SÃO PAULO - Nesta inusitada Copa do Mundo, é melhor começar esquecendo os 7 a 1. Porque o técnico da seleção brasileira nasceu justamente na Alemanha - mas passou boa parte da vida aqui no Brasil. Aos 42 anos, o padeiro Johannes Roos comanda a equipe amarelinha no campeonato mundial de panificação, certame que acontece entre os dias 22 e 24 deste mês em Saint Etienne, na França. E promete entrar em campo com ingredientes que representem bem a culinária tupiniquim.
O júri dessa deliciosa disputa avalia oito tipos de pães, tudo baseado na tradição da panificação francesa. Ou seja: sai o brasileiríssimo pão francês (que de francês só tem o nome) e dá-lhe baguete em campo, ou melhor, na mesa.
“A baguete tradicional precisa ter exatamente 250 gramas cada”, explica Roos. “Isto depois de assada. Ou seja: precisamos calcular exatamente a quantidade de água na massa e o tempo exato de forno, para que não fique nem um grama a mais, nem um grama a menos.”
Onde encontrar os melhores pães da cidade
1 / 9Onde encontrar os melhores pães da cidade
Basilicata
Aberta em 1914, oferece grande variedade de pães e massas cujas receitas seguem até hoje a tradição italiana trazida pelo patriarca Felipe Ponzio, nas... Foto: Alex Silva/EstadãoMais
Jelly Bread
A padaria faz diversos tipos de pães com fermentação natural. Entre eles estão a focaccia, a ciabatta e o pão português. Há também opções de pães inte... Foto: Felipe Rau/EstadãoMais
Julice
Aberta em 2011, a padaria faz bons pães artesanais tradicionais, integrais e recheados. Na prateleira, há também geleias da casa, mostardas, bolos e v... Foto: Felipe Rau/EstadãoMais
Hannover
Thomas Huppert, que antes era apenas produtor, agora comanda sua própria banca no Mercado de Santo Amaro. A maioria das receitas não leva açúcar ou go... Foto: Felipe Araújo/EstadãoMais
Saint Germain
Com mais de 20 anos, a padaria prepara uma boa variedade de pães caseiros, italianos, recheados, além dos bolos, tortas e doces, com destaque para a s... Foto: Felipe Rau/EstadãoMais
Fabrique
Na padaria Fabrique, em Higienópolis, o pão é o maior protagonista. E sobe ao palco (isto é, à prateleira) com diferentes figurinos. Vem como estandar... Foto: Rafael Arbex/EstadãoMais
Padaria do Z Deli
Criada para abastecer o restaurante homônimo, a padaria possui uma boa variedade de produtos. O pão de hambúrguer é vendido em pacotes de seis unidade... Foto: Renata Mesquita/EstadãoMais
A Padeira
'Até o último pão': esse é o horário de funcionamento da pequena oficina de quinta a sábado. Isso simboliza bem o espírito da Padeira, uma operação pe... Foto: Alex Silva/EstadãoMais
Padaria Aracajú
Padaria tradicional paulistana em Higienópolis aberta desde 1986. Com uma operação maior que a maioria das padarias artesanais, pode ser opção para qu... Foto: Paulo Liebert/EstadãoMais
Mas são nos brioches recheados que o padeiro teuto-brasileiro promete usar e abusar da brasilidade. “Estamos preparando versões com jerimum, milho verde, banana passa, castanha-do-pará, mandioca... A proposta é regionalizar o conceito que é bem definido pela França”, aposta.
Criar e testar receitas faz parte do dia a dia de Roos. Ele comanda uma equipe de 20 profissionais que integram o departamento brasileiro de inovação e treinamento da Puratos, uma multinacional belga que fornece insumos para padarias. Seu trabalho, portanto, consiste em elaborar produtos que os padeiros do País podem aprender a fazer e incorporar às suas vitrines.
