Os especialistas dizem que as Represas Billings e do Guarapiranga não enfrentam mais um processo de ocupação desordenada, como a dos anos 1970 e 1980, responsável por uma devastação média de 35% das áreas em torno delas. Mas isso está longe de ser uma boa notícia. "Foi criada uma nova dinâmica. A ocupação urbana não está mais crescendo para outras áreas, mas vemos um adensamento das regiões já ocupadas. E isso significa mais esgoto jogado na represa", diz a coordenadora do Instituto Socioambiental (ISA), Marussia Whately. Um exemplo é o Jardim Aracati, na zona sul da capital, que fica na região da Represa do Guarapiranga. Há cinco anos, algumas famílias ocuparam a região formando a favela Muriçoca. "Fui uma das primeiras a chegar, quando não tinha quase ninguém. Agora já temos um bairro", diz a dona de casa Elaine Tavares, de 33 anos. Para tentar barrar as ocupações, a Prefeitura lançou em 2007 a Operação Defesa das Águas e em seguida criou a Inspetoria da Guarda Ambiental, para executar os trabalhos de retirada de pessoas de áreas ambientais e de monitoramento. No primeiro ano de trabalho, foram removidas 786 construções irregulares nas áreas das Represas Billings e do Guarapiranga. No ano seguinte, no entanto, esse número foi de 478 - redução de 39%. De acordo com a Prefeitura, a queda nas remoções é consequência de uma fiscalização maior, que reduziu o número de novas construções irregulares. A prefeitura diz que deu prioridade em um primeiro momento para as construções ainda sem moradores, para depois agir sobre as estabelecidas. Um outro foco de atuação é o combate a loteadores, que vendem essas áreas para pessoas de baixa renda. Foi a promessa de casa própria que levou a dona de casa Jocylene de Jesus Amparo, de 34 anos, a se mudar para uma favela ao lado da Billings, no Grajaú, zona sul. Ela morava com o ex-marido, pagando aluguel, quando um homem ofereceu um lote para eles há 11 anos. A favela se formou atrás das residências da rua principal, a Dr. Nuno Guerme de Almeida. Atrás das casas, existia antes uma área verde que se estendia até a represa. O cenário foi sendo mudado à medida que as pessoas foram para lá e construíram seus barracos. O de Jocylene é o último, bem ao lado da represa, embora a água tenha recuado nos últimos anos. Seus três filhos aproveitam a proximidade para brincar jogando pedras na água. "Antes a gente nadava e até comia os peixes. Agora está tudo sujo". Ela diz não se preocupar com os rumores de que a prefeitura vai desalojá-los. "Essa história existe desde que cheguei."