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Argentina quer Brasil como visitante e parceiro na promoção internacional

Órgão de divulgação argentino, Inprotur aposta no intercâmbio de turistas entre os dois países e na oferta de roteiros na América do Sul em feiras pelo mundo

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Foto do author Nathalia Molina

O Brasil vem sendo a grande aposta da Argentina para voltar ao número de visitantes estrangeiros que o país tinha antes da pandemia, total que pode ser superado ainda em 2023, segundo o Instituto Nacional de Promoción Turística (Inprotur), órgão argentino para divulgação do turismo. A parceria entre os dois países pode ir além: trabalhar juntos no exterior, mostrando roteiros integrados na América do Sul e gastando menos com o espaço de exposição em feiras internacionais.

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"Analisamos que o movimento turístico entre Brasil e Argentina vai chegar a 100% nos próximos dois ou três meses", afirmou o secretário executivo do Inprotur, Ricardo Sosa, durante nossa conversa na WTM Latin America, encontro de turismo realizado em abril em São Paulo. Uma demonstração de como o interesse do brasileiro pelo vizinho está alto é o voo da Aerolíneas Argentinas entre São Paulo e Salta, lançado em julho de 2022. "Vem sendo tão bem sucedido que no princípio era sazonal para a temporada de inverno e terminava em setembro, mas de lá para cá continuou uma vez por semana. A partir de maio, junho, já voltam os dois voos semanais, com a possibilidade de serem três."

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Norte da Argentina com voos diretos de SP - Foto: Turismo de Salta

Ricardo contou que havia se reunido com representantes da Embratur para se conhecerem e pensarem em estratégias para uma divulgação binacional no exterior. "Eles vieram se apresentar porque é uma nova gestão. E nós manifestamos logicamente que temos a predisposição para trabalhar em conjunto, não somente quanto à quantidade de turistas que possa haver entre Brasil e Argentina, como na hora de posicionar e promover a região em mercados distantes."

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Estive na WTM Latin America cobrindo o evento pelo Como Viaja, na companhia do meu sócio e parceiro, o jornalista Fernando Victorino. Nossa passagem pela feira rendeu várias entrevistas interessantes. Alguns são bate-papos mais extensos, nas quais os entrevistados falam de estratégias e dão um panorama de seus destinos, produtos ou serviços. Decidi separar essas conversas, então, para ir publicando aos domingos, dia que escolhi para apontar aqui tendências no mundo das viagens. Leia a seguir nossa entrevista com o secretário executivo do Inprotur.

Ricardo Sosa - Foto: Inprotur

O que tem de novo nos voos para a Argentina? A Gol já tem mais de 80% das frequências da pré-pandemia. Mas o singular disso é que estão levando mais gente do que antes porque os voos estão mais cheios. Além disso, tem uma ponte aérea com a Aerolíneas Argentinas, que faz com que ela tenha mais de 70 voos semanais desde o Brasil. Vamos fazer com eles um trabalho de promoção para incrementar a chegada de turistas brasileiros na temporada média-baixa, que começa 15 de agosto e vai até fim de outubro. Em relação à Aerolíneas Argentinas, ela estabeleceu para esta temporada baixa (até junho) tarifas interessantes, muito baratas. É parte de um trabalho que a companhia está fazendo, num acordo com o Inprotur, para seguir posicionando a Argentina, para recuperar o mais rápido possível a quantidade de turistas que tínhamos na pré-pandemia e chegar ao fim de 2023 com um crescimento em relação à quantidade de turistas que tínhamos.

Já estão quase na quantidade que tinham antes da pandemia? Nos últimos seis meses de 2022, comparados com os últimos seis meses da pré-pandemia, estávamos recuperando uns 65%, 70%. Se pegarmos somente fevereiro de 2023 e o mesmo mês de 2019, já estamos chegando aos 76% de recuperação. Então analisamos que o movimento turístico entre Brasil e Argentina vai chegar a 100% nos próximos dois ou três meses. Por isso, falamos de ter, no fim do ano, um crescimento sobre os números da pré-pandemia. Também temos, implicitamente, outras questões conjunturais que nos beneficiam: a questão do visto dos Estados Unidos (com meses de espera); a situação que a Europa está passando. O câmbio na Argentina, em que um dólar turismo vale o dobro do dólar oficial, é um valor agregado.

Quando eu estive em Buenos Aires em janeiro deste ano, estavam implantando a taxa de câmbio para cartão de crédito. Já está funcionando plena e exitosamente.

Como está a promoção turística do norte da Argentina? Está forte. Tem que se destacar a decisão da Aerolíneas Argentinas no ano passado de botar voos entre São Paulo e Salta. Nunca tinha havido uma conexão aérea com o norte da Argentina. Vem sendo tão bem sucedido que no princípio era sazonal para a temporada de inverno e terminava em setembro, mas de lá para cá continuou uma vez por semana. A partir de maio, junho, já voltam os dois voos semanais, com a possibilidade de serem três. Isso diversificou a oferta. O brasileiro é fanático por Buenos Aires, Patagônia, Bariloche e, eventualmente, Mendoza. Mas não conhecia os vinhos de altura que existem em Salta, o Vale Calchaqui em Salta e Tucumán, a cultura ancestral da província de Jujuy. Fizemos um trabalho muito forte de posicionamento do norte argentino, e os operadores incluíram nos pacotes. Fizemos roadshow. Me lembro de um que eram 500 agências de viagens em 12 cidades do Brasil. Tudo isso para fortalecer os voos.