“Passo boa parte do tempo viajando e passando essas ideias a eles”, conta ele, que quando está em São Paulo divide-se entre dois QGs - uma cozinha-laboratório no Ipiranga, zona sul da cidade, e a sede da empresa, em Guarulhos, na região metropolitana.
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A seleção brasileira deste ano terá como integrantes o chef e padeiro recifense Douglas Miguel, de 34 anos, e a paulistana Milena Santos, de 19, auxiliar técnica. Ambos foram escolhidos por Roos para compor o time. “No dia do campeonato, eu, como técnico, não posso colocar a mão na massa. Mas ficarei ao lado orientando e passando instruções”, explica ele. A dupla terá oito horas para preparar os oito tipos de pães.
Pães de diferentes sotaques
1 / 9Pães de diferentes sotaques
Volta ao mundo
A história dos pães se confunde coma história das civilizações. Espalmados ou de miolo elástico, sem fermento ou au levain, eles estão presentes em to... Foto: Felipe Rau/EstadãoMais
Naan
Este pão achatadoindianoé tradicionalmente assado nas laterais de um forno de barro chamado tandoor. O formato de gota característico se configura à m... Foto: Felipe Rau|EstadãoMais
Pão árabe
É conhecido no Ocidente como pão sírio ou pita, porém em todo o Oriente Médio, Egito e Turquia é chamado de khobz, que significa pão comum, em árabe. ... Foto: Felipe Rau/EstadãoMais
Pão chato libanês grelhado
Esta receita é de um pão chato que é um meio-termo entre o pita e o naan. Como a maioria dos pães com levedura, este consiste principalmente de farinh... Foto: Fred Conrad/NYTMais
Bun
Estes pãezinhos pálidos parecem sem graça e pouco atraentes. Mas não julgue pela aparência. O bao, como se diz em chinês, ou bun, como é chamado em in... Foto: Daniel Teixeira/EstadãoMais
Pão de centeio integral nórdico
Diferente do pão de centeio conhecido nas Américas, que é macio, tem massa branco-amarelada e sabor levemente acre, as versões escandinavas e de outra... Foto: Francesco Sapienza/NYTMais
Focaccia
Ancestral da pizza, essa espécie de pão achatado de textura fofinha é uma instituição italiana. Nasceu na Roma Antiga um pão chato assado nas cinzas, ... Foto: Tiago Queiroz/EstadãoMais
Baguete
Na França, pãoé coisa séria. E como os franceses são chegados em normas e burocracias, atéfizeram lei regulando sua produção: em 1993, foi editado o "... Foto: Tadeu Brunelli|EstadãoMais
De fermentação natural
Depois desta pequena volta ao mundo, você pode conferiroutras 10 receitas de pão para fazer em casaou ver como fazer (e cuidar de um) fermento natural... Foto: Neide Rigo/EstadãoMais
Trajetória
Filho de um alemão (o engenheiro mecânico aposentado Dieter Roos, 73 anos, hoje artista plástico) e uma brasileira (a professora de idiomas Iara Reis, de 69 anos), o padeiro tem carreira internacional praticamente desde que nasceu. Aos 4 anos de idade, vivendo em Divinópolis, Minas, após a separação dos pais viu nascer o sonho de se tornar padeiro. “Quando comuniquei meu pai da decisão ele falou: ‘tudo bem, mas vai se formar na Alemanha’”, conta.
Vive em São Paulo há sete anos. Foi no trabalho que acabou conhecendo sua mulher, a nutricionista Ligia Ono, 39 anos, com quem teve seu filho caçula, de 8 meses - Roos é pai de um outro menino, de 14 anos, fruto de seu primeiro casamento.
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Se o seu trabalho hoje envolve mais burocracias e reuniões do que a mão na massa, Roos garante que a paixão da panificação é praticada também dentro de casa. Sem que isso signifique fazer hora extra. “Tenho até um moinho caseiro para fazer minha própria farinha de trigo. Adoro ficar inventando pães”, afirma Roos.