As mulheres de policiais militares que lideram a paralisação no Espírito Santo querem um encontro com o governador do Estado, Paulo Hartung, e com o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, “para encerrar o movimento ainda hoje”. Segundo elas, o protesto que paralisou a segurança pública no estado “ganhou uma proporção muito maior” do que elas imaginavam e “está na hora de colocar um ponto final”.
Apesar de 875 policiais militares terem voltado ao trabalho entre o fim da tarde de sábado e o início da manhã de hoje, o Espírito Santo chegou neste domingo ao nono dia de motim. A ordem pública no Estado, principalmente na Grande Vitória, é mantida por mais de três mil soldados das Forças Armadas e agentes da Força Nacional de Segurança.
Porta-voz das representantes dos PMs do 6º Batalhão, Cristina – as mulheres do movimentam se identificam apenas pelo primeiro nome – afirmou ao Estado que as lideranças querem se encontrar com as autoridades para terminar com o impasse. “Queremos fazer com o governador o que ele tem falado por esses dias, conversar olhando no branco do olho”, afirmou Cristina. Elas querem que Rodrigo Janot também participe do encontro. “Ele veio ao Espírito Santo ontem (sábado) e não tivemos a chance de conversar com ele.”
O procurador-geral da República se reuniu por cerca de três horas com ministros e com o executivo estadual na tarde de sábado, no Palácio Anchieta, sede do governo capixaba. Ele saiu sem dar entrevistas e retornou imediatamente a Brasília, mas em nota a procuradoria-geral da República informou que Janot estuda a possibilidade de federalizar crimes como o de motim.
A intenção das mulheres é que o encontro seja realizado “em campo neutro”. Uma das possibilidades levantadas é a assembleia legislativa do Estado. “Queremos pôr um ponto final nisso. Entramos no movimento para reivindicar o reajuste salarial, porque em 2017 as perdas chegarão a 47%. É um direito previsto na Constituição. Não sabíamos a proporção que o movimento iria tomar”, afirmou Cristina.
Segundo ela, as mulheres querem que o Espírito Santo retome a normalidade já nesta segunda-feira. “Nós somos mulheres de policiais militares e também trabalhamos. Muitas de nós trabalham no comércio, que está fechado. Nós também estamos sendo prejudicadas”, afirmou Cristina.
Ela disse que as negociações realizadas até o momento com o governo do Estado foram “táticas de guerrilha” e que expõem somente um dos lados. “Jogaram a sociedade contra a gente. As pessoas passam na frente dos batalhões e nos xingam. É triste saber que não estão nos apoiando. Mas se ponham no lugar dos soldados: eles precisam revezar coletes à prova de balas, que muitas vezes estão com prazo de validade vencido, estão com viaturas sucateadas, existe falta de EPIs (equipamentos de proteção individual). É desse jeito que a PM tem que proteger a sociedade”, desabafou a porta-voz.
Para encerrar o movimento, Cristina disse que uma questão é inegociável, além daquela inicial que é o reajuste salarial. “A gente exige anistia administrativa, criminal e militar para 100% dos PMs e para todas as mulheres”, sustentou. Na sexta-feira, a secretaria estadual de Segurança Pública do Estado anunciou ter aberto processo de indiciamento de 703 policiais por crime de revolta, que prevê pena de até 20 anos de prisão. O Ministério Público Federal, por sua vez, cogita abrir ação para cobrar das mulheres dos policiais militares os custos com o deslocamento das forças federais.
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