Tema urgente no momento, o turismo sustentável vem sendo assunto em feiras do setor de viagens desde antes da pandemia - mais ainda, depois. O Dia Mundial do Meio Ambiente (5 de junho) e o Dia Mundial dos Oceanos (8 de junho) servem de inspiração para refletir sobre viagens sustentáveis.
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Não é de hoje que pesquisas do mercado, como as que a Booking realiza com viajantes, apontam a preocupação com a sustentabilidade. Num levantamento de fevereiro de 2024, 87% dos brasileiros participantes afirmaram que desejavam fazer viagens mais sustentáveis nos 12 meses seguintes.
Recentemente, apresentações e mesas debateram a sustentabilidade na indústria do turismo em abril na WTM Latin America, em São Paulo, e em maio, no Arabian Travel Market (Dubai) e no Caribbean Travel Marketplace (Jamaica). Mas como incentivar as viagens e aumentar o número de visitantes - por exemplo, o Caribe aposta na América Latina para receber mais viajantes -, garantindo a conservação do meio ambiente e uma vida melhor para os moradores?
Ainda é uma resposta que vem sendo construída pela indústria e pela sociedade, e exige a participação efetiva de governos, com políticas públicas que priorizem a sustentabilidade. As ações nem sempre acompanham as discussões, infelizmente. Mas muito já vem acontecendo no setor e acho sempre válido que o assunto esteja em pauta. É uma evolução, pois já houve um tempo em que quase ninguém sequer falava nisso.
O que é turismo sustentável
De acordo com a Organização Mundial do Turismo (OMT), natureza, economia e comunidade visitada têm de estar em equilíbrio para que a sustentabilidade se mantenha a longo prazo. Ou seja, é necessário otimizar o uso dos recursos, garantindo a preservação do verde e da biodiversidade, ao mesmo tempo em que se respeita a autenticidade sociocultural dos moradores e se gera oportunidades de emprego e renda, contribuindo para a redução da pobreza no destino.
Fica claro por esse conceito da OMT que a sustentabilidade inclui, porém não se limita ao ecoturismo. Pelo contrário, ela se aplica a toda e qualquer forma de viajar. Devem ser evitados emissões de carbono, desmatamento, perturbação da população pelo impacto do turismo de massa, exploração da mão de obra local sem geração de renda ou melhora na qualidade de vida... e por aí vai.
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No Brasil, vários roteiros e atrações, muitos deles desenvolvidos com apoio do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), buscam a preservação ambiental e a proteção dos recursos naturais, além da inserção das comunidades visitadas. Algumas dessas iniciativas já foram vencedoras do Prêmio Braztoa de Sustentabilidade, existente desde 2012.
As inscrições para a 12ª edição, aliás, estão abertas até 24 de junho para 2 categorias: Gestão/Governança e Experiência/Produto. A Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo (Embratur) apoia a premiação e participa como jurada.
Nos últimos anos, redes e organizações hoteleiras têm implementado práticas sustentáveis, incluindo reuso de água e adoção de energia solar e outras renováveis, e também realizado trabalhos de conscientização entre seus membros, funcionários e hóspedes. No Novotel Itu Golf & Resort (SP), da rede Accor, um queimador de biomassa movido a lenha de fontes sustentáveis aquece piscinas e água do hotel.
Para marcar o Dia Mundial do Meio Ambiente (5 de junho) e o Dia Mundial dos Oceanos (8 de junho), a rede Vila Galé organizou uma programação especial nesta semana. Os resorts promovem oficinas de reciclagem, palestras educativas, limpeza de praias, caminhadas ecológicas e leitura para as crianças na área infantil. Em Foz, a Urbia reabre trilhas em pólos das Cataratas do Iguaçu para celebrar a Semana do Meio Ambiente.
Muitas cadeias e entidades já fizeram ou estão substituindo embalagens de plástico, uma das maiores causas de poluição nos oceanos. Alguns exemplos são as redes Accor, Marriott e Atlantica, além das pousadas da Associação Roteiros de Charme e dos integrantes voltados às viagens de luxo da Brazilian Luxury Travel Association (BLTA).
Claro que governos e o setor de turismo têm sua responsabilidade, e ajuda que nas empresas em geral seja crescente a importância do ESG (sigla em inglês para governança ambiental, social e corporativa). Mas nós, viajantes, podemos fazer a nossa parte. Na prática, algumas ações podem tornar o turismo mais sustentável:
1. Diversificação de destinos
O mundo tem muita gente e tem sempre alguém querendo ir a Orlando, Lisboa ou Buenos Aires. Mas me chama atenção que os destinos mais buscados por brasileiros sejam praticamente os mesmos há mais de 1 década. De tempos em tempos, aparecem uns novos, caso de Maldivas e Lençóis Maranhenses, que vieram com tudo durante a pandemia e caíram no gosto do viajante do Brasil. É delicioso descobrir lugares, fora das rotas muito conhecidas, e aproveitar os destinos genuinamente sem filas ou espaços lotados.
