A morte de Fernando Dutra Pinto, de 22 anos, encerrou de forma prematura boa parte das apurações e dos processos sobre um dos crimes de maior repercussão no País. O seqüestro de Silvio Santos, feito refém em sua própria casa, é um dos episódios que ficarão sem resposta da Justiça. Outro trecho nebuloso, a tentativa de prisão de Dutra Pinto, num flat em Barueri, em 30 de agosto, também fica definitivamente sem explicação. Até agora, a polícia havia apurado que houve falha na abordagem do seqüestrador por parte dos policiais. Dois morreram e um terceiro, Reginaldo Guatura Nardes, foi ferido. Segundo o próprio Nardes, eles buscavam a fama. Paira, porém, a suspeita de corrupção. Mais do que a tentativa de ganhar as manchetes dos jornais, boa parte da ação dos policiais está sob suspeita. O flat onde Dutra Pinto estava hospedado fica em Barueri, na Grande São Paulo. Mas os policiais eram do 91.º Distrito, no Ceagesp, zona oeste da capital. A Delegacia Anti-Seqüestro (Deas) só ficou sabendo que os policiais tinham encontrado o dinheiro e iam tentar prender o criminoso por acaso. Um dos seguranças do flat avisou um delegado do Grupo de Operações Especiais (GOE), que ligou para o delegado Wagner Giudice, da Deas. Dutra Pinto nunca acusou os policiais de tentarem extorquir dinheiro dele. Disse que se atracou com eles, trocou tiros e depois fugiu. ?Por isso não acredito em queima de arquivo?, disse o promotor de Barueri Renato Ferreira dos Santos. No dia seguinte, o seqüestrador estava na casa de Silvio Santos, fazendo-o refém. Mesmo assim, parentes de Dutra Pinto chegaram a dizer que ele não falara tudo o que sabia. O responsável pela sindicância da Corregedoria, Paulo Herbella Fernandes, foi procurado nesta quinta-feira pela reportagem. Apesar dos vários recados, ele não respondeu às ligações. O Estado apurou que Nardes e o delegado Armando Bélio, que era titular do 91º DP, continuam sem funções na polícia. O delegado está à disposição do Departamento de Polícia Judiciária da Capital (Decap). Da mesma forma, o inquérito que apura a morte dos policiais Tamotsu Tamaki e Marcos Bezerra caminha para o arquivamento. A perícia constatou que os tiros que mataram os investigadores partiram da arma que estava com Dutra Pinto. Ele havia sido indiciado por dois homicídios e uma tentativa de assassinato e deveria ir a júri popular. Resta apenas a apuração sobre a conduta desastrada dos policiais. O promotor Santos disse que aguarda a conclusão de laudos. ?O trabalho deve estar encerrado em 30 dias.? O dinheiro recuperado, R$ 486 mil, foi entregue aos advogados de Silvio. O processo sobre o seqüestro do apresentador e de sua filha Patrícia ? que permaneceu por oito dias nas mãos de seis criminosos ? terá apenas uma resposta parcial. O juiz Adilson de Araújo, da 30ª Vara Criminal, responsável pelo processo, só poderá decidir a culpa sobre o seqüestro de Patrícia. A participação de Dutra Pinto, mentor do crime, não será julgada. Estão sendo processados Luciana dos Santos Sousa, a Jeniffer, Tatiana Ferreira da Silva, Marcelo Batista Santos, o Pirata, e Esdras Dutra Pinto, irmão do seqüestrador. Um dos bandidos, Marcos Batista Santos, irmão de Pirata, está foragido.
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