Os dois fugitivos da Penitenciária Federal de Mossoró, no interior do Rio Grande do Norte, foram recapturados nesta quinta-feira, 4, após 50 dias de buscas. Rogério da Silva Mendonça e Deibson Cabral Nascimento haviam escapado do presídio em 14 de fevereiro e desde então eram procurados por forças federais e estaduais na região. A localização aconteceu em Marabá, no Pará, a 1,6 mil quilômetros de Mossoró. O governo disse que eles tinham o objetivo de deixar o País.
“Na tarde desta quinta-feira, em uma ação conjunta das polícias Federal e Rodoviária Federal, foram presos, em Marabá (PA), os foragidos do Sistema Penitenciário Federal Rogério Mendonça e Deibson Nascimento”, informou em nota o Ministério da Justiça e Segurança Pública. Eles serão levados de volta a Mossoró.
- Além deles, foram presos quatro suspeitos que integravam o “comboio do crime”, como definiu o Ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski.
- O grupo seguia em três veículos pela rodovia BR-222 e na altura de Marabá foram cercados em uma ponte por agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e Polícia Federal (PF). Um fuzil foi apreendido.
“Hoje (os fugitivos) acabaram presos a cerca de 1.600 km do local da fuga, o que demonstra que obviamente foram coadjuvados por criminosos externos e tiveram auxilio de seus comparsas e das organizações criminosas que pertenciam. Foram presos perto de Marabá e estavam se dirigindo para o exterior”, detalhou o ministro.
Ele não informou, porém, qual seria o país de destino dos foragidos. De acordo com o ministro, as investigações ainda estão em curso.
Lewandowski disse que a PF já tinha identificado que a dupla não estava mais na região de Mossoró. “Mudamos de estratégia quando soubemos que eles não estavam mais nas proximidades da penitenciária de Mossoró. A mudança de estratégia consistiu em sairmos da busca física e trabalhar a partir da inteligência, sobretudo do inquérito da PF de Mossoró”, disse.
O ministro considerou a operação “um sucesso”. Segundo ele, a ação foi um exemplo de boa articulação entre as forças de segurança. “Desde o começo da operação, 14 pessoas foram presas, envolvidos nessa fuga. Foi uma operação extremamente bem sucedida porque não foi disparado um tiro, não houve feridos, mortos, foi um trabalho puramente de inteligência.” O prazo de 50 dias foi considerado “razoável” por ele.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva telefonou para o ministro para parabenizá-lo pela prisão dos foragidos. Lewandowski informou que a dupla será levada de volta para o Presídio Federal de Mossoró, que, segundo ele, passou por ampla reformulação na segurança.
No dia 13 de março, Ricardo Lewandowski havia ressaltado o que chamava de “êxito” da operação de busca por acreditar que a dupla estava perto de Mossoró. “A operação, ao meu juízo, é uma operação que está se desenvolvendo com êxito até o momento. Há fortes indícios que ainda se encontram na região. O fato positivo é que não conseguiram escapar do perímetro original (que foi delimitado).” Os foragidos acabaram sendo localizados em outro Estado.
Na semana passada, ao anunciar a desmobilização da Força Nacional da força-tarefa na área potiguar, a pasta destacou a mudança no perfil da operação. A polícia passaria a focar em “ações de inteligência” para localizar a dupla de criminosos.
Diversas forças policiais foram mobilizadas para encontrar a dupla. A operação chegou a contar com cerca de 500 agentes da Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Penal Federal, Força Nacional, Corpo de Bombeiros, além de policiais militares dos Estados de Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí, Paraíba e Goiás, se revezando em turnos de dia e noite.
Ao longo das buscas, suspeitos foram presos por supostamente auxiliarem na fuga. A prisão mais recente ocorreu nesta semana. Um homem foi preso na segunda-feira, 1º, sob suspeita de integrar a rede de apoio.
Força Integrada de Combate ao Crime Organizado no Ceará (Ficco), em ação conjunta com o Bope – Polícia Militar do Estado do Ceará, prendeu o indivíduo em uma pousada na Praia do Futuro, em Fortaleza, no Ceará, cumprindo mandado de prisão expedido pela 8º Vara Federal de Mossoró. Ele era procurado por integrar organização criminosa.
Recapturados são ‘matadores’ do Comando Vermelho
Primeiros presos a fugir de uma penitenciária federal de segurança máxima no Brasil, Deibson Cabral Nascimento e Rogério Silva Mendonça ascenderam no mundo do crime organizado atuando no Acre como “matadores” do Comando Vermelho (CV), facção criminosa que surgiu no Rio de Janeiro e hoje é considerada dominante na região Norte.
Os criminosos, que possuem condenações que somam mais de 100 anos, foram transferidos para Mossoró, no interior do Rio Grande do Norte, no fim de setembro do ano passado. A decisão se deu após a dupla participar de uma rebelião que resultou em cinco mortes em um presídio de Rio Branco.
Quatro meses depois, eles protagonizam a primeira fuga de uma unidade da rede penitenciária federal, onde também estavam líderes de facções como o Primeiro Comando da Capital (PCC). São cinco presídios do tipo no País: além de Mossoró, onde a fuga ocorreu, há unidades em Catanduvas (PR), Campo Grande, Porto Velho e Brasília. A primeira delas, no Paraná, foi inaugurada em 2006.
Inquérito apontou falha de procedimento
A Corregedoria-Geral da Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen), do Ministério da Justiça e da Segurança Pública, concluiu relatório sobre a responsabilidade de servidores da Penitenciária Federal de Mossoró (RN) na fuga.
O resultado da apuração, divulgado na tarde desta terça-feira, 2, diz que não há indícios de corrupção no caso, mas aponta falhas nos procedimentos carcerários de segurança. Ao todo, 10 servidores responderão a processos administrativos. /COLABORARAM RENATA OKUMURA E ÍTALO LO RE
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