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Vocês estão conversando com a Embratur? Eles querem trazer os argentinos para conhecer, por exemplo, o litoral de São Paulo, como foi divulgado recentemente. Vocês querem levar os brasileiros. É interessante para as duas partes que os voos estejam cheios. Há duas horas recebemos aqui os representantes da Embratur para fazer um trabalho em conjunto, não somente nessa questão de ida e volta de turistas entre Brasil e Argentina, mas, acima de tudo, com a possibilidade de fazer um trabalho binacional com o Brasil para promover os dois juntos em mercados distantes. Você tem de levar em conta que há países como Israel, Alemanha, os do Oriente Médio e da Ásia, que, pelo visitante voar distâncias maiores, eles identificam o nosso território mais como América do Sul. Muitos turistas estrangeiros descem no Brasil e por terra vão à Argentina. Então, entre as questões que analisamos com a Embratur está exatamente uma divulgação de produtos integrados que podemos ter em mercados distantes. É o melhor para todos na tarefa de posicionar a região, mas também considerando usar os recursos de um modo mais eficiente. Outra questão também é o trabalho estratégico que podemos fazer em diferentes feiras de turismo porque Brasil e Argentina participam de muitas pelo mundo. Se buscarmos um lugar que possa ser conveniente para os dois países, em que nos relacionamos numa operação conjunta com tour operadores e em que visualmente estamos próximos, será muito interessante.

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Como os europeus fazem em feiras aqui no Brasil. Sim, eles (representantes da Embratur) vieram se apresentar porque é uma nova gestão. E nós manifestamos logicamente que temos a predisposição para trabalhar em conjunto, não somente quanto à quantidade de turistas que possa haver entre Brasil e Argentina, como em ser estratégicos na hora de posicionar e promover a região em mercados distantes.

Acredito que a Argentina esteja atenta para se manter competitiva porque o Chile está com duas companhias aéreas low cost no Brasil. E, como há uma concorrência para o mesmo turista brasileiro ir ao Chile e à Argentina... Não, você tem de levar em conta que o Brasil tem 200 milhões de habitantes e o segredo de como cada um faz sua promoção turística. Não nos inquieta o que podem fazer os outros países. Temos de estar atentos ao que nós fazemos e sermos melhores do que nós mesmos. Essa é a realidade. E sermos mais estratégicos quanto à nossa relação com os outros países. Ontem estivemos com a secretária nacional de Turismo do Chile exatamente para trabalhar juntos e hoje estivemos com o Brasil. Da parte da Argentina, o que queremos é criar um fórum de organismos de promoção turística internacional para que possamos analisar temas operacionais e logísticos que estão na nossa vida cotidiana, entenda-se, o preço do metro quadrado na construção de estande porque temos de levar em conta que tanto nós, quanto a Embratur, o Chile, a Promperu, a ProColombia, trabalhamos muito nas feiras. Também temos de ver nossa participação nesse tipo de evento, no âmbito europeu, no Oriente Médio, na Ásia, nos Estados Unidos. Acredito que para nós é muito harmônica a relação. Tampouco podemos analisar o que cada país faz porque as geografias são diferentes, os números de habitantes são diferentes e a localização é diferente. Qual é o nosso desafio? Recuperar o mais rápido possível a quantidade de turistas que tínhamos na pré-pandemia e terminar o ano com um crescimento sobre esse número. O que fazemos com nossos vizinhos é traçar estratégias de posicionamento ou de relacionamento de forma conjunta.

A Argentina tem uma política para os nômades digitais. Como está? É um segmento que nasceu com consequência da pandemia. Fizemos um programa especial de promoção para nômades digitais, e o governo argentino estabeleceu vistos especiais para os que podem estender sua permanência mais do que a de qualquer turista. Isso é feito pela internet, com o Ministério do Interior e a área de imigração, e os nômades têm muitas vantagens para escolherem a Argentina. Já fizemos apresentações aqui no Brasil. Estivemos em Lisboa, em Amsterdã, na Alemanha, nos Estados Unidos, na Colômbia. Para nós, é um segmento muito importante porque garante uma permanência mínima de dois a três meses. É um nível de gasto muito importante porque a pessoa que trabalha dentro da Argentina como nômade digital segue cobrando do exterior em dólares, e o que nós fazemos é facilitar o ingresso com o visto.

QUEM FAZ

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Nathalia Molina viaja desde os 5 anos, adora café da manhã e aprecia um bom serviço no turismo. Essencialmente urbana, também tem seus dias de paisagem natural. É jornalista de viagem há 20 anos e ganhou 4 vezes o prêmio da Comissão Europeia de Turismo. Em 2011, criou o Como Viaja: acompanhe no Instagram @ComoViaja e em comoviaja.com.br

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