covid-19 em abril de 2020, após passar 16 dias internado.

“Meu nome é Márcio. Pai do Hugo, que faleceu aos 25 anos de covid-19. Só queria dizer que a dor do pai é muito grande. É ter que conviver todo o dia com essa dor, com os pensamentos. Tentar lidar com estes pensamentos. Gostaria, por favor, que as pessoas tivessem mais empatia e compaixão pelas pessoas, pelas vítimas, por todos nós”, afirmou, à época. Depois, Silva chegou a depor durante a CPI da Covid-19, no Senado, onde expôs o drama da morte do filho.

Márcio Antônio deu seu testemunho na CPI da Covid Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado

O taxista chegou a ser internado, mas não resistiu às complicações cardíacas. Foi enterrado na tarde desta terça-feira, no cemitério de São João Baptista, em Botafogo (zona sul).

“Márcio morreu após ter perdido seu filho e experimentado, junto com milhões de brasileiros, a dor de se sentir ignorado pelo poder público. Em plena pandemia, Márcio ouviu aquele que ocupa o mais alto posto da República não demonstrar empatia em nenhum momento”, afirmou Antônio Carlos Costa, fundador da ONG Rio de Paz, que compareceu ao enterro.

“Seus familiares revelaram que, naquele dia (do protesto nas areias de Copacabana), Márcio revelou outro lado da personalidade”. Ele era uma pessoa pacata. O que levou o Márcio a expressar aquela revolta? Foi seu senso de justiça, o desejo de lutar nesse momento dramático da história do nosso País, pelo direito à vida.

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Ato homenageará taxista nesta quarta

Nesta quarta-feira, 5, às 10h, a ONG Rio de Paz vai promover um ato na praia de Copacabana, em frente ao hotel Copacabana Palace. Nele, será reproduzida a cena de Silva recolocando as cruzes na areia, retiradas por um homem contrário à manifestação.

Segundo a ONG será levada uma faixa com os dizeres: “Em memória de Márcio Antônio do Nascimento Silva, pai de vítima da covid, que defendeu bravamente o direito à vida e à liberdade de expressão. Exigiu e não teve do poder público o combate eficaz da pandemia”.

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