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Mostra de Cinemas Africanos exibe filmes inéditos e traz autores ao Brasil; veja destaques

Cineasta mauritano Abderrahmane Sissako, indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2014, estará no festival, que começa nesta quarta-feira, 11, em São Paulo

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Foto do author Gonçalo Junior

Único festival exibido no Brasil dedicado exclusivamente à produção africana contemporânea, a 7ª Mostra de Cinemas Africanos será realizada a partir desta quarta-feira, 11, e vai até o dia 18, com sessões no Cinesesc em São Paulo. Em Salvador (BA), a mostra será dos dias 18 a 25 de setembro.

O festival apresenta 16 longas e 4 curtas de 14 países do continente africano, com vários títulos inéditos no Brasil e uma programação especial sobre a exploração colonial, violência e epistemicídio que marcaram a história de países do continente.

Filme senegalês Banel & Adama, da diretora Ramata-Toulaye, é um dos destaques da Mostra de Cinemas Africanos Foto: Ramata-Toulaye

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A presença de cineastas em debates após as sessões será um dos destaques da mostra. O mauritano Abderrahmane Sissako promove a estreia de Black Tea - O Aroma do Amor. O longa-metragem, que narra história de uma jovem marfinense apaixonada por um homem chinês mais velho após imigrar para a Ásia, concorreu ao prêmio Urso de Ouro no 74º Festival de Cinema de Berlim.

Um dos cineastas africanos mais aclamados da atualidade, Sissako é o vencedor dos prêmios Cesar de Direção, Roteiro e Filme, com Timbuktu (2015), além do Prêmio Especial do Júri no Festival de Cannes, entre vários outros festivais. Com apoio da Embaixada da França no Brasil e no Senegal, o cineasta estará presente no festival e participa de uma masterclass no Centro de Pesquisa e Formação do Sesc.

Outro destaque é o senegalês Banel & Adama, da jovem franco-senegalesa Ramata-Toulaye Sy. O filme acompanha um jovem casal de uma pequena aldeia que vive em conflito com as tradições da sua comunidade. O filme concorreu à Palma de Ouro no Festival de Cannes 2023 e tem sua pré-estreia comercial no Brasil na Mostra. A diretora também vem a São Paulo para participar do evento.

“Fico particularmente feliz de ter dois filmes que falam sobre amor na África dentro da nossa programação porque em geral o que se espera do continente é filme triste, de guerra, de doença, de conflitos bélicos, mas nós estamos trazendo filmes de amor”, diz a diretora, idealizadora e curadora Ana Camila Esteves.

Entre os inéditos no Brasil que também contarão com a presença dos seus realizadores, estão a docuficção Pirinha, da cabo-verdiana Natasha Craveiro, que apresenta a jornada de uma jovem lutando para se libertar das masmorras de seu subconsciente e dos traumas de infância.

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Da África do Sul, o documentário “Banido”, de Naledi Bogacwi, narra os acontecimentos em torno do filme “Joe Bullet” (1973), composto totalmente por pessoas africanas negras e banido pelo governo do apartheid, regime de segregação racial mantido entre 1948 a 1994.

Interesse crescente pelos cinemas africanos

Ana Camila percebe um interesse crescente dos brasileiros pelos filmes africanos nas edições anteriores. “O público brasileiro tem muito interesse em cinematografias não hegemônicas, e isso fica muito evidente ano após ano. Aqui no Brasil existe uma curiosidade maior em torno das produções africanas, em um movimento já de alguns anos, por nossas relações ancestrais com o continente africano”, afirma.

Cartaz da Mostra de Cinemas Africanos Foto: Ana Camila Esteves

A ideia da mostra surgiu quando Ana Camila percebeu, em sua pesquisa de doutorado em 2017, que os filmes contemporâneos eram preteridos nos festivais. “Os cinéfilos e o público em geral desconheciam as produções africanas contemporâneas. As mostras e festivais no Brasil davam sempre mais ênfase aos filmes clássicos, fazendo retrospectivas”, diz. “Criar um festival focado nesses filmes seria o modo de não só trazê-los pra cá, mas também lhes dar o destaque que merecem”.

Nesses 7 anos, a Mostra de Cinemas Africanos exibiu mais de 300 filmes de 33 países africanos, alcançando mais de 400 mil pessoas.

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Tatiana Carvalho, presidente da Associação de Profissionais do Audiovisual Negro (Apan), afirma que eventos como esse contribuem para um novo olhar sobre o continente africano. “A exibição de filmes de diferentes países africanos e com diferentes perspectivas nos ajuda, coletivamente, a enriquecer o nosso imaginário, a confrontar estereótipos, a diminuir o preconceito e o racismo que infelizmente ainda existe em nossa sociedade”.

Para destacar essa relevância, Tatiana estabelece uma relação entre o cinema e a educação no País. “Temos leis que determinam o ensino de cultura africana e afro-brasileira nas escolas, mas elas não são cumpridas como deveriam. Com isso, temos uma sociedade preconceituosa porque não é apresentada, desde a formação básica, a outras realidades”, afirma.

“É necessário mais investimento, tanto de mercado quanto dos governos, para que mais eventos como este sejam realizados, para que os cinemas africanos cheguem a cada vez mais pessoas, não só em grandes centros urbanos, mas em todo o Brasil”.

* Este conteúdo foi produzido em parceria com a Associação de Profissionais do Audiovisual Negro (Apan), instituição de fomento, valorização e divulgação de realizações audiovisuais protagonizadas por pessoas negras e a promoção desses profissionais para o mercado audiovisual.

Serviço: Mostra de Cinemas Africanos 2024

  • Data: 11 a 18 de setembro
  • Local: Cinesesc (Rua Augusta, 2075) e Centro de Pesquisa e Formação do Sesc (Dr. Plínio Barreto, 285)
  • Ingressos: R$ 24,00 (inteira), R$ 12,00 (meia), R$ 8,00 (credencial plena)
  • Cineastas africanos convidados: Abderrahmane Sissako (Mauritânia), Ramata-Toulaye Sy (França/Senegal), Natasha Craveiro (Cabo Verde), Naledi Bogacwi (África do Sul), Dika Ofoma (Nigéria)
  • Masterclass: Abderrahmane Sissako: 12/9 (quinta-feira), das 10h30 às 13h
  • Local: Centro de Pesquisa e Formação do Sesc (tradução simultânea francês/português)
  • Endereço: Dr. Plínio Barreto, 275 - Entrada franca
  • Mostra em Salvador (BA): 18 a 25 setembro:
  • Locais: Cineteatro 2 de Julho, Circuito Saladearte Cinema da UFBA, Cinema do Museu e Cine MAM
  • Programação completa: mostradecinemasafricanos.com
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