O número de mortes de crianças e adolescentes com menos de 15 anos cresceu 7,8% entre 2021 e 2022 – alta que destoa da tendência de redução da mortalidade verificada na população em geral no mesmo período. Para pesquisadores do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que divulgaram a pesquisa Estatísticas do Registro Civil 2022 nesta quarta-feira, 27, o aumento pode ainda ser resquício da pandemia de covid-19, sobretudo por que essa faixa etária foi a última a ser vacinada.
Foram registrados 40.195 óbitos de crianças e adolescentes de 0 a 14 anos em 2022, um total de 2.908 mortes a mais (7,8%) do que o número verificado no ano anterior (37.287).
- Em termos absolutos e relativos, o maior aumento se deu entre as crianças de 1 a 4 anos: foram 6.012 óbitos nessa faixa etária em 2022, 1.304 a mais (27,7%) que em 2021 (4.708 óbitos). Os dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde.
Segundo as informações do SIM, os óbitos cujas causas foram doenças respiratórias (gripe, pneumonia, bronquiolite, asma, entre outras) corresponderam a mais de 60% da diferença do total no número de óbitos nessa faixa etária entre 2021 e 2022.
“Considerando que a vacinação de crianças e adolescentes brasileiros contra covid-19 se deu bem depois da vacinação dos adultos, e que, portanto, eles demoraram mais a completar o esquema vacinal, é possível que a doença tenha contribuído fortemente para esse quadro”, sustentaram os especialistas.
De acordo com a pesquisa, em 2022 foram registrados 1.524.731 óbitos no Brasil – 15% a menos do que o ocorrido no ano anterior, auge da crise do coronavírus.
Em 2021, a pesquisa havia registrado 1.786.347 mortes, o maior número já registrado desde o início da série histórica, em 1974, um dado significativo sobre o impacto da pandemia no Brasil, um dos países mais atingidos pela covid.
Da análise dos óbitos por grupos de idade, é possível dizer que houve redução do número de óbitos ocorridos no ano para todos os grupos da faixa etária de 15 anos ou mais. As faixas etárias de 40 a 49 anos (-30,1%) e de 50 a 59 anos (-30,5%) foram as que apresentaram a maior redução entre 2021 e 2022.
- Idosos com 80 anos ou mais concentraram o maior contingente de óbitos do País entre 2019 a 2022. Neste último ano, ocorreram 483.033 mortes nessa faixa etária, o que corresponde a 32,2% de todos os óbitos ocorridos no ano e cuja idade do falecido era conhecida.
Especialistas também apontam que a participação dos idosos entre as mortes tende a aumentar, diante do envelhecimento da população do Brasil, que vê uma veloz transição demográfica.
Mesmo com a redução significativa no número geral de óbitos, o valor observado em 2022 ainda é muito superior ao de 2019, último ano antes da pandemia, quando foram registrados 1.317.292 óbitos. Em relação à média dos cinco anos anteriores à pandemia (1 276 879), o número de óbitos também foi maior em 2022.
De fato, o início de 2022 foi marcado pela terceira onda da pandemia de covid-19 no Brasil, provocada pela variante Ômicron, além de uma epidemia de influenza A, também responsável pelo aumento das mortes entre idosos no período.
A comparação com o ano pré-pandemia sugere que, apesar da redução das mortes por covid em um contexto de aumento da cobertura da população vacinada, o novo coronavírus seguia bastante letal ainda no primeiro semestre do ano de 2022.
Na verdade, a Organização Mundial de Saúde (OMS) só declarou o fim da Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII) em 5 de maio de 2023.
Quanto ao local de ocorrência dos óbitos naquele ano, cerca de três quartos (73%) ocorreram em uma unidade de saúde, porcentual menor que o observado em 2021 (76,6%) e mais próximo do padrão observado pré-pandemia. O falecimento em domicílio correspondeu a 20,8% das mortes; e em 6,2% dos casos não houve declaração sobre local do óbito ou o local declarado foi outro.
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