Na China, Temer defende desarmamento nuclear

Ainda sobre o cenário internacional, presidente também comentou a atuação da Rússia na Síria e a crise econômica da Venezuela; chanceler Aloysio Nunes disse que Brasil manterá comércio com Pyongyang, apesar das ameaças de Donald Trump

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Por Cláudia Trevisan, Xiamen e China

XIAMEN, CHINA - O teste nuclear realizado pela Coreia do Norte no domingo 3 reacende temores que pareciam ter ficado nos livros de História, disse o presidente Michel Temer em discurso durante a 9.ª Cúpula dos Brics. Assim como os líderes das potências emergentes Rússia, Índia, China e África do Sul, o brasileiro defendeu uma solução negociada para o impasse.

A detonação ocorreu poucas horas antes do presidente chinês, Xi Jinping, receber os líderes do grupo para o encontro em uma ilha no sul da China, no domingo. Essa foi a segunda vez em que atividades nucleares norte-coreanas coincidiram com eventos diplomáticos importantes para Pequim neste ano.

Temer está na China para fechar acordos entre Brasil e o país Foto: Rafael Cañas/EFE

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A China é o principal aliado internacional de Pyongyang e sofre pressão crescente do presidente Donald Trump para conter as ambições bélicas de Kim Jon-un.

“Em perspectiva mais abrangente e de mais longo prazo, o desarmamento nuclear é a garantia mais eficaz contra a proliferação”, afirmou Temer no encontro que teve participação de três potências nucleares - China, Rússia e Índia.

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O presidente lembrou que o Brasil esteve na origem da negociação do Tratado sobre a Proibição de Armas Nucleares, assinado em julho por 122 países no âmbito da Organização das Nações Unidas (ONU). O documento não teve adesão de nenhuma das nações que possuem armas nucleares, incluindo os parceiros do Brasil no Brics.

“O mundo permanece sob o signo da incerteza”, declarou Temer. “Parece haver uma erosão do apego ao direito internacional; uma erosão da crença nos benefícios do livre comércio; uma erosão da convicção quanto ao imperativo de enfrentarmos, juntos, desafios que são compartilhados.”

Temer deu ao presidente da China,Xi Jinping, uma camisa da Seleção Brasileira com seu nome e autografada por Pelé. Foto: Beto Barata/PR

Temer elogiou a atuação da Rússia na Síria e defendeu uma saída diplomática para a guerra. Também afirmou que o Brasil é favorável à criação de dois Estados para resolver o conflito entre israelenses e palestinos. “A Rússia, presidente Putin, tem feito um trabalho extraordinário para composição dos vários conflitos”, afirmou Temer em relação à atuação do país na Síria. Moscou é o principal aliado do presidente Bashar Assad e suas forças combatem não apenas o grupo jihadista Estado Islâmico, mas grupos rebeldes que se opõem ao regime de Damasco.

O brasileiro disse que a ameaça do terrorismo exige uma resposta cada vez mais coordenada entre as nações e propôs a criação de um Fórum de Inteligência dos Brics para troca de informações sobre o assunto.

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A situação da Venezuela também foi mencionada no discurso de Temer, que ressaltou a escassez de alimentos, remédios e itens básicos, e o crescimento no fluxo de refugiados para o Brasil e outros países da região. “A situação é de instabilidade e de crise humanitária.” A China é o grande financiador externo de Caracas e concedeu linhas de crédito de US$ 62,2 bilhões ao país entre 2005 e 2016, quase metade dos créditos concedidos a toda a América Latina no período.

Na sexta-feira, o governo chinês afirmou que continuará a investir na Venezuela, a despeito da instabilidade na qual o país está mergulhado.

Comércio

O Brasil manterá seu comércio com a Coreia do Norte, apesar da ameaça de Trump de suspender o comércio dos EUA com todos os países que fazem negócios com Pyongyang, disse nesta segunda-feira, 4, o ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira.

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“Em matéria de sanções internacionais, nós apoiamos apenas aquelas que são decididas no Conselho de Segurança das Nações Unidas”, afirmou ele, que acompanha Temer na reunião de cúpula dos Brics. O Brasil vende cerca de US$ 10 milhões ao ano em fertilizantes e produtos agrícolas ao país, em um total de quase US$ 200 bilhões de exportações.

Trump disse no domingo em sua conta no Twitter que os EUA “estão considerando” suspender “todo o comércio com qualquer país que faça negócios com a Coreia do Norte”. É altamente improvável que a ameaça seja cumprida. O comércio bilateral dos EUA com a China foi de US$ 648 bilhões em 2016 e qualquer interrupção afetaria em cheio a economia americana. “Qualquer outro tipo de atitude agressiva de um lado ou do outro só pode prejudicar a situação ainda mais”, declarou Aloysio.