2. Fora da alta temporada
Caso seu destino seja badalado, procure viajar numa época fora das férias escolares, a alta temporada para viagens no Brasil. Para fazer esqui no Chile ou na Argentina, obviamente você tem de ir no inverno, porém pode tentar evitar julho, por exemplo. Existem casos, claro, em que não há escapatória: para ir a uma festa junina no Nordeste, você precisa embarcar em junho. O que dá para escolher são datas menos concorridas.
3. Proximidade com a comunidade
Turismo de base comunitária, em essência, é o tipo de viagem que leva renda diretamente para quem é visitado. Pois as pessoas estão no centro do roteiro. A Vivalá, por exemplo, estruturou roteiros assim para várias áreas do país; entre elas, a Chapada dos Veadeiros (GO), incluindo contato com povos do cerrado.
4. Atividades temáticas
Se você não se vê hospedado na casa de moradores, pode incluir e até organizar suas viagens com atividades mais próximas de comunidades relacionadas a algum assunto de interesse seu. Um exemplo são as rotas de café pelo Brasil, em Minas Gerais, São Paulo e em outros estados. Esse tipo de viagem também leva renda para os lugares visitados.
5. Segmentação de roteiros
Durante a pandemia, publiquei matérias especiais sobre afroturismo (novembro de 2020) e turismo indígena (maio de 2021) aqui no Estadão. Atualmente, os 2 temas ganharam pautas e espaço nas viagens, o que só contribui para um turismo melhor. Quanto mais gente for inserida no setor, mais sustentável tende a ficar.
6. Compras da produção local
Uma boa maneira de ajudar o lugar visitado é comprar souvenir produzido localmente. Artesanato, roupas, doces, biscoitos e bebidas são ótimas ideias de lembrancinhas e costumam alongar a relação de quem compra com o destino. Afinal, toda vez em que você olhar o objeto em casa, vestir aquela peça e comer ou beber o que trouxe vai reviver um pouco a viagem.
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Importante: lembre que o preço maior se deve ao objeto ser produzido artesanalmente e não em escala como o souvenir que costuma ser mais barato. No entanto, dá para procurar uma peça acessível ao seu poder aquisitivo. Meus olhos brilharam com a cestaria na Galeria Amazônica, em Manaus, mas fiquei feliz com uma pulseira para mim e uma camiseta para o Fernando, por contribuir com as tribos indígenas e trazer um pouco da Amazônia com a gente.
7. Uso de garrafinha reutilizável
O calor está implacável no verão do Hemisfério Norte e vem com tudo quando chega por aqui. Adote uma garrafinha reutilizável e ponha na bagagem. Isso permite que você faça refil de água, evitando o uso de dezenas de garrafas plásticas. Tem umas com revestimento de aço mais forte que mantêm a água gelada por horas.
O Iberostar, resort na Praia do Forte all-inclusive, já usa bebedouros nos andares de apartamentos há uns anos. Não existe máquina de gelo, por que não pode ter bebedouro certificado? Achei super interessante que o resort no litoral baiano também deixa bonitas garrafas de vidro nos quartos e você pode encher no corredor quando precisa.
CHECK OUT
Combustível alternativo em navios novos
Duas indústrias poluentes do turismo vêm buscando fontes alternativas de energia: aviação e cruzeiros. Modelos mais novos de navios de companhias como Norwegian, MSC, Royal e Costa, vêm testando novos combustíveis sustentáveis, caso do Gás Natural Liquefeito (GNL).
De acordo com a Associação Internacional de Cruzeiros Marítimos (Clia, na sigla em inglês), 32 projetos-piloto e iniciativas colaborativas estão em desenvolvimento com produtores de combustíveis sustentáveis e empresas de motores.
Registro SAF para companhias aéreas
O uso de Sustainable Aviation Fuel (SAF) é tido pela indústria como a solução para descarbonizar a aviação. Agora em junho a Associação do Transporte Aéreo Internacional (Iata, na sigla em inglês) anunciou que pretende lançar o SAF Registry (Registro SAF) no primeiro trimestre de 2025 para acelerar a adoção de combustíveis sustentáveis na aviação.
A medida permitirá que as empresas contabilizem as reduções e possam comprar SAF independentemente de onde ele foi fabricado - a Iata trabalha com organizações de certificação e produtores de combustível para padronizar dados. Boeing, Airbus, Latam e outras 16 companhias aéreas já manifestaram apoio ao Registro SAF. Segundo a Iata, estima-se que esse combustível responderá por até 65% da mitigação total de carbono necessária para zerar as emissões líquidas até 2050.
QUEM FAZ
Nathalia Molina viaja desde os 5 anos, adora café da manhã e aprecia um bom serviço no turismo. Essencialmente urbana, também tem seus dias de paisagem natural. É jornalista de viagem há 20 anos e ganhou 4 vezes o prêmio da Comissão Europeia de Turismo. Em 2011, criou o Como Viaja: acompanhe no Instagram @ComoViaja e em comoviaja.com.br
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