Movimento de capitais para países emergentes vai crescer 66% este ano

China e Brasil são citados como os mais procurados pelos investidores, por suas perspectivas de crescimento

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Por Andrei Netto
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A economia global está experimentando o momento mais propício dos últimos 50 anos para fluxo internacional de capitais em direção a mercados emergentes, e os protagonistas do fenômeno são Brasil, China e Índia. As considerações foram apresentadas ontem, em Zurique, na Suíça, pelo Instituto de Finanças Internacionais (IIF, na sigla em inglês), entidade conhecida como "clube dos bancos", que se reuniu na véspera da abertura do Fórum Econômico Mundial, em Davos. De acordo com os experts, embora 2009 tenha sido ano de recessão também no movimento de capitais, a retomada do crescimento já ocorreu e este ano US$ 722 bilhões devem flutuar de um mercado a outro - ou 66% a mais em um ano.Se a projeção se confirmar, o volume de capital privado circulando será o terceiro maior dos últimos 30 anos, perdendo apenas para os recordes de 2006 e 2007. A retomada do fôlego, com elevação súbita, acontece quando a economia mundial ainda atravessa recessão. A reaceleração teria começado em meados de 2009, quando a tendência de queda teria sido revertida, e deve prosseguir em 2010, com fluxo de US$ 720 bilhões, e 2011, quando chegará a US$ 798 bilhões. A retomada, afirma o relatório da IIF, ocorre no momento em que "o cenário econômico global é mais propício do que nunca para fluxos em direção a economias emergentes", em especial de recursos privados, que responderão por dois terços do total. Segundo os experts, "um movimento tão rápido da fome ao banquete faz crescer a óbvia questão sobre se outra bolha financeira global está sendo produzida, dessa vez em economias emergentes, em especial Brasil, China e Índia". Os autores respondem, advertindo: "Este não parece ser um perigo iminente, mas há riscos em médio prazo".Questionado sobre quais países seriam os mais visados pelo capital externo, William Rhodes, vice-presidente do IIF e executivo do Citigroup, afirmou que o crescimento do fluxo pode acontecer "com um grande número de economias emergentes", mas indicou China a Brasil como os mais procurados. Outros, como Argentina, Equador e Venezuela, deverão ser menos assediados em razão de desequilíbrios macroeconômicos persistentes. "Estamos vendo níveis crescentes de fluxos de capital privado se movendo para mercados emergentes não apenas porque são claramente bons locais para se investir, mas porque suas perspectivas de crescimento são decididamente mais favoráveis", afirmou o banqueiro.ELOGIOSSegundo Rhodes, o risco de bolhas nas duas economias só não é maior graças a seus gestores. "O que felizmente temos nesses países são autoridades muito competentes, que sabem o que devem fazer", disse, tecendo elogios rasgados ao presidente do Banco Central do Brasil, Henrique Meirelles. "O Banco Central do Brasil é um dos mais competentes do mundo."Outro elogiado foi o Ministério da Fazenda brasileiro, pela implantação do Imposto sobre Movimentações Financeiras (IOF) de 2% em outubro, medida destinada a combater o aumento do volume de capital de curto prazo no País. "No terceiro trimestre de 2009, o Brasil foi o país que mais atraiu "dinheiro quente". No quarto trimestre, as autoridades responderam com a taxa de 2%", recapitulou Philip Suttle, economista-chefe do IIF. "Esse imposto é um movimento interessante. No fim das contas, seu efeito mais importante talvez seja criar um temor no mercado de que algo nesse sentido possa acontecer em outros países", disse Sutle.Ainda que reitere os elogios à política macroeconômica do Brasil, o IIF fez um reparo: o déficit na conta corrente, que deve crescer de US$ 24 bilhões em 2009 para US$ 59 bilhões em 2010 - de 1,6% para 3% do Produto Interno Bruto (PIB).FRASESWiliam RhodesVice-presidente do IIF"O que felizmente temos nesses países são autoridades muito competentes, que sabem o que devem fazer""O BC do Brasil é um dos mais competentes do mundo"Philip SuttleEconomista-chefe do IIF"No terceiro trimestre de 2009, o Brasil foi o país que mais atraiu "dinheiro quente". No quarto trimestre, as autoridades responderam com a taxa de 2%"